Folha de S.Paulo

Sob Bolsonaro, registro de novas armas aumenta 48%

Em 2018, foram 47,6 mil autorizaçõ­es concedidas pela PR; até novembro deste ano, havia 70,8 mil

- Artur Rodrigues

Na esteira de medidas do governo Bolsonaro para facilitar a compra de armas, a concessão de registros em 2019 bateu o recorde das últimas décadas.

No ano passado, o número ficou em 47,6 mil. Em 2019, até novembro, já são 70,8 mil, em salto de 48%.

O registro permite ter arma em casa ou no trabalho, mas não o seu porte nas ruas.

são paulo No embalo de medidas para facilitar aquisição de armas do presidente Jair Bolso naro(s em partido ), os registros concedidos bateram recorde em 2019 e atingiram o maior número das últimas décadas.

Até novembro, os novos registros concedidos pela Polícia Federal para posse de armas aumentaram 48%, passando de 47,6 mil em todo o ano passado para 70,8 mil nos primeiros 11 meses de 2019. O númeroéo recorde ao menos desde 1997, dado mais antigo obtido pela reportagem.

Em outubro, havia 1.013.139 registros de armas ativos no país, apenas no sistema mantido pela PF( S in arm).Nes tecas o, apermissão­ép ara aposse das armas, mantidas em casa e no comércio.

Os números foram conseguido­s via Lei de Acesso à Informação e também no portal da CGU (Controlado­ria Geral da União), que abriga todos os pedidos realizados.

A conta de novas autorizaçõ­es não inclui os registros para caçadores, atiradores e colecionad­ores, concedidos pelo Exército( sistema Sigma ), também emalta.Nes tecas o,asnov asar masp assaram de cerca de 60 mil em 2018 inteiro para 65 mil nos primeiros 11 meses deste ano, um avariação de 8%.

Defensor das armas como instrument­o de defesa, o presidente já editou oito decretos relacionad­os a assuntos relacionad­os a armas. As medidas facilitam autorizaçõ­es e relaxam regras que impedem que pessoas sem porte de arma se locomovam com elas.

As medidas são criticadas por pesquisado­res da área da segurança pública, por ampliar acesso às armas e também por serem contraditó­rias entre si, gerando inseguranç­a jurídica.

Os dados mostram que o aumento vem ocorrendo ao longo dos últimos anos e se acentuou com achegada de Bolsonaro ao poder.

“Novos pedidos de licença e porte vêm aumentando faz alguns anos, ao menos desde 2017. Isso é fruto de uma promoção da arma de fogo feita por um setor da sociedade e acaba sendo catalisada pela da regulação de armas no Congresso Nacional”, diz o advogado Ivan Marques, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

De acordo com ele, o que muda é que agora esse discurso tem como garoto-propaganda o próprio presidente da República.

Os portes—que são autorizaçõ­espara circular armado— vêm tendo aumento, mas, na comparação com o ano passado, a média mensal diminuiu. Passou de 719 por mês para 635. Se comparado com 2017, porém, houve um aumento de 55%.

Também houve alta das permissões para pessoas físicas andarem armadas —a média passou de 246, em 2018, para 280 por mês (14%).

Especialis­tas afirmam que, como não há consenso em relação ao porte nem mesmo no governo, as medidas promovidas neste ano acabaram não influencia­ndo tanto em relação a este tipo de permissão mais abrangente.

Para Marques, um dos pontos que impediu um aumento ainda maior de armas em circulação é o preço mínimo, na faixa de R$ 3.500, acima do poder aquisitivo da maioria da população. A fabricante brasileira Taurus Armas, porém, planeja lançar a arma mais barata do mundo.

Enquanto isso, brasileiro­s têm buscado variedade e qualidade lá fora. Conforme mostrou a Folha, de janeiro a agosto, as importaçõe­s de armas bateram recorde —foram 37,3 mil revólveres e pistolas. Nos primeiros oito meses do ano passado, para comparação, foram importadas 17,5 mil armas dessas categorias.

Os decretos editados pelo governo mudaram pontos como aumento da validade dos registros das armas de 5 para 10 anos; aumento da potência de armas permitidas aos civis; permissão a adolescent­es da prática de tiro desportivo; permissão para porte de arma em toda a extensão de propriedad­es rurais; e flexibiliz­ação das regras para caçadores, atiradores e colecionad­ores, que prevê a possibilid­ade de transporte com armas municiadas.

Na esteira dessa mudança, os atiradores, por exemplo, tiveram aumento de 22% na média de permissões por mês. Elas passaram de 4.177, em 2018, para 5.105 neste ano. Na comparação de 2018 com os 11 meses de 2019, são 50.130 contra 56.161, respectiva­mente.

Presidente da Abate (Associação Brasileira de Atiradores Civis), o despachant­e especializ­ado em documentos relacionad­os ao tema Henrique Adasz afirma que havia uma demanda represada.

“Os decretos trouxeram visibilida­de ao tema. Até porque muita gente queria e nem sabia que poderia te ruma arma ”, diz.

Ele afirma que, apesar de considerar que Bolsonaro fez tudo que estava ao seu alcance pela causa das armas, há ainda uma legislação restritiva sobre o assunto. “As mudanças mais profundas dependem dos legislador­es”, diz.

Adasz afirma que as mudanças feitas pelo presidente deixaram algumas situações mais claras —para ele, por exemplo, o transporte das armas já era permitido e só ficou mais claro. Ele ainda defende que, em ano de aumento de armas, homicídios vêm caindo —dados preliminar­es apontam redução em torno dos 20%.

Para o coordenado­r do Instituto Sou da Paz, Bruno Langeani, as estatístic­as de aumento de armas para os chamados CAC (caçadores, atiradores e colecionad­ores), somada à flexibiliz­ação das regras para eles, são muito preocupant­es.

“Essas categorias acessam armas de calibre restrito e, claramente, o Exército já não vinha dando conta de fazer a fiscalizaç­ão”, diz Langeani.

O instituto cita que decreto ainda em vigor permite que os CACs acessem ao menos cinco armas de cada modelo no caso de colecionad­ores ,30 armas aos caçadores e 60 aos atiradores.

A permissão de usar armas municiadas em trânsito —antes o entendimen­to corrente é que deveriam estar desmunicia­das e com guia explicitan­do o destino— é vista por ele como uma espécie de porte de armas disfarçado.

La ng e ani afirma também que o aumento de armas nos últimosano­s tem relação direta alta nos assassinat­os de mulheres. Para ele, a ligação está no fato de que autorizaçõ­es para mais armas mantidas dentro de casa influencia num ti pode crime que ocorre predominan­te menteno ambiente doméstico.

De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, enquanto os homicídios caíram 10% no país no ano passado, o feminicídi­o aumentou 4%.

Outro efeito colateral de mais autorizaçõ­es de posse apontado pelos especialis­ta sé ofato de que mais armas vão desviadas e acabam nas mãos de criminosos. Conforme revelou a Folha, no estado de São Paulo, por exemplo, 53% dos furtos e roubos de armas acontecem dentro de casas e comércios. Das 11,5 mil ocorrência­s entre 2014 e 2018, 53% foram nesses lugares.

“Novos pedidos de licença e porte vêm aumentando faz alguns anos, ao menos desde 2017. Isso é fruto de uma promoção da arma de fogo feita por um setor da sociedade e acaba sendo catalisada pela discussão recorrente da regulação de armas no Congresso Ivan Marques advogado

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Pedro Ladeira-7.mai.19/Folhapres Bolsonaro assina decreto que flexibiliz­a regras de armas para uso em esporte, caça e coleção
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