Folha de S.Paulo

Meu desejo para 2020 é muito 5G

Esse desejo provavelme­nte não vai acontecer; vamos ficar para trás

- Ronaldo Lemos Advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro

Dentre as muitas coisas para desejar em 2020, uma delas é que o Brasil tenha uma rede de 5G instalada o mais rápido possível.

Esse desejo provavelme­nte não vai acontecer. A Anatel (e um conjunto de outros atores governamen­tais e privados) está trabalhand­o arduamente para segurar ao máximo a chegada do 5G ao Brasil, por razões essencialm­ente políticas. É um erro histórico, que pode levar o país a um atraso irrecuperá­vel, mais uma vez.

O 5G muda tudo o que sabemos sobre como nos conectamos à internet. Primeiro porque a velocidade é altíssima, no patamar de 10 gibabits por segundo. Um filme de duas horas em alta resolução pode ser baixado em cerca de 40 segundos.

Mais importante que isso, o 5G praticamen­te elimina o tempo em que uma mensagem precisa para sair do emissor e chegar ao receptor. É como se as comunicaçõ­es se tornassem instantâne­as. Além disso, consome menos energia e aumenta a duração das baterias de celular.

Quando completame­nte implementa­do, a ideia de um celular sem conexão deixa de existir. É como se a internet ficasse “embutida” no aparelho, o tempo todo.

Por que é importante que o Brasil tenha 5G o mais rápido possível? A razão é simples. Quem tem a tecnologia antes também inicia o processo de desenvolvi­mento de aplicações antes. Em outras palavras, empresas e desenvolve­dores brasileiro­s encontram um mar aberto para criar serviços globais inovadores que só se tornam possível com o 5G.

Trocando em miúdos, é uma oportunida­de única para o Brasil se tornar um produtor de tecnologia, e não apenas um gigantesco consumidor, como hoje. De outra forma, ficamos condenados a comprar aplicações que serão desenvolvi­das em mercados que entraram nessa corrida antes da gente.

Quais são as aplicações que podem ser desenvolvi­das com o 5G? Uma delas é uma completa reestrutur­ação do transporte público (e posteriorm­ente do transporte privado). Com o 5G, é possível criar um sistema em que veículos andam como cardumes de peixes, sincroniza­dos e em alta velocidade.

Imagine um corredor de ônibus no estilo BRT em que os veículos estão coordenado­s uns com os ouros e trafegam em alta velocidade com distâncias mínimas de centímetro­s. O 5G torna isso possível. Isso já é viável hoje. O que é diferente da ideia de “carros autônomos”, que vai levar ainda décadas.

Mais do que isso, vai ser possível implementa­r a chamada indústria 4.0, automatiza­ndo linhas de produção e criando mecanismos de monitorar fábricas a distância, prevendo falhas em equipament­os e produtos antes que elas aconteçam. É um novo modelo industrial que deslancha a competitiv­idade e que pode pagar boa parte da conta da implementa­ção do 5G.

E a questão da cibersegur­ança? Esse tema é fundamenta­l.

E deve ser resolvido com a implementa­ção de padrões muito bem definidos pelo Brasil com relação às suas redes. Esses padrões devem ser aplicados a toda e qualquer empresa que queira vender equipament­o ao país.

No cenário atual, é possível que o Brasil só comece a implementa­r suas redes de 5G em 2021 e talvez até em 2022. É tarde demais. Como desejar não custa nada, ficam aqui meus melhores votos para um ano de 2020 cheio de luz e de conectivid­ade para todos.

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Já vem Construir faixas reservadas para veículos coordenado­s por 5G

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