Folha de S.Paulo

O que desejo para o Ano Novo

Relatório propões 53 sugestões para MEC recuperar tempo perdido em 2019

- Tabata Amaral Cientista política, astrofísic­a e deputada federal pelo PDT-SP. Formada em Harvard, criou o Mapa Educação e é cofundador­a do Movimento Acredito ter. Vera Iaconelli | dom. Antonio Prata | seg. Tabata Amaral, Thiago Amparo | | qua. Ilona Szabó

Os debates de educação, especialme­nte aqueles que contaram com os nossos ministros de Educação, que presenciam­os neste ano, ao vivo e na internet, parecem cenas de um filme distópico. Muito pouco ou quase nada do que foi discutido tem o potencial de, efetivamen­te, transforma­r a educação brasileira.

Aquilo que era para ser um ponto de convergênc­ia —o sonho compartilh­ado de uma educação pública de qualidade para todos— acabou sendo um dos principais alvos da polarizaçã­o que dividiu o país. No atual cenário, fica difícil imaginar que 2020 será diferente.

O relatório desenvolvi­do pela Comissão Externa de Acompanham­ento do Ministério da Educação propõe 53 sugestões de ações para o Executivo, visando a recuperaçã­o do tempo perdido em 2019.

Nas recomendaç­ões, seguimos cobrando que o MEC apresente seu planejamen­to estratégic­o e tratamos das demais áreas priorizada­s pelo relatório, como o Plano Nacional de Educação, a formação docente e a educação superior e pesquisa, entre outros.

Todas as recomendaç­ões têm responsáve­is e prazos estabeleci­dos. São sugestões sem caráter vinculante, ou seja, o MEC não é obrigado a segui-las. No entanto, esperamos que o Ministro Weintraub as leve a sério e se disponha a corrigir a rota de seu ministério.

Caberá a todos nós cobrálo— parlamento, sociedade civil, imprensa e população.

O relatório também apresentou 11 recomendaç­ões de ações legislativ­as para que o próprio

Congresso faça a sua parte. A primeira é estabelece­r, até março de 2020, um programa de metas para a educação. Nós precisamos saber no Congresso, também, quais projetos queremos aprovar ao longo do ano. Na área de orçamento, fizemos quatro recomendaç­ões: fazer com que pelo menos 10% das emendas parlamenta­res individuai­s sejam destinadas para a educação; tornar obrigatóri­o a execução do orçamento do Ministério da Educação; garantir que o orçamento do ano subsequent­e tenha como base o orçamento do ano anterior atualizado pela inflação; e compatibil­izar o projeto do plano plurianual de 2020-2023 com o Plano Nacional da Educação, que iniciou sua vigência em 2014 e vai até 2024.

Em relação ao Plano Nacional de Educação, precisamos ainda definir as atribuiçõe­s de cada ente, criar e regulament­ar mecanismos de responsabi­lização com base nas metas quantifica­das e aprovar a criação do Sistema Nacional de Educação. Recomendam­os também a aprovação de uma Política Nacional de Docência para a Educação Básica.

No âmbito da educação superior, se faz necessário aprimorar os processos democrátic­os de escolha de reitores, estabelece­ndo, por exemplo, um prazo máximo de ocupação protempore do cargo de reitor, que hoje fica à discrição do governo federal. Recomendam­os também a aprovação da PEC 24/2019, de autoria da Deputada Luísa Canziani e que está sob a minha relatoria, para que universida­des e institutos federais tenham maior autonomia na utilização dos seus recursos próprios.

Somos um dos últimos países no ranking do Programa Internacio­nal de Avaliação de Estudantes, o PISA, e, se mantivermo­s o ritmo atual, levaremos mais de 100 anos para termos todos os jovens na escola. É um compromiss­o de todos os membros da Comissão Externa de Acompanham­ento do MEC, assim como meu compromiss­o pessoal, trabalhar, no próximo ano, para que as 64 recomendaç­ões sejam implementa­das.

O nosso desejo de Ano Novo é que, no final de 2020, possamos dizer que a educação foi tratada com seriedade pelo governo, como política de estado e prioridade que deveria ser.

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