Folha de S.Paulo

Maioria quer mais investimen­to social contra a violência

Datafolha mostra que 57% defendem gasto com educação e combate ao desemprego; 42% preferem reforço policial

- Thiago Amâncio

Para 57% dos brasileiro­s, o governo deve combater a violência por meio de aumento nos investimen­tos na área social.

Já 42% dos ouvidos pelo Datafolha em 5 e 6 de dezembro defendem que haja mais recursos para a polícia.

A tendência ocorre mesmo entre apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, entusiasta do discurso mais duro na área de segurança.

Entre eles, há empate técnico no limite da margem de erro de dois pontos: 51% preferem mais medidas contra o desemprego e em prol da educação, enquanto 47% creem em treinament­o e equipament­o para a polícia.

Quanto mais jovem o entrevista­do, maior a defesa da solução via social. Já mais pobres e menos escolariza­dos tendem a preferir mais investimen­to na polícia.

A pesquisa mostra ainda que 72% da população do país tem medo de sair às ruas depois que anoitece.

O temor é maior entre mulheres: nesse grupo, o índice chega a 79%. Os mais pobres e mais velhos também têm mais medo de andar à noite, segundo o Datafolha: são 75%, entre os que ganham até dois salários mínimos, e 78%, entre os que têm mais de 60 anos.

são paulo A maioria dos brasileiro­s acredita que, para combater a violência, o governo deve priorizar investimen­tos na criação de empregos e na melhoria da educação, e não especifica­mente na área da segurança, como no treinament­o e na compra de equipament­os de policiais.

É o que aponta pesquisa Datafolha feita em dezembro deste ano. Para 57% dos entrevista­dos, é mais importante investir em áreas sociais do que na segurança. O investimen­to em polícias é mais importante para 41% . Outros 2% respondera­m que não sabem.

Esse índice é alto mesmo entre quem apoia o presidente Jair Bolsonaro, que se elegeu com um discurso de endurecime­nto da segurança pública.

Entre os que avaliam o governo com ótimo ou bom, 51% acreditam que se deve investir mais nas áreas sociais, e 47% acreditam que se deve investir mais em polícias.

Para o antropólog­o Luiz Eduardo Soares, ex-secretário Nacional de Segurança Pública, uma série de fatores pode alterar essa percepção. Se houve um crime cruel e de grande repercussã­o, por exemplo, a tendência da sociedade é enfatizar aspectos repressivo­s, o que não acontece em outros momentos.

“Mas é uma constataçã­o preciosa. Quando as questões sociais são tão graves e dramáticas, como são no Brasil, com desemprego tão grande, há evidência suficiente da origem dos problemas. As pessoas são capazes de tirar suas conclusões, entendendo como a crise social afeta comportame­ntos”, diz ele.

A socióloga Samira Bueno, diretora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, afirma que a pesquisa mostra que “há uma consciênci­a de que a desigualda­de está diretament­e vinculada à violência”.

“Não à toa, os território­s que concentram os maiores índices de violência são os de maior vulnerabil­idade social”, diz.

A avaliação de homens e mulheres sobre o tema não varia além da margem de erro. O que influencia mais essa percepção é idade, escolarida­de e renda dos entrevista­dos.

Em geral, quanto menor a faixa etária dos entrevista­dos, mais a percepção pende para a área social.

Renda e educação formal também pesam a balança: entrevista­dos mais pobres e menos escolariza­dos tendem a defender mais investimen­tos na polícia. Uma das poucas categorias em que há mais entrevista­dos que defendem que violência se resolve com policiamen­to é entre os brasileiro­s que estudaram só até o ensino fundamenta­l.

Moradores de cidades do interior defendem mais investimen­to em polícias do que quem vive em capitais e cidades em regiões metropolit­anas do país.

O Sudeste é a região em que menos se acredita que a solução da violência é investir na polícia: 35% dos entrevista­dos. Por outro lado, o Nordeste é a região com a maior taxa, 47%. Alguns dos estados brasileiro­s com as maiores índices de homicídio do país estão nessa região.

Para Soares, uma das explicaçõe­s possíveis é que “quem está mais diretament­e exposto à violência se sente desprotegi­do e tende a enfatizar medidas mais imediatist­as, que possam de alguma maneira aliviar sua angústia e medo.”

“Para pessoas que veem a violência mais de longe, os problemas são importante­s, mas não tão urgentes. Elas podem contemplar um horizonte um pouco mais amplo e ponderar que, se não houver mudanças mais consistent­es e profundas a médio prazo, tudo acaba se perdendo”, afirma.

Bueno diz que a violência pode influencia­r essa opinião, mas os índices também podem mostrar que, em regiões mais pobres e mais afastadas, a população tem uma demanda maior pelo Estado.

“Isso pode estar conectado ao padrão de desenvolvi­mento do território. No Sudeste estão algumas das polícias mais antigas e estruturad­as do país, com efetivos relativame­nte grandes, e que se mostram mais presentes para a população. Uma pessoa no interior de São Paulo tende a perceber mais a presença da polícia que uma pessoa no interior do Piauí e de Alagoas, por exemplo”, afirma.

A pesquisa Datafolha mostra ainda que 72% da população brasileira diz ter medo de sair às ruas de suas cidades depois que anoitece.

Do total, 50% afirmou ter muito medo, e 22% disse ter um pouco de medo. O índice é bem maior entre mulheres —grupo em que 79% dizem temer andar à noite. Entre os homens, esse índice é de 63%.

Mais pobres e mais velhos também têm mais medo de andar nas ruas durante as noites : 75% dos que ganham até dois salários mínimos e 78% dos que têm mais de 60 anos disseram temer andar à noite.

Esse temor, no entanto, é menor em cidades pequenas. Enquanto 37% dos que vivem em lugares com até 50 mil habitantes disseram não terem medo de sair à noite, o índice cai para 21% nas cidades com mais de 500 mil habitantes.

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Lalo de Almeida/Folhapress Uma Casa Branca de ponta-cabeça, atração turística chamada de Top Secret, em Wisconsin Dells, na área empobrecid­a americana do Cinturão da Ferrugem
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