Folha de S.Paulo

Indexador dos aluguéis, IGP-M tem o maior salto desde 2003

Disparada da carne faz índice subir 2,09% em dezembro e fechar 2019 em 7,30%

- Júlia Moura Com a Agência Brasil

são paulo OIGP-M (Índice Geral de Preços - Mercado), indicador de inflação que regula os aluguéis imobiliári­os, subiu 2,09% em dezembro, o maior salto desde fevereiro de 2003, no início do primeiro governo Luiz Inácio Lula da Silva, quando o índice teve alta de 2,28%.

Em novembro, a taxa, calculada pela FGV (Fundação Getulio Vargas), ficou em 0,30%. No acumulado de janeiro a dezembro deste ano, o índice registrou alta de 7,30%, ante 7,54% acumulados em 2018.

A alta no ano é quase o dobro da registrada pelo IPCA-15, prévia da inflação oficial, que ficou em 3,91%.

O IGP-M é composto por três indicadore­s, o IPA (Índice de Preços ao Produtor Amplo), o IPC (Índice de Preços ao Consumidor) e o INCC (Índice Nacional de Custo da Construção).

Segundo o coordenado­r do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da FGV, André Braz, metade da alta do IGP-M de dezembro se deve ao aumento no custo da proteína, tanto dos animais no pasto quanto da carne no frigorífic­o.

Com a alta demanda da China, o preço da arroba do boi bateu recorde ao fim de novembro, a R$ 228,80 no estado de São Paulo.

“O restante da alta é fruto do aumento sazonal do preço de alimentos “in natura” e combustíve­is, com revisões da Petrobras. A alta do dólar também impacta ambos, pela cotação internacio­nal”, afirma.

Braz aponta que, em relação ao período anterior, a cotação média do dólar teve alta de 2% em dezembro.

A Petrobras ajustou a gasolina duas vezes em dezembro. O aumento mais recente foi de 2%, em média. Somado aos demais aumentos do ano, o preço do combustíve­l acumula alta de 31% em 2019. O diesel teve três aumentos desde o fim de novembro, com alta acumulada de 6,3%.

“Por ser atrelado ao dólar, o IGP-M era utilizado como base para reajuste de aluguéis na época da hiperinfla­ção, mas não faz mais sentido hoje”, diz Alan Ghani, professor de economia do Insper.

Cerca de 60% do índice mede os preços de atacado ao produtor, ou seja, matériaspr­imas agrícolas e produtos industriai­s.

“Esses itens estão mais sujeitos ao choque do câmbio, pois seguem cotações internacio­nais, mas preço de máquina agrícola e industrial não tem nada a ver com o consumidor, não mede o aumento no poder de consumo das pessoas. O ideal seria utilizar o IPCA [Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, do IBGE]”, afirma Ghani.

O locatário, no entanto, deve ter um reajuste ancorado no índice da FGV, diz o professor. “Não tem como fugir, ainda mais agora com a economia em recuperaçã­o, em que o mercado imobiliári­o tem dado sinais de forte recuperaçã­o, com a construção civil melhorando. Em momentos de crise, proprietár­io até aceita reajuste menor, não é o caso.”

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