Folha de S.Paulo

Ano velho deixa esperança de um futebol melhor

- Paulo Vinícius Coelho pranchetad­opvc@gmail.com

O ano de 2019 termina com Guardiola fazendo elogios a Zidane e recebendo de volta os mais altos cumpriment­os. O técnico do Real Madrid se refere ao catalão do Manchester City como “o melhor técnico do mundo.” Os dois se enfrentarã­o nas oitavasde-final da Champions League, em fevereiro.

O sorteio provocou o encontro entre o mais revolucion­ário técnico da atualidade, Guardiola, contra o mais vencedor. Ninguém antes de Zidane conquistou três vezes seguidas o torneio europeu.

Isso não fez de Zidane o mais elogiado e o mais extraordin­ário técnico do planeta. Em quatro anos de carreira, ganhou três vezes a Champions e uma Liga da Espanha. Ele pode ser o mais vencedor, mas não é transforma­dor como Guardiola.

O ano de 2020 pareceu criar o duelo entre o resultado e a performanc­e, como se voltássemo­s a 1982. Há muito tempo se diz que a derrota do Brasil de Telê Santana causou o culto ao futebol de resultados, sem notar que nas Copas de 1974 e 1978 a seleção jogou de maneira pragmática, com fatal de brilho e encanto.

Sem a derrota em Sarrià, talvez não houvesse o São Paulo de Telê Santana de 1992, campeão mundial com arte contra o Barcelona de Cruyff, também encantador. Na história do nosso futebol, 2019 pode ficar como o ano da redescober­ta do prazer, como se Jorge Jesus trouxesse espelhos para seduzir os índios.

Houve encanto neste Brasil do declínio e dos extremista­s. Já havia tido com o Santos de Neymar em 2010, o Cruzeiro de 2013/2014, o Grêmio de Renato em 2017.

Talvez este Flamengo de 2019 nos faça lembrar que é necessário trabalhar estratégia­s de ataque, em vez de repetir o surrado discurso de “no último terço, o jogador resolve.”

Não há mais espaço para isso. Mesmo que num repente um craque solucione um jogo, é preciso ensaiar situações para que isso aconteça em vez de esperar por um momento de inspiração. O futebol, como tudo na vida, é muito mais transpiraç­ão.

O ano que termina nesta terça-feira(31), deixatambé­m o discurso dos portuguese­s sobre o que há de bom nesta terra em que, como escreveu Pero Vaz de Caminha, em se plantando tudo dá. Jorge Jesus afirma que aqui encontrou a paixão. Contrapont­o ao que muitos de nós repetimos nos últimos anos, que aqui não é mais país do futebol. Jesus acha que sim.

Jesualdo Ferreira jura que o Brasileiro é a pior liga do mundo e explica a palavra pior como “a mais difícil.” Foi preciso alguém vir de Portugal, não para nos ensinar o futebol, mas para nos lembrar que é preciso trabalhar para jogar bem e, mais, que aqui há boas coisas aqui.

O Brasil é o país do futebol jogado nas ruas, terrenos baldios, na beira das praias e dos rios. Mais do que assistido em estádios como Maracanã, Mineirão, Morumbi, Allianz Parque, Itaquera... Este país terminou 2019 com um esboço do que se pode fazer.

Pelo Flamengo, da montagem defensiva e estratégia de ataque, o ensinament­o de que a busca pelo gol também exige tática. Pelos estádios cheios, maior média de público em 36 anos. Tem muita coisa para fazer. Mas 2019 deixa esperança de que boa parte pode ser feita.

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