Com corte inédito de receita, Cruzeiro terá desafio para se sustentar em 2020
são paulo, rio de janeiro e belo horizonte Rebaixado pela primeira vez no Brasileiro e vivendo a pior crise financeira da sua história, o Cruzeiro estreará na Série B em 2020 como o primeiro clube grande a enfrentar o corte de arrecadação com direitos de TV.
A redução pode chegar a 60% do orçamento. Em um ano sem títulos nacionais, a equipe já teve diminuição na receita em 2019. No ano passado, R$ 185 milhões do total de R$ 322 milhões arrecadados vieram de cotas de TV.
O modelo de contrato que o Grupo Globo passou a adotar em 2019 determina que parte do valor recebido pelos clubes pelos direitos de transmissão —tanto na TV aberta quanto na fechada— depende da presença deles na Série A.
Pelo novo acordo, valido até 2022, 40% do valor pago pela Globo é igual para todos os clubes, 30% depende do número de transmissões e outros 30% da performance do clube no campeonato. Somente quem terminar classificado até o 16º lugar recebe essa parcela ano seguinte. Os rebaixados ficam sem nada.
A mudança derrubou a cláusula conhecida como paraquedas, que valia até 2018 e garantia aos times o mesmo valor das cotas da Série A no primeiro ano na segunda divisão.
Esse dispositivo ajudou outros grandes a ficarem apenas um ano na Série B. Após serem rebaixados, o Internacional recebeu R$ 60 milhões em 2017, enquanto o Vasco ganhou R$ 100 milhões em 2016.
Com as novas regras, times rebaixados podem optar por receber o valor fixo pago a todos na disputa (R$ 8 milhões) ou ficar com valores correspondentes à venda de jogos em pay-per-view (em 2019, cerca de R$ 30 milhões).
À Folha, o Cruzeiro disse que irá sentar com a Globo para negociar valores. Ainda sem aprovar as contas de 2018, o clube não sabe estimar a receita e o rombo da dívida que terá de equilibrar em 2020.
A cota de TV do ano que vem já terá desconto, porque em 2018 a gestão do presidente Wagner Pires de Sá pediu antecipação parcial das verbas de TV até 2022. A informação foi confirmada pelo clube.
O Profut (Programa de Modernização da Gestão de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro) proíbe antecipação de receitas referentes a períodos posteriores ao fim da gestão corrente, exceto para percentual equivalente a 30% da receita do primeiro ano de gestão. Pires de Sá foi eleito para o período 2018-2020.
Em uma projeção feita por Cesar Grafietti, consultor de finanças e gestão do esporte, o corte na verba da TV será a maior diferença em 2020.
A receita total clube deve chegar a R$ 137 milhões no próximo ano, considerando cota de TV, publicidade e venda de atletas igual à média da última década, equivalente a 42% da receita de 2018.
A situação do Cruzeiro é mais difícil do que a de outros grandes rebaixados, na avaliação dele, mas não chega a ser exatamente desconfortável em comparação aos rivais de 2020, já que as receitas de clubes da Série B costumam chegar a até R$ 60 milhões.
“A gente está falando de um clube que deve receber entre R$ 100 milhões e 120 milhões de receita e, se vender atletas, o valor pode aumentar. Acho que a grande questão do Cruzeiro é repensar seus custos e fazer com que caibam dentro desses valores”, diz Grafietti.
Um levantamento do Itaú BBA aponta que a dívida do Cruzeiro cresceu 41% de 2017 a 2018, chegando a R$ 469 milhões. Considerando débitos, a origem deles e como é feita a gestão do clube, estudo da consultoria legislativa da Câmara dos Deputados estimou que o agremiação levaria 200 anos para quitar suas dívidas.
Além de questões legais em aberto, outro ponto em discussão na reestruturação do Cruzeiro será o elenco grande e caro, com nomes como Fred e Thiago Neves —afastado, o meia disse à Fox Sports que aceitaria reduzir o salário, mas Zezé Perrella, gestor de futebol, diz que o atleta não vestirá mais a camisa do time.
A renegociação dos contratos de jogadores é um dos pontos centrais da reestruturação, segundo Perrella. Ele fez a análise logo após a derrota para o Palmeiras no domingo (8), resultado que sacramentou o rebaixamento.
“É hora de cada um entender que o Cruzeiro não tem condição de bancar isso. Vou ter que conversar com aquelas pessoas com salário fora da realidade e tentar alguma coisa, para poder recomeçar dentro da realidade”, disse.