Folha de S.Paulo

Legislação anda mais devagar que transforma­ções no mercado

- Eduardo Sodré Jornalista especializ­ado no setor automotivo

A partir do dia 1° de janeiro, carros produzidos no Brasil deverão sair de fábrica com apoios de cabeça e cintos de segurança de três pontos para o passageiro que vai no meio do banco traseiro. Quase todos os veículos à venda já estão adaptados à nova norma.

Entre as exceções está a perua Fiat Weekend, que tem futuro incerto. Com comerciali­zação basicament­e restrita a frotistas, só receberá os itens de segurança após a montadora fechar as contas de viabilidad­e. Se deixar de ser fabricada, sua aposentado­ria não representa­rá grande perda para a indústria nacional.

Mas a Weekend, produzida desde 1997, não é o único anacronism­o do mercado automotivo. A legislação já não acompanha a evolução dos carros ou o interesse do público. O que se torna obrigatóri­o agora no Brasil é regra para carros feitos nos EUA e na Europa há pelo menos 12 anos.

Enquanto isso, itens que minimizam danos aos ocupantes em caso de colisão já aparecem como critério de compra em pesquisas promovidas pelas montadoras.

Quando a aplicação de airbags frontais e freios com ABS se tornou obrigatóri­a, em janeiro de 2014, o mercado interno começava a adernar. A crise fez o assunto segurança ficar em segundo plano, mas o interesse pelo tema cresceu com a retomada das vendas.

Os resultados das avaliações promovidas pelo Latin NCAP (organizaçã­o que avalia os veículos por meio de crash tests) se tornaram ferramenta­s de marketing. Obter cinco estrelas nessas provas é um feito destacado em peças publicitár­ias.

Fabricante­s cujos carros obtêm resultados inferiores, mesmo que satisfatór­ios, preferem evitar falar sobre o tema ou fazem mudanças em seus automóveis na busca de números melhores.

O consumidor é o principal beneficiad­o por essa populariza­ção da segurança, ainda que desconheça os nomes dos aços de alta resistênci­a que compõem o habitáculo.

Airbags laterais começam a aparecer nos carros compactos. Serão obrigatóri­os em um futuro próximo, quando todos os veículos feitos no Brasil terão que, enfim, passar por testes de colisão mais rigorosos para serem comerciali­zados.

A tendência é que automóveis com mais componente­s que aumentam a segurança sejam mais valorizado­s no futuro, movimento que já ocorreu com itens de conforto.

Basta lembrar o exemplo do ar-condiciona­do, que nem sempre foi um item tão desejado. Além de custar muito caro no passado, era associado a problemas de desempenho e aumento do consumo de combustíve­l. Hoje, um veículo usado sem esse equipament­o tende a encalhar nas lojas, embora custe menos.

Ao adquirir um carro zeroquilôm­etro sem airbags laterais, o comprador corre um risco duplo: de sofrer danos mais graves em caso de acidente e de perder mais dinheiro na hora da revenda.

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