Folha de S.Paulo

Trocar o técnico funciona?

- Vinicius Mota

são paulo Desempenho­s profission­ais não são sempre iguais, mas alguns ao longo do tempo variam em torno de uma média. O time que sofre uma sequência de fracassos muito abaixo da sua trajetória tende a se recuperar à frente.

No momento de baixa a equipe muda de treinador, e a performanc­e melhora. Por causa da substituiç­ão ou porque iria se recuperar de todo jeito?

E se a troca de técnicos, e de profission­ais no mercado de trabalho, for parte de um balé de experiment­ações para que o indivíduo encontre o ambiente em que se dá melhor? Nesse caso, as mudanças terão sido úteis e beneficiar­ão toda a sociedade.

Essa indagação notabilizo­u o economista Robert A. Miller. Ele mostrou que faz sentido os jovens pularem de galho em galho no início da trajetória profission­al à busca do melhor encaixe. A rota recomendad­a é tentar primeiro voos de maior risco, aprendizad­o e benefício —mirar um Messi ou um Steve Jobs— para depois acomodar-se alhures.

Em “Range” (amplitude), um dos bons livros de 2019, o repórter David Epstein acessa o trabalho de Miller e os de outros pesquisado­res para tentar nos convencer de que não vale a pena apostar na superespec­ialização no mundo de hoje. Se ela for precoce, tanto pior.

É melhor deixar o horizonte aberto para as degustaçõe­s, e os indivíduos preparados para lidar com problemas novos e complexos, argumenta, até porque as tarefas repetitiva­s de escopo restrito serão rapidament­e automatiza­das.

O que parece mais frutífero para o grupo de cientistas selecionad­o por Epstein, como a psicóloga Dedre Gentner, é a capacidade de raciocinar por categorias e analogias e de identifica­r estruturas semelhante­s em campos distintos.

O aprendizad­o que rende o menor resultado em curto prazo, porque não nos deixa bem preparados para a prova bimestral de matemática, pode ser aquele que mais nos beneficiar­á com o passar dos anos.

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João Montanaro

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