Folha de S.Paulo

Praia e férias animam ‘atletas de verão’, mas há riscos à saúde

Médicos alertam para despreparo e doenças cardiovasc­ulares desconheci­das

- Patrícia Pasquini

são paulo A combinação verão e férias permite trocar o escritório pela liberdade de correr e jogar bola na praia, fazer caminhadas a beira-mar ou se exercitar em parques, mas praticar atividades físicas sem preparo ou sem conhecimen­to sobre a saúde do coração pode trazer riscos —e, em casos extremos, até levar à morte.

Para começar ou recomeçar uma atividade física é recomendáv­el procurar um médico e fazer uma avaliação, especialme­nte se o exercício for de alto impacto. A Sociedade de Cardiologi­a de São Paulo divulgou na última semana alerta sobre os riscos a que os “atletas de verão” estão sujeitos.

Segundo a entidade, ataque cardíaco fulminante é a principal causa de morte durante as atividades físicas. Se a pessoa tiver mais de 35 anos ou histórico de doença cardíaca na família, os cuidados devem ser redobrados, porque as chances de morte súbita são maiores.

O infarto pode ocorrer em qualquer idade, mas idosos têm chance maior de sobrevivên­cia porque, com o passar da idade, surgem vasos colaterais que irrigam o coração e ajudam a salvar um paciente após parada cardíaca.

“A combinação de sedentaris­mo com falta de tempo e alimentaçã­o inadequada resulta em excesso de peso. Aí vêm as promessas milagrosas de final de ano. De uma hora para a outra, a pessoa resolve praticar esporte sem saber como está a pressão, a glicemia e o coração”, afirma o presidente da Sociedade de Cardiologi­a do Estado de São Paulo, o médico José Francisco Kerr Saraiva.

A editora de livros Luciana Pereira dos Santos Cunha, 49, de Petrópolis (RJ), é a típica atleta de verão. Há dois anos, é adepta da corrida e caminhada seis vezes por semana, 1 h 20 por dia, mas não o ano inteiro.

“No outono e no inverno não faço exercícios porque aqui é muito frio. Volto na primavera”, diz Cunha, que recomeçou as atividades físicas há 15 dias.

O resto do corpo também sofre com o excesso repentino de exercícios sem orientação de um profission­al.

“Há uma sobrecarga das articulaçõ­es, porque o corpo não está acostumado com o exercício realizado. Existe o risco de lesões musculares, por falta de flexibilid­ade e coordenaçã­o motora, e aumentam as chances de lesões de ligamento de joelhos e ombros”, diz Karina Hatano, médica com mestrado em medicina do exercício e do esporte.

Durante o treino, de acordo com os especialis­tas, é preciso se hidratar e repor os sais. Se a atividade física durar até uma hora, com pequena e média intensidad­e, basta beber água. Caso seja longa e intensa, é recomendáv­el acrescenta­r isotônico ou água de coco.

Ao final, é preciso repor energia e a proteína. A quantidade depende da intensidad­e, tempo de treino, índice de gordura e massa muscular. Um nutricioni­sta pode indicar o cardápio ideal para cada um.

Bom senso é um ótimo parceiro do esporte. “Não vou dizer que é preciso consultar um médico toda vez que atravessar a avenida Paulista, mas é importante procurar um médico antes de iniciar exercícios. O médico do posto de saúde pode avaliar”, diz Saraiva.

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