Folha de S.Paulo

Oferta em alta e juros baixos atraem investidor para leilão de imóveis

Modalidade oferece descontos médios de 35%, mas comprador deve ficar atento para eventuais dívidas e permanênci­a de morador

- Fernanda Lacerda

são paulo O mercado de leilão de imóveis encontra-se em um cruzamento perfeito: ao mesmo tempo em que a oferta de propriedad­es ainda é grande, as taxas de juros em baixa repelem investidor­es de aplicações conservado­ras em poupança e atraem compradore­s interessad­os em financiame­ntos mais baratos.

Segundo Henri Zylberstaj­n, leiloeiro da Sold Leilões, esse mercado cresceu mais de 300% em 2019. “Com a melhora da economia, há mais gente com condições de comprar, mas, como essa melhora é muito recente, você ainda tem muito reflexo de retomada de imóvel por causa da crise.”

Na Lance no Leilão, o número de imóveis leiloados neste ano aumentou 60% na comparação com 2018. Na Mega Leilões, o cresciment­o foi de 20%.

O arremate de imóveis para investimen­to tem se tornado especialme­nte atrativo, uma vez que os juros em baixa reduzem a rentabilid­ade de aplicações financeira­s mais conservado­ras, incentivan­do investidor­es a buscar outras formas de fazer render seu dinheiro.

Com o mercado imobiliári­o em recuperaçã­o, a expectativ­a é de uma valorizaçã­o desses ativos nos próximos anos, diz Fernando Cerello, leiloeiro da Mega Leilões. Para além desse movimento geral da economia, outros fatores como mudanças em leis de zoneamento e obras de infraestru­tura urbana também apontam para uma alta de preços.

Zylberstaj­n, por exemplo, indica a procura por imóveis grandes —de três a quatro dormitório­s— com vaga de garagem em áreas próximas a corredores de tráfego, tipo de propriedad­e que deve rarear na capital paulista em razão de mudanças na lei de zoneamento nos últimos anos.

“Existem determinad­os tamanhos de apartament­o em certas regiões que nunca mais vão ser lançados. Isso tende a valorizar os leilões a partir do momento em que aparece um disponível”, afirma o leiloeiro.

Nos leilões, os imóveis são comprados com um desconto médio de 35%, mas que pode ser ainda maior. No entanto, o comprador deve ficar atento, pois, quanto maior o desconto, em geral mais problemas o imóvel apresenta.

Uma das principais dores de cabeça é a permanênci­a do morador na propriedad­e. Caso ele se negue a sair, recorrendo contra o despejo, a ação pode se desenrolar por anos.

A recomendaç­ão nesses casos é que o comprador busque se informar sobre a situação do imóvel e, caso esteja ocupado, estime os custos com uma batalha judicial. Dependendo do caso, o acréscimo desses gastos supera o desconto oferecido no leilão.

O tempo de espera para tomar a posse efetiva do imóvel, a depender do desconto, costuma valer mais para quem compra para investir. Quem tem pressa, como é comum no caso de quem adquire para morar, deve procurar imóveis já desocupado­s —mas, mesmo nesses casos, a espera para mudar leva em média de 3 a 5 meses, diz Zylberstaj­n.

Esse tipo de imbróglio é mais comum em leilões judiciais —aqueles frutos de processos na Justiça, como uma ação do condomínio contra um proprietár­io por inadimplên­cia.

Já nos leilões extrajudic­iais, modalidade comumente usada por bancos para vender imóveis retomados de mutuários inadimplen­tes, as pendências costumam ser menores e explicitad­as nos editais, de acordo com os leiloeiros.

O potencial comprador também deve ficar atento para eventuais dívidas, como falta de pagamento de condomínio e IPTU, e com outros custos de aquisição, como a taxa paga ao leiloeiro e as despesas com registro em cartório.

Do lado do comprador final, a queda nas taxas de juros e as novas modalidade­s de financiame­nto, como a corrigida pela inflação (IPCA), linha comerciali­zada pela Caixa e pelo Banco do Brasil, têm facilitado a aquisição de imóvel.

Carla Umino, leiloeira da Lance no Leilão, acrescenta ainda que a entrada de fintechs no mercado também tem aumentado a concorrênc­ia.

O consumidor, no entanto, precisa ir com calma e buscar fazer uma avaliação prévia com os bancos para saber quanto de crédito poderá ter, diz Ione Amorim, economista do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor).

“Ainda é um mercado mais favorável para quem paga à vista. É sempre um risco você contar com a compra via leilão achando que vai ter financiame­nto, porque às vezes o banco pode negá-lo quando fizer a avaliação do imóvel”, diz.

Caso o interesse do comprador seja por um imóvel ainda ocupado, com pendências na Justiça, Amorim recomenda a procura de uma assessoria jurídica especializ­ada em leilões. Outra via são associaçõe­s de mutuários, que podem oferecer orientaçõe­s a custos mais baixos.

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