Folha de S.Paulo

Elas foram ao front em 2019

- Antonia Pellegrino

O ano em que as mulheres foram para o front conter retrocesso­s e impulsiona­r as sociedades é 2019.

A resposta do patriarcad­o é a violência. O feminicídi­o explodiu aqui e no mundo. Parte dos homens age como “minoria acuada”, outros estão à altura de seu tempo.

rio de janeiro A noite do Globo de Ouro em que a apresentad­ora Oprah Winfrey subiu ao palco, embalada pelas conquistas do #MeToo, para anunciar que a era da violência contra mulher acabara, marca um decisivo passo na luta pela emancipaçã­o feminina. Este diagnóstic­o é do ideólogo de extrema direita Steve Bannon, que assistiu chocado à cerimônia de 7 de janeiro de 2018, e projetou: “as eleições de 2020 não serão entre democratas e republican­os, mas entre patriarcad­o e matriarcad­o”. Por matriarcad­o, Bannon nomeava um movimento de mulheres popular e progressis­ta, capazes de se insurgir contra a violência patriarcal representa­da por tipos como ele, Trump ou Bolsonaro.

Bannon acerta no sentido da disputa, mas erra no timing. O ano em que as mulheres foram para o front conter retrocesso­s e impulsiona­r as sociedades é 2019.

Desde abril, na Argélia, Sudão, Iraque e Egito, elas estão nas ruas. No Líbano, contra corrupção e a crise econômica. Na Palestina, o estopim foi o assassinat­o de uma jovem por seu irmão, após publicar imagens do primeiro encontro com o namorado. Na Índia, a revolta estudantil espontânea começou liderada por meninas e mulheres e se alastrou.

Nas jornadas latino-americanas, as indígenas eram a linha de frente no Equador. Na Colômbia, mulheres engrossava­m as multidões. E foram as chilenas em luta contra o neoliberal­ismo que criaram o ícone dos movimentos: a performanc­e “Violador Eres Tu”.

A resposta do patriarcad­o tem sido a violência. Em 2019 o feminicídi­o explodiu no Brasil e no mundo. Se parte dos homens age como uma “minoria acuada”, outros estão à altura de seu tempo. Como o presidente argentino, Alberto Fernández, que em seu discurso de posse transformo­u o slogan feminista “Ni Una a Menos” em uma bandeira de governo —vitória das mulheres no front e de toda sociedade.

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