Folha de S.Paulo

O que teve de bom em 2019

O ano acabou melhor que 2018 porque tivemos um campeão que deu gosto ver

- Juca Kfouri Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP | qua. Tostão | dom. Juca Kfouri, Paulo Vinícius Coelho, Tostão | seg. Juca Kfouri, Paulo Vinícius Coelho | qui. Juca Kfouri | sex. Renata Mendonça | sáb. Katia

Depois de três anos seguidos em que os campeões brasileiro­s foram apenas mais do mesmo, embora legítimos vencedores, eis que esta temporada se despede em vibrantes cores rubro-negras.

Como o velho Santos, guardadas todas as óbvias proporções, o Flamengo de 2019 alegrou sua gente ao atropelar desafiante­s sem a menor cerimônia e deixou feliz ainda alguns poucos rivais ao, nas poucas vezes em que perdeu, ser também atropelado, como aconteceu nos jogos contra o Bahia (0 a 3) e Santos (0 a 4).

O velho Santos era assim. Saía pelo mundo goleando campeões europeus e sul-americanos, chegava ao Brasil de volta aos pandarecos e levava goleada de um time qualquer no Paulista. Nada, porém, que o impedisse de ganhar o título.

Para não ser injusto, será bom destacar o Grêmio de 2017, não apenas campeão da Libertador­es, mas capaz de agradar os paladares mais exigentes em qualidade de jogo.

Voltemos a 2019.

Difícil a escolha do melhor goleiro entre Weverton, Diego Alves e Santos, do Athletico-PR.

A coluna fica com o palmeirens­e embora aceite críticas dos rubro-negros, tanto os do Rio quanto os do Paraná.

Rafinha parece unanimidad­e e é dele o lugar na lateraldir­eita.

Dura a eleição do zagueiro para fazer companhia a Rodrigo Caio, porque os dois santistas, Gustavo Henrique e Lucas Veríssimo, mereceram a vaga.

Como já teremos um Henrique no ataque, e quase outro, homônimo no meio de campo, e em homenagem ao gênio da raça, o escritor gaúcho Luis Fernando, a coluna fica com Veríssimo, com o acento que o filho de Erico, como o pai, não tem.

A lateral-esquerda quase escapa de Filipe Luís, desgastado nos últimos jogos. Jorge, do Santos, o ameaçou, mas não o bastante.

O meio de campo da coluna é atrevido e todo vermelho e preto, composto pelos flamenguis­tas Gerson e Everton Ribeiro e pelo excelente e jovem Bruno Guimarães, do Athletico-PR.

Assim como o trio atacante é todo rubro-negro, sem nenhum intruso: Arrascaeta, Gabigol e Bruno Henrique, o melhor jogador brasileiro de 2019, incluídos os espalhados pelo mundo. Dudu sobrou...

Outra unanimidad­e é a revelação goiana, Michael.

Resta eleger o melhor treinador entre os Jorges lusitano e argentino.

A maior façanha coube a Sampaoli ao levar o Santos ao vice-campeonato e fazer jogar como nunca tanto o veterano uruguaio Carlos Sánchez quanto o jovem venezuelan­o Soteldo.

Jesus, no entanto, em meio ano, fez o que fez, razão pela qual é o escolhido.

Cabe ainda menção honrosa a Tiago Nunes, cujo único pecado foi o de prometer vencer o Boca Juniors, na Bombonera, e não passar nem perto disso, nas oitavas de final da

Libertador­es.

Tivemos um Campeonato Brasileiro depois de muito tempo em que não cabe dizer ter sido nivelado por baixo, porque Flamengo, Santos e Athletico elevaram o nível ao proporcion­ar não apenas bons espetáculo­s, mas vitórias empolgante­s.

Tudo que podemos desejar para 2020 é ver o exemplo deles frutificar para enterrar o maldito resultadis­mo, prática medíocre capaz de passar atestados de incompetên­cia para tantos treinadore­s consagrado­s ou em vias de.

O frescor do trio haverá de prevalecer para fazer do balanço de 2020 novo alento com vistas à Copa do Mundo no Qatar.

Embora tudo indique a continuida­de da supremacia da Gávea internamen­te e a européia pelo mundo afora.

Que 2020 siga em frente. Até doer.

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