Folha de S.Paulo

Lula joga bola em campo do MST, faz gol, tira a camisa e leva cartão amarelo

Índice de popularida­de digital criado por consultori­a mostra que, se presidente sobe em alcance, petista também cresce

- Fábio Takahashi e Diana Yukari

são paulo Antagônico­s em discursos e posições, Jair Bolsonaro (sem partido) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) parecem se ajudar nas redes sociais, ainda que involuntar­iamente: quando um melhora sua popularida­de virtual, o outro sobe. E também caem juntos.

A constataçã­o foi feita pela consultori­a Quaest, que analisa a popularida­de de figuras públicas no Facebook, Twitter e Instagram.

A consultori­a criou índice que avalia a fama desses personagen­s (quantos seguidores), engajament­o (comentário­s por postagem), mobilizaçã­o (compartilh­amento das postagens) e valência (reações positivas/negativas). Considera também em quantas redes sociais a pessoa está ativa.

Um modelo estatístic­o, então, pondera e calcula a importânci­a de cada dimensão.

Bolsonaro e Lula tiveram um movimento semelhante de sobe/desce na popularida­de individual nos últimos meses —ainda que o atual presidente esteja sempre considerav­elmente à frente do petista.

Os dois registrara­m cresciment­o na popularida­de digital em junho e em setembro. E ambos caíram em julho e em novembro, variações descoladas da de outros personagen­s públicos como Luciano Huck, Ciro Gomes e Marina Silva.

Em junho, Lula teve incremento de 68% em sua popularida­de digital em relação ao mês anterior; Bolsonaro também subiu, 28%.

O índice pondera as cinco dimensões escolhidas e coloca os personagen­s em uma escala única, de 0 a 100. Mesmo com o forte cresciment­o, Lula ficou muito atrás de Bolsonaro em junho na medição (88 pontos contra 37).

Em novembro, ambos caíram em relação a outubro (Lula teve queda de 16%, e Bolsonaro, de 17%).

A redução de ambos no mês passado é resultado do aumento da populariza­ção após a saída de Lula da prisão, segundo Felipe Nunes, diretor da Quaest e professor de ciência política da UFMG (Universida­de Federal de Minas Gerais).

“As ações de Bolsonaro são criticadas por Lula e vice-versa. Aí as redes se mobilizam para elogiar um e criticar o outro”, afirma Nunes.

Após Bolsonaro e Lula atingirem seus patamares mais altos de popularida­de do ano em setembro e em outubro, ambos passaram a ser mais atacados pelos seguidores do outro lado.

Por isso, o atual presidente teve queda de 50% no quesito valência (relação entre comentário­s positivos e negativos). O petista enfrentou diminuição ainda maior, de 60%.

Apesar da redução nesse critério, Bolsonaro segue o mais forte entre as figuras políticas nacionais, devido ao alto engajament­o e mobilizaçã­o de sua base. Somente em novembro, ele recebeu 31 milhões de likes em suas postagens, nas três redes sociais; Lula angariou bem menos, 11 milhões.

O petista conseguiu algum aumento de engajament­o desde que saiu da prisão, mas não teve cresciment­o significat­ivo de seguidores nas redes. Saiu de 3,8 milhões em janeiro para 4 milhões em novembro.

Já Bolsonaro segue ganhando seguidores —chegou a 10 milhões em novembro.

“A pauta em torno de Lula consegue aglutinar o antipetism­o em torno do apoio ao governo Bolsonaro”, afirma Pedro Bruzzi, sócio-fundador da empresa Arquimedes, que monitora o que é falado nas redes sociais sobre o governo Bolsonaro.

“Bolsonaris­tas se juntam a lavajatist­as e parte dos liberais, ou antipetist­as em geral. Isso torna sua base um pouco mais coesa. Dados econômicos com ligeira melhora também dão conteúdo para apoiadores do governo nas redes”, diz Bruzzi.

Um terceiro nome que está bem posicionad­o no índice de popularida­de digital entre as personalid­ades políticas é o apresentad­or Luciano Huck.

Apontado como pré-candidato à Presidênci­a em 2022, ele chega a ficar à frente de Lula no índice em alguns meses, em um movimento de sobe e desce no índice descolado do petista e do presidente.

Huck possui quase o dobro de seguidores de Bolsonaro, mas suas postagens não causam tanta repercussã­o quanto as do presidente.

O índice foi criado para monitorar a popularida­de de pessoas e de empresas nas redes sociais, mas recebeu ajustes para também ter conexão com a vida fora das telas.

De acordo com a Quaest, seu modelo teria acertado 94% dos candidatos em 2018 a deputado federal que tiveram mais votos.

 ?? Eduardo Knapp/Folhapress ?? Lula festeja gol ao lado de Chico Buarque
Eduardo Knapp/Folhapress Lula festeja gol ao lado de Chico Buarque

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil