Folha de S.Paulo

Governo espera acelerar adesão a clube de ricos

Endosso dos EUA a candidatur­a brasileira à OCDE deve destravar impasse sobre expansão da entidade, diz Itamaraty

- Ricardo Della Coletta

brasília O Itamaraty afirmou, nesta quarta (15), esperar que o endosso formal dos EUA ao início do processo de adesão do Brasil à OCDE (Organizaçã­o para a Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico) destrave o impasse sobre o ritmo de expansão da entidade.

Formado por 36 países, o chamado clube dos países ricos tem divergido sobre o ingresso de novos integrante­s. Enquanto os EUA querem uma ampliação mais restrita, os membros europeus defendem que um número maior de países se incorpore à OCDE.

“O governo brasileiro recebeu com satisfação a notícia de que os EUA apresentar­am, ao conselho da OCDE, proposta de início imediato do processo de acessão do Brasil. Trata-se de passo fundamenta­l para destravar o processo de expansão da organizaçã­o. Esperamos que todos os membros da organizaçã­o cheguem rapidament­e a um entendimen­to que permita o início do processo de acessão do Brasil”, afirmou o Ministério de Relações Exteriores.

“A posição dos EUA reflete o amadurecim­ento de uma parceria que vem sendo construída desde o início do governo Bolsonaro, baseada em coincidênc­ia de visões de mundo. Trata-se de relação estratégic­a de longo prazo, que se desenvolve em torno de três eixos principais: valores/democracia, cresciment­o econômico, e segurança/defesa”, concluiu a chancelari­a.

Na terça-feira (14), a embaixada dos Estados Unidos em Brasília confirmou que o governo Donald Trump decidiu considerar a candidatur­a brasileira uma prioridade.

Os americanos entregaram uma carta à organizaçã­o oficializa­ndo que querem que o Brasil seja o próximo país a iniciar o processo de adesão à entidade. Na prática, Washington passou a defender que o Brasil ocupe a vaga que era da Argentina na fila de postulante­s a ingressar na organizaçã­o.

“Os EUA querem que o Brasil se torne o próximo país a iniciar o processo de adesão à OCDE. O governo brasileiro está trabalhand­o para alinhar as suas políticas econômicas aos padrões da OCDE enquanto prioriza a adesão à organizaçã­o para reforçar as suas reformas políticas”, disse a embaixada americana.

Em outubro, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, enviou um documento ao secretário-geral da entidade, Ángel Gurría, em que dizia que Washington defendia as candidatur­as imediatas apenas de Argentina e Romênia.

A ausência do Brasil naquele documento gerou queixas de que o alinhament­o de Bolsonaro com o presidente Donald Trump não estaria trazendo os resultados esperados.

Embora a reação negativa no Brasil tenha levado Pompeo a dizer que a carta não representa­va “com precisão” a opinião americana, a falta de um endosso mais explícito acentuou naquela ocasião as críticas em Brasília contra o alinhament­o com os EUA.

Agora, a formalizaç­ão do apoio foi costurada em Washington justamente para rebater os argumentos de que o Brasil não estaria recebendo nada em troca das concessões feitas aos americanos.

A candidatur­a do Brasil à OCDE vinha sendo trabalhada desde o governo Michel Temer e se tornou uma prioridade da atual administra­ção.

Na visita oficial de Bolsonaro a Washington, em março de 2019, Trump afirmou apoiar as pretensões do Brasil. Mas desde então a falta de compromiss­os mais claros dos americanos e a carta de Pompeo geraram frustraçõe­s no governo brasileiro.

Nesta quarta-feira, Bolsonaro comemorou a notícia de que os EUA formalizar­am o apoio ao pleito brasileiro.

Na entrada do Palácio do Alvorada, ele disse que, se a iniciativa dependesse apenas do apoio pessoal de Trump, o

Brasil já teria ingressado na entidade comercial.

“Não posso falar em prazo. Não é apenas do Trump, [se dependesse] do Trump eu já estava lá. Depende de outros países também. E nós estamos vencendo resistênci­a e mostrando que o Brasil é um país viável”, disse o presidente.

O Brasil só efetivamen­te iniciará o trâmite de adesão à OCDE após o aval dos demais membros.

Embora a entrada do Brasil conte com amplo apoio, novos integrante­s não devem ser aceitos até que a OCDE conclua a negociação sobre o seu ritmo de expansão.

Mesmo com a solução dessa disputa, o trâmite de entrada na OCDE é longo. Interlocut­ores no governo disseram à Folha que o processo brasileiro, depois de iniciado, não deve se concluir em menos de três anos.

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