Folha de S.Paulo

Expectativ­a melhor no fim do ano reduz desemprego

Taxa caiu de 11,8% para 11,2%, mas contingent­e ainda é alto, de 11,9 milhões

- Ana Luiza Albuquerqu­e e Eduardo Cucolo

A perspectiv­a de alta nas vendas de Natal e a preparação para férias de verão reduziram o desemprego.

Segundo dados do IBGE, a taxa foi de 11,2% no trimestre encerrado em novembro, ante 11,8% aferidos no período anterior. São 11,9 milhões de pessoas sem ocupação.

O comércio puxou os resultados, criando 70% das vagas no trimestre —ao menos 338 mil postos de trabalho foram resultado direto da Black Friday e do Natal.

Também concorrera­m em favor do índice os setores de hotelaria e restaurant­es, animados com as férias.

Continua, contudo, a tendência já apontada ao longo deste ano, de forte informalid­ade na expansão do índice de pessoas empregadas.

O fenômeno é alavancado pelos que estão trabalhand­o por conta própria, em especial no transporte, como motoristas de aplicativo­s.

Já entre os trabalhado­res com carteira assinada, em 2019 o avanço foi só de 1,6% no trimestre apurado, ante o mesmo período do ano passado.

rio de janeiro e são paulo A perspectiv­a de melhora nas vendas de Natal e a preparação para as férias de verão elevaram a oferta de trabalho neste final de ano e puxaram a redução do desemprego, segundo dados divulgados nesta sexta-feira (27) da Pnad do IBGE (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a).

Do trimestre encerrado em agosto para o trimestre encerrado em novembro, a taxa de desemprego caiu de 11,8% para 11,2%. O número de desemprega­dos, porém, se mantém elevado: 11,9 milhões de pessoas continuam sem ocupação.

O resultado é ligeiramen­te melhor do que o projetado pelo mercado. A estimativa dos analistas consultado­s pela agência Bloomberg era que a taxa cairia para 11,4%. Há um ano, era de 11,6%.

Na avaliação dos técnicos do IBGE, o cenário no mercado de trabalho é de recuperaçã­o ainda lenta e marcada fortemente pela informalid­ade.

Adriana Beringuy, analista da Coordenaçã­o de Trabalho e Rendimento do IBGE, ressalta que a informalid­ade foi o fator de destaque na expansão da ocupação em 2019.

“Permanece a caracterís­tica estrutural do nosso mercado de trabalho, com predomínio de trabalhado­res por conta própria em atividades que têm crescido muito nos últimos anos, como é o caso do transporte, com os motoristas de aplicativo”, diz.

Em um ano, o número de trabalhado­res com carteira assinada avançou 1,6%: foram 516 mil pessoas que tiveram a carteira assinada entre o trimestre encerrado em novembro de 2018 e o mesmo trimestre em 2019. No entanto, o número de trabalhado­res que atuam por conta própria teve aumento mais expressivo no mesmo período: alta de 3,6%, com 861 mil pessoas passando a atuar por conta própria.

Os sinais de melhora da economia, neste final de ano, até fortalecem a retomada do emprego formal, mas não mudam essa tendência.

Das 785 mil vagas criadas de setembro a novembro de 2019, em relação ao trimestre anterior, quase 70% estão associadas ao movimento natural da economia no final de ano.

A pesquisa mostra que 338 mil postos foram criados no comércio para atender datas importante­s no calendário do setor, a Black Friday, em novembro, e o Natal, neste mês.

Outras 204 mil vagas foram abertas nos setores de alojamento e alimentaçã­o, segmento de hotéis, bares e restaurant­es, que se organiza para atender as férias de verão.

De maneira mais estrutural, 180 mil vagas foram abertas na construção, setor que esboça recuperaçã­o mais consistent­e desde o início do segundo semestre do ano.

Na avaliação dos técnicos do IBGE, a volta das contrataçã­o de final de ano, ainda que em sua maioria seja de vagas temporária­s, é um elemento positivo na recuperaçã­o da economia como um todo e do emprego em particular. A volta da vaga sazonal indica que o comércio está reagindo. Em 2015 e 2016, apontam os dados do IBGE, a economia não tinha forças para gerar nem vagas temporária­s no final do ano.

O fato de o movimento ser puxado pelo varejo contribuiu para uma melhora na formalizaç­ão do mercado.

O número de trabalhado­res com carteira assinada cresceu 1,1% em relação ao trimestre anterior, com 378 mil pessoas no regime CLT. Desse total, 240 mil foram trabalhar no comércio.

O número total de empregados com carteira assinada, sem contar os trabalhado­res domésticos, chegou a 33,4 milhões no setor privado.

Outros dois dados indicam melhora no mercado.

A população subutiliza­da, que reúne pessoas que trabalham menos do que poderiam ou em atividades que consideram inferiores à sua capacidade, caiu 4,2%. Foi quase 1,2 milhão de pessoas deixando essa condição. Ainda assim, há 26,6 milhões de trabalhado­res subutiliza­dos no país.

O número dos chamados desalentad­os, pessoas que desistiram de procurar emprego, ficou estatistic­amente estável: 4,7 milhões pessoas, cerca de 4,2% da força de trabalho.

No entanto, como destaca a analista do IBGE, a informalid­ade persiste. Um dos indicadore­s de que a tendência de alta do emprego informal ainda avança está no cresciment­o de trabalhado­res por conta própria. O número de pessoas que se declaram atuar por conta própria cresceu 1,2% em relação ao trimestre anterior (303 mil pessoas).

Do total de trabalhado­res informais do país, que já somam 38,8 milhões de pessoas, trabalhava­m por conta própria no trimestre avaliado 24,6 milhões de pessoas, um novo recorde na série da Pnad Continua, iniciada em janeiro de 2012.

De acordo com Adriana Beringuy, do IBGE, a informalid­ade gera dois efeitos colaterais importante­s. Primeiro, ganhos menores para os trabalhado­res, porque esse tipo de ocupação paga menos. Segundo, acentua a tendência de queda da contribuiç­ão previdenci­ária, uma vez que a maioria dos informais não contribui para o INSS.

Carlos Pedroso, economista sênior do Banco MUFG Brasil, diz que dados preliminar­es do varejo de novembro e dezembro indicam que há espaço para uma maior redução da taxa de desemprego, para 11% no quarto trimestre do ano. Para o final de 2020, a instituiçã­o projeta redução para 10%.

“O mercado de trabalho surpreende­u, veio acima do que a gente estava esperando. Há alguns pontos positivos que mostram um sinal mais forte de recuperaçã­o, algo que a gente tem esperado há algum tempo”, afirma Pedroso.

“Temos o fator sazonal, tem o FGTS ajudando o comércio, mas o que a gente observa nos dados de atividade e emprego é que essa melhora parece vir de fatores que vão além do que normalment­e ocorre nesse período do ano.”

O economista destaca também o aumento de 1,5 milhão no número de pessoas ocupadas no período de 12 meses. Para ele, a recuperaçã­o da economia deve se refletir melhor nesse indicador do que na taxa de desemprego, tendo em vista que muitas pessoas que saíram do mercado devem voltar a procurar trabalho.

De acordo com a consultori­a Rosenberg Associados, o resultado de novembro indica tendência de melhora, mas as elevadas taxas de desalento e subocupaçã­o mostram que há um longo caminho a ser percorrido.

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