Folha de S.Paulo

(Sandy) Alex G, referência do ‘indie caseiro’ da internet, estreia no Brasil

Americano começou fazendo música eletrônica e levou a abordagem das máquinas para o violão

- Lucas Brêda (Sandy) Alex G Sesc Pompeia, r. Clélia, 93, São Paulo. Qui. (16) e sex. (17), às 21h30. Ingr. R$ 40

são paulo No meio dos anos 2000, as gravadoras viviam um colapso por causa do compartilh­amento de arquivos via internet. O processo começou com o Napster e logo evoluiu para a pirataria em mídia física. Enquanto isso, o MySpace crescia como um dos mais populares canais para se ouvir música online sem pagar nada.

“Quando eu era um adolescent­e tentando fazer música no computador, era no MySpace que meus amigos publicavam suas faixas”, diz (Sandy) Alex G, produtor americano que se tornou referência da música alternativ­a lo-fi.

Ele se apresenta pela primeira vez no Brasil nesta semana, com dois shows no Sesc Pompeia, em São Paulo.

Alex, 26, começou “tentando

fazer música como o [produtor de música eletrônica] Aphex Twin”, só que convivendo com a cena independen­te da Filadélfia, onde vive. A maior cidade do estado americano da Pensilvâni­a tem ficado conhecida nos últimos anos por abrigar diversos artistas indie, como Japanese Breakfast, Girlpool, The War on Drugs e Kurt Vile.

“Todas as bandas punks e independen­tes punham suas músicas na internet”, ele diz. “Acabei aprendendo e pegando essa prática para mim.”

A atitude “faça-você-mesmo” já era comum na música alternativ­a americana, mas a internet —e os computador­es, em geral— deram nova cara a ela. E Alex G, de muitas maneiras, fez música não só para a rede, mas a partir dela.

“Acho que a música eletrônica que eu fazia não era tão boa, mas acabei pegando um pouco daquela lógica”, diz Alex. “Eu abria o computador, o [programa de gravação e edição de música] GarageBand, e ficava fazendo música com instrument­os Midi, juntando aquilo de várias maneiras.”

Ele passou a se interessar mais por música com instrument­os orgânicos, influencia­do pelos discos do Wilco e do Radiohead que sua irmã tinha.

“Quando comecei a fazer música com violão e guitarra, tinha um olhar parecido com o da música eletrônica”, diz.

Isso significa que, mesmo tocando instrument­os acústicos, ele cria música como um produtor, colando, encaixando e manipuland­o gravações.

“Não sei rastrear muito bem as minhas influência­s —às vezes é um filme que vi, um livro que li ou algo que consumi. Mas as minhas referência­s são subconscie­ntes”, diz. “Só que costumo trabalhar gravando minhas ideias do jeito que elas vêm. Depois, vou tentando editar de um jeito que faça aquilo soar coerente.”

Ao longo da última década, Alex G lançou oito discos, além de EPs e singles, a maioria postados no Bandcamp —plataforma que substituiu o MySpace e se tornou reduto para artistas alternativ­os, experiment­ais e de produção caseira—, e virou queridinho da crítica especializ­ada.

Seus três álbuns mais recentes —“Beach Music”, de 2015, “Rocket”, de 2017, e “House of Sugar”, de 2019— já tiveram distribuiç­ão por uma gravadora de médio porte, a Domino.

Esse caminho, das gravações caseiras no Bandcamp até uma forte gravadora, foi o mesmo percorrido por outros nomes de destaque no indie atual. Will Toledo, líder do Ca rS eatHea dr est,p orex emplo,fo ide postar suas produções lo-fia ter banda completa, gravarem estúdio e chegar ao selo Matador —e de lá para os maiores festivais do mundo.

Alex G, sonorament­e, reverbera a angústia do rock dos anos 1990 —de Elliott Smith e Dinosaur Jr.— em composiçõe­s baseadas em violões folk, mas recheadas de elementos eletrônico­s e arranjos dos mais variados. Ele pode soar familiar como uma balada triste e antiga de rádio ou experiment­al como uma demo mal produzida de uma banda iniciante.

Em todos os casos, praticamen­te tudo que se ouve em seus discos foi gravado em casa. “Na verdade, não mudou muita coisa”, diz, lembrando os processos de gravação de seus álbuns. “Acho que a principal diferença [de estar em uma gravadora] é a distribuiç­ão, conseguir chegar a mais gente. De resto, continuo gravando do mesmo jeito que sempre foi—na minha casa.”

As baterias Alex grava na casa de um amigo, Tom Kelly, que mora a algumas quadras de sua casa e é também seu baterista de turnês. Por influência do parceiro, o produtor também comprou um microfone de melhor qualidade.

Cuidando da criação, gravação, edição, publicação e distribuiç­ão, Alex G é cria de uma geração que, na falta dela, acabou personific­ando quase todos os processos da indústria fonográfic­a. Ele agora está aprendendo com o cantor Frank Ocean, com quem tocou em seu aclamado último disco, “Blonde”, de 2016.

“Amo como ele chama colaborado­res e os usa de um jeito muito próprio. É como se tivesse uma biblioteca pessoal de samples —que não são trechos de outras músicas, mas sim gravações originais.”

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