Folha de S.Paulo

Após falha em órbita, cápsula da Boeing pousa com sucesso nos EUA

- Salvador Nogueira folha.com/mensageiro­sideral

Às 9h58 de domingo (22), pelo horário de Brasília, a Boeing se tornou a primeira entidade americana, pública ou privada, a realizar um pouso bem-sucedido em terra de uma cápsula destinada a voos tripulados. Os russos descem há décadas em solo firme com suas Soyuz, mas até agora nenhuma cápsula americana havia demonstrad­o essa capacidade.

Apesar de terem passado o fim de semana todo martelando tudo que deu certo no voo, é inegável o gosto amargo deixado pela missão, que faz parte do programa comercial tripulado da Nasa.

O objetivo declarado da cápsula Starliner, lançada pela Boeing na sexta-feira (20), era acoplar à Estação Espacial Internacio­nal, deixar alguns suprimento­s (inclusive os presentes de Natal dos astronauta­s) e trazer de volta experiment­os. Contudo, logo após o lançamento, uma falha no relógio interno da cápsula automatiza­da (que apresentou um erro misterioso de nada menos que 11 horas) impediu o acionament­o correto dos propulsore­s para ir até a estação. A missão de dez dias se transformo­u num exercício de dois.

E essa foi a boa notícia; se a Starliner não tivesse pelo menos entrado em órbita, teria retornado à Terra apenas minutos depois, o que teria sido no mínimo embaraçoso. Felizmente não aconteceu, muitos dos objetivos listados para o voo puderam ser cumpridos e, fora a necessidad­e de entender e corrigir a anomalia, a Boeing segue no curso para realizar seu primeiro voo tripulado em 2020, numa corrida particular contra a SpaceX para ver qual será a primeira empresa privada do mundo a levar astronauta­s à Estação Espacial Internacio­nal.

Ainda que velada, a torcida da agência espacial americana está com a Boeing, que tem um contrato mais gordo (US$ 4,2 bilhões contra US$ 2,8 bilhões da SpaceX) e tem sido menos cobrada publicamen­te pelos avanços. Ironicamen­te, apesar de ambas as companhias enfrentare­m dificuldad­es, a SpaceX parece estar em melhor forma para chegar lá primeiro.

Sua cápsula destinada a levar astronauta­s, Crew Dragon, já realizou um voo não tripulado à estação (que de fato chegou lá) em março, e o programa prevê apenas mais um voo de teste de segurança (que deve ocorrer no começo de janeiro), para verificar a capacidade de ejeção da cápsula em caso de falha do foguete durante a fase de máxima pressão aerodinâmi­ca.

Há uma bandeira dos EUA embarcada na ISS que foi deixada lá pela última missão dos ônibus espaciais, em 2011. Ela será trazida de volta pela primeira missão tripulada americana desde então. Ao que tudo indica, caberá à SpaceX trazê-la de volta para casa. Com o pouso seguro de domingo, contudo, a Boeing segue na disputa. Salvo algum evento catastrófi­co, a reta de chegada deve ser atingida em 2020.

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