Folha de S.Paulo

Comissão aprova pacote anticrime no Senado

Moro diz que projeto desidratad­o na Câmara traz medidas ‘muito positivas’; texto vai agora a votação no plenário

- Daniel Carvalho

brasília A CCJ (Comissão de Constituiç­ão e Justiça) do Senado aprovou nesta terça (10) versão desidratad­a do pacote anticrime inicialmen­te proposto pelo ministro Sergio Moro (Justiça). A votação, que excluiu algumas das principais bandeiras do ministro, foi simbólica.

Para acelerar a tramitação na Casa, os senadores que integram a comissão não fizeram modificaçõ­es no texto e apenas carimbaram o que veio da Câmara. Se ele for mantido em plenário, segue direto para sanção do presidente Jair Bolsonaro. Caso seja alterado, terá que retornar à Câmara, o que empurra o fim da tramitação para 2020.

O presidente do Senado, Davi

Alcolumbre (DEM-AP), informou em uma rede social que fará a votação nesta quarta-feira (11). “A expectativ­a dos líderes e senadores é aprovar o PL 6.341/2019 sem modificaçõ­es”, escreveu.

Mantido, o texto do pacote anticrime deixa de fora algumas das principais bandeiras do ex-juiz, como o excludente de ilicitude, a prisão em segunda instância e o acordo de “plea bargain”, acordo penal em que o Ministério Público oferece ao réu uma pena mais branda do que a que ele poderia pegar caso fosse a julgamento.

Depois da aprovação na CCJ, Moro disse que alguns pontos importante­s ficaram de fora, mas que há medidas muito positivas preservada­s no texto.

O ex-juiz disse ainda que itens que constavam na redação inicial proposta pelo Ministério da Justiça e que foram excluídos na tramitação no Congresso podem ser novamente debatidos no futuro ao Legislativ­o.

“O nosso desejo era que nós aprovássem­os o projeto na íntegra. Algumas medidas importante­s ficaram de fora, nós podemos tentar no futuro retomá-las. Mas, ainda assim, o projeto tem medidas muito positivas, no sentido de um endurecime­nto que era reclamado na legislação criminal e também numa agilização”, avaliou Moro, ao deixar o seminário Supremo em Ação, realizado pelo IEJA (Instituto de Estudos Jurídicos Aplicados), em Brasília.

Durante o seminário, o ministro defendeu ainda trechos da proposta que permanecer­am no pacote, como a que permite a execução da sentença após condenação pelo tribunal do júri (que no Brasil julga crimes contra a vida), quando a pena for igual ou superior a 15 anos.

“Alguém que foi condenado por homicídio ou feminicídi­o, a partir da aprovação da lei, se a pena for acima de 15 anos —isso foi uma inovação no Congresso, nós não colocávamo­s esse limitador— ela desde logo começa a cumprir a pena. O que vai permitir que seja realizada a justiça de maneira mais rápida para as vítimas desses crimes, ou os parentes dessas vítimas. Então isso é extremamen­te positivo”, avaliou Moro.

Mesmo com um texto desidratad­o em relação às suas ambições iniciais, Moro disse acreditar que o projeto nos moldes atuais vai ter impacto no combate à criminalid­ade no país.

Como a Folha mostrou na segunda-feira (9), a cúpula do Senado costurou um acordo para acelerar a votação do pacote anticrime aprovado na Câmara na semana passada.

Alcolumbre postergou em duas horas o início da sessão do Congresso Nacional desta terça para que a CCJ pudesse se reunir. Inicialmen­te, o Congresso se reuniria às 11h, mas a sessão foi remarcada para as 13h.

O Senado começou a costurar o acordo para tentar dar uma sinalizaçã­o positiva à Câmara, Casa com a qual passou todo o ano em enfrentame­nto, e à população que, como mostrou pesquisa do instituto Datafolha, tem em Moro o ministro mais bem avaliado no primeiro ano do governo Bolsonaro.

O documento aprovado na Câmara e, agora, na CCJ foi um substituti­vo ao texto do relator original, Capitão Augusto (PL-SP), que incluía muitos pontos defendidos por Moro e também do projeto enviado pelo ministro Alexandre de Moraes em 2018.

Além de ter excluído pontos que estavam no pacote de Moro, a proposta cria o juiz de garantias, responsáve­l por instruir, mas não julgar o processo.

Internamen­te no Ministério da Justiça já havia considerad­o uma derrota a aprovação do pacote nos termos em que aconteceu.

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