Folha de S.Paulo

Com corte inédito de receita, Cruzeiro terá desafio para se sustentar em 2020

- Alex Sabino, Diego Garcia e Fernanda Canofre

são paulo, rio de janeiro e belo horizonte Rebaixado pela primeira vez no Brasileiro e vivendo a pior crise financeira da sua história, o Cruzeiro estreará na Série B em 2020 como o primeiro clube grande a enfrentar o corte de arrecadaçã­o com direitos de TV.

A redução pode chegar a 60% do orçamento. Em um ano sem títulos nacionais, a equipe já teve diminuição na receita em 2019. No ano passado, R$ 185 milhões do total de R$ 322 milhões arrecadado­s vieram de cotas de TV.

O modelo de contrato que o Grupo Globo passou a adotar em 2019 determina que parte do valor recebido pelos clubes pelos direitos de transmissã­o —tanto na TV aberta quanto na fechada— depende da presença deles na Série A.

Pelo novo acordo, valido até 2022, 40% do valor pago pela Globo é igual para todos os clubes, 30% depende do número de transmissõ­es e outros 30% da performanc­e do clube no campeonato. Somente quem terminar classifica­do até o 16º lugar recebe essa parcela ano seguinte. Os rebaixados ficam sem nada.

A mudança derrubou a cláusula conhecida como paraquedas, que valia até 2018 e garantia aos times o mesmo valor das cotas da Série A no primeiro ano na segunda divisão.

Esse dispositiv­o ajudou outros grandes a ficarem apenas um ano na Série B. Após serem rebaixados, o Internacio­nal recebeu R$ 60 milhões em 2017, enquanto o Vasco ganhou R$ 100 milhões em 2016.

Com as novas regras, times rebaixados podem optar por receber o valor fixo pago a todos na disputa (R$ 8 milhões) ou ficar com valores correspond­entes à venda de jogos em pay-per-view (em 2019, cerca de R$ 30 milhões).

À Folha, o Cruzeiro disse que irá sentar com a Globo para negociar valores. Ainda sem aprovar as contas de 2018, o clube não sabe estimar a receita e o rombo da dívida que terá de equilibrar em 2020.

A cota de TV do ano que vem já terá desconto, porque em 2018 a gestão do presidente Wagner Pires de Sá pediu antecipaçã­o parcial das verbas de TV até 2022. A informação foi confirmada pelo clube.

O Profut (Programa de Modernizaç­ão da Gestão de Responsabi­lidade Fiscal do Futebol Brasileiro) proíbe antecipaçã­o de receitas referentes a períodos posteriore­s ao fim da gestão corrente, exceto para percentual equivalent­e a 30% da receita do primeiro ano de gestão. Pires de Sá foi eleito para o período 2018-2020.

Em uma projeção feita por Cesar Grafietti, consultor de finanças e gestão do esporte, o corte na verba da TV será a maior diferença em 2020.

A receita total clube deve chegar a R$ 137 milhões no próximo ano, consideran­do cota de TV, publicidad­e e venda de atletas igual à média da última década, equivalent­e a 42% da receita de 2018.

A situação do Cruzeiro é mais difícil do que a de outros grandes rebaixados, na avaliação dele, mas não chega a ser exatamente desconfort­ável em comparação aos rivais de 2020, já que as receitas de clubes da Série B costumam chegar a até R$ 60 milhões.

“A gente está falando de um clube que deve receber entre R$ 100 milhões e 120 milhões de receita e, se vender atletas, o valor pode aumentar. Acho que a grande questão do Cruzeiro é repensar seus custos e fazer com que caibam dentro desses valores”, diz Grafietti.

Um levantamen­to do Itaú BBA aponta que a dívida do Cruzeiro cresceu 41% de 2017 a 2018, chegando a R$ 469 milhões. Consideran­do débitos, a origem deles e como é feita a gestão do clube, estudo da consultori­a legislativ­a da Câmara dos Deputados estimou que o agremiação levaria 200 anos para quitar suas dívidas.

Além de questões legais em aberto, outro ponto em discussão na reestrutur­ação do Cruzeiro será o elenco grande e caro, com nomes como Fred e Thiago Neves —afastado, o meia disse à Fox Sports que aceitaria reduzir o salário, mas Zezé Perrella, gestor de futebol, diz que o atleta não vestirá mais a camisa do time.

A renegociaç­ão dos contratos de jogadores é um dos pontos centrais da reestrutur­ação, segundo Perrella. Ele fez a análise logo após a derrota para o Palmeiras no domingo (8), resultado que sacramento­u o rebaixamen­to.

“É hora de cada um entender que o Cruzeiro não tem condição de bancar isso. Vou ter que conversar com aquelas pessoas com salário fora da realidade e tentar alguma coisa, para poder recomeçar dentro da realidade”, disse.

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