MAM revisita herança de Antonio Bandeira
Grande retrospectiva do pintor cearense em São Paulo lança novo olhar sobre classificações de suas pinturas abstratas
são paulo Morto aos 45 anos, em 1967, o pintor cearense Antonio Bandeira ficou conhecido como um dos maiores expoentes do abstracionismo informal no país. Mas uma exposição que o Museu de Arte Moderna de São Paulo inaugura nesta quarta (11) busca discutir essa herança.
Afinal, diz Regina Teixeira de Barros, à frente da mostra com Giancarlo Hannud, os padrões em forma de jogo da velha que se alastram pelas superfícies de muitas de suas telas mostram uma construção geométrica planejada, que se afasta da abstração lírica —que, diferente da abstração geométrica, tem pincelada livre.
Por outro lado, o próprio Bandeira não se considerava um pintor abstrato, e em diversas entrevistas disse que partia de paisagens urbanas e naturais para criar suas obras.
“Acho que esse confronto entre abstração e figuração é uma das coisas que permeia toda a obra, assim como a ambiguidade entre planejamento e acaso”, diz Teixeira de Barros.
As tendências são visíveis nos cerca de 60 trabalhos reunidos na exposição.
Aos 23 anos, então uma jovem promessa da pintura, Bandeira se mudou de Fortaleza para o Rio. Demorou um ano até que ganhasse uma bolsa de estudos para estudar em Paris, onde morou até o fim da vida, entre idas e vindas. Foi ali que migrou das telas em que retratava o cotidiano da periferia para a pintura abstrata, influenciado pelos franceses Camille Bryen e George Mathieu e o alemão Wols.
A maioria dos trabalhos lida com combinações entre um plano mais abstrato, formado por camadas de respingos de tinta e estênceis, e outro de linhas e formas geométricas.
À medida que a carreira de Bandeira avança, suas criações cada vez mais priorizam um ou outro plano, com obras em que os riscos de tinta soterram o restante da pintura ou os padrões geométricos são substituídos por formas livres, caso do “Autorretrato”.
A evolução temporal exposta também é testemunha de experimentações cada vez mais radicais, com materiais como flãs de jornais, papelão e juta.
Essas transgressões, afirma Teixeira de Barros, são prova da vivacidade da obrado artista,situ adano limiar entre a arte moderna e a contemporânea.
A exposição é a primeira de Bandeira num museu paulista em quase 15 anos —a última foi no Masp, em 2005. E encerra um ano em que, além de seu tradicional Panorama, o MAM teve quase todas as mostras feitas com o acervo.
Além disso, o período foi marcado pela saída de Milú Villela da presidência do museu após 24 anos —o bastão foi passado para a advogada e colecionadora Mariana Guarini Berenguer, que ainda não anunciou seus planos para a instituição. O ano que vem, porém, traz algumas promessas, como uma retrospectiva de Antonio Dias e uma individual de Laura Lima.