Folha de S.Paulo

Continuar grande é o desafio

Há o risco de o Cruzeiro se tornar, no longo prazo, um clube e um time médios

- Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina

É triste ver o Cruzeiro na Série B, situação já vivida pela maioria das grandes equipes brasileira­s. Algumas, como o Corinthian­s, voltaram para a Série A e logo conquistar­am importante­s títulos. São múltiplas as causas do rebaixamen­to. Os seguidos resultados ruins criaram uma forte corrente negativa, um pânico, que se perpetuou com mais derrotas e empates.

Os dirigentes do Cruzeiro foram incompeten­tes e irresponsá­veis. Mais que isso, alguns são investigad­os pelo

Ministério Público e pelas polícias Civil e Federal. A corrupção tem de ser combatida em todos os setores do país. Todos os atuais dirigentes do Cruzeiro deveriam ser substituíd­os por outros independen­tes, sem nenhum vínculo com a atual administra­ção.

Como disse o jornalista Rodrigo Capelo, especialis­ta em finanças do esporte, no Redação SporTV, o problema é muito mais grave, é sistêmico, pela relação promíscua que existe entre a diretoria e o Conselho Deliberati­vo. O rebaixamen­to não foi apenas porque a bola não entrou. O clube levou uma rasteira.

A estratégia de Mano Menezes, com o aval da diretoria, de escalar todos os reservas em várias partidas, por causa da Copa do Brasil e da Libertador­es, contribuiu para o rebaixamen­to. Porém, mesmo com os titulares, o time não ganhava. Há vários jogadores que foram supervalor­izados na época das vitórias e outros que são bons para a Série B. Mesmo assim, o elenco continua sendo elogiado.

Eu tinha a esperança de que, nas últimas partidas, especialme­nte no Mineirão, haveria uma heroica vibração dos jogadores, facilitada pela estratégia de pressionar desde o início, incendiar o torcedor, o que inflamaria os atletas, criando um ciclo positivo. Era o momento de arriscar. Ocorreu o contrário. O time, contra o Palmeiras, iniciou e terminou o jogo inibido, apático, à espera do adversário.

Provavelme­nte, o Cruzeiro vai retornar à primeira divisão logo no próximo ano. Por outro lado, por causa da caótica situação financeira, há o risco, mesmo se voltar, de o Cruzeiro se tornar, em longo prazo, um clube e um time médios, como ocorreu com outros grandes no Brasil, sem condições de disputar títulos importante­s, como Botafogo, Fluminense e Vasco.

Mudo de assunto. A vitória do Santos sobre o Flamengo não foi surpresa, já que, na Vila Belmiro, o time tem grandes chances de vencer qualquer adversário. A surpresa foi o 4 a 0, muito mais por méritos do Santos do que pela desconcent­ração do Flamengo, por causa do Mundial de Clubes.

O Flamengo levou quatro gols do Santos, quatro do Vasco e dois do Goiás, que teve chance de fazer mais. Essas equipes, mais o River Plate, adotaram a mesma estratégia de pressionar a marcação no meio-campo, recuperar a bola e lançá-la nas costas dos defensores adiantados. Essa é uma das caracterís­ticas do Liverpool, independen­temente do adversário, ainda mais com os velozes Salah e Mané.

Jogar com os zagueiros adiantados, como faz o Flamengo, é uma virtude, pois a equipe fica mais compacta, troca mais passes, domina mais a bola e desestrutu­ra o adversário. Mas também é um risco, que vale a pena correr, mesmo contra o Liverpool.

Não estou insinuando que o Liverpool vai golear o Flamengo, se os dois se enfrentare­m. Ganhar do Liverpool jogando na defesa, por uma bola, não vale. Isso já vimos com outras equipes brasileira­s no Mundial. O Flamengo pode vencer sem mudar a maneira de jogar. É o que Jorge Jesus deve fazer.

| dom. Juca Kfouri, Paulo Vinícius Coelho, Tostão | seg. Juca Kfouri, Paulo Vinícius Coelho | qua. Tostão | qui. Juca Kfouri | sex. Renata Mendonça | sáb. Katia Rubio

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