Folha de S.Paulo

Morre Nilcea Freire, militante feminista e ex-ministra de Lula, aos 66 anos, no Rio

Médica, ela foi reitora da Uerj, na qual foi pioneira ao implantar sistema de cotas para estudantes de escolas públicas e negros

- Cristina Camargo

são paulo A ex-ministra Nilcea Freire (Políticas para as Mulheres) morreu neste sábado (28), aos 66 anos, no Rio de Janeiro. Médica, professora, pesquisado­ra e ex-reitora da Uerj (Universida­de do Estado do Rio de Janeiro), ela tinha câncer e recebia assistênci­a médica em casa.

A morte foi confirmada pelo PT do Rio de Janeiro, que lamentou em nota a perda da militante feminista.

Nilcea foi ministra durante o governo Lula (de 2004 a 2010) e se tornou líder na área de políticas públicas para mulheres. Foi responsáve­l pela realização da primeira Conferênci­a Nacional de Políticas para as Mulheres, que teve como um dos resultados o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres.

“Deixa uma lacuna na militância feminista brasileira”, diz nota divulgada pelo PT do Rio.

Nilcea teve uma longa trajetória de ativismo social e feminismo. Foi, por exemplo, a primeira mulher reitora de uma universida­de pública no estado do Rio de Janeiro. Exmilitant­e do PCB (Partido Comunista Brasileiro), foi ameaçada por órgãos de repressão durante a ditadura militar e viveu exilada no México de 1975 a 1977.

Ao voltar ao Brasil, participou de movimentos pela redemocrat­ização e começou a atuar como professora do Departamen­to de Patologia e Laboratóri­o da Uerj e, em paralelo à carreira acadêmica, representa­va os professore­s em diversos conselhos.

Durante sua gestão na reitoria (2000-2004) foi votado e implantado na Uerj, de forma pioneira, o sistema de cotas para estudantes egressos de escolas públicas e negros. O projeto foi intensamen­te debatido nos anos seguintes e acabou adotado em outras dezenas de universida­des públicas.

Também médica, a deputada federal Jandira Feghali (PC do B) lamentou a morte de Nilcea.

“Sem palavras para a notícia da morte da querida Nilcea Freire. Triste demais saber que partiu tão cedo. Sempre fez parte das fileiras daqueles que não se acomodam com as injustiças do mundo. Foi ministra das Mulheres, ativista, sempre atuante na causa feminista. Muita falta!”, escreveu nas redes sociais.

A deputada federal Benedita

da Silva (PT) também lamentou a morte da ex-ministra, a quem chamou de “grande guerreira”. O ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), escreveu: “Uma grande mulher. Tristeza”.

Em uma longa postagem nas redes sociais, a ativista feminista Manoela Miklos descreveu Nilcea como “uma mulher sem igual”. As duas conviveram quando Nilcea representa­va a Fundação Ford no Brasil e Manoela implantava a Open Society Foundation­s no Rio.

“Ela era essa mulher genial, feminista, com uma longa história de lutas e conquistas, ministra que fez a agenda dos direitos das mulheres avançar um infinito”, recorda a ativista.

Nilcea deixa dois filhos e três netas.

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Alan Marques - 17.mar.2010/ Folhapress A ex-ministra Nilcea Freire durante fala na Câmara dos Deputados

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