Na chefia da Secom, Wajngarten esteve 67 vezes com clientes
Agenda mostra encontros de secretário da Comunicação com atuais e ex-contratantes de sua empresa; Bolsonaro minimiza
Agenda pública e relatos oficiais de viagens realizadas por Fabio Wajngarten mostram que, desde que assumiu a Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República) em abril, o secretário teve pelo menos 67 encontros com representantes de clientes e ex-clientes de sua empresa FW Comunicação.
Segundo os registros, 20 viagens para parte dessas reuniões foram custeadas com dinheiro público. Na quarta (15), a Folha revelou que o chefe da Secom recebe, por meio da FW, da qual é sócio majoritário, dinheiro de emissoras de TV e agências de publicidade contratadas pela secretaria e por órgãos do governo federal.
Nomes ligados às TVs Record, SBT, Band e Rede TV! constam em 62 eventos de sua agenda. Outros cinco foam com pessoal da Artplan, agência contratada pelo governo e que, ao mesmo tempo, contrata serviços da FW.
Wajngarten nega conflito de interesses. Jair Bolsonaro disse que, “se foi ilegal, a gente vê lá na frente”.
brasília A agenda pública e os relatos oficiais de viagens realizadas pelo chefe da Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República), Fabio Wajngarten, mostram que, desde que ele assumiu o cargo, teve pelo menos 67 encontros com representantes de clientes e ex-clientes de sua empresa FW Comunicação.
Segundo os registros, 20 viagens foram custeadas com dinheiro público para parte dessas reuniões.
A Folha mostrou na quarta-feira (15) que o chefe da Secom recebe, por meio da FW, da qual é sócio, dinheiro de emissoras de TV e de agências de publicidade contratadas pela própria secretaria, ministérios e estatais do governo Jair Bolsonaro.
A Secom é a responsável pela distribuição da verba de propaganda do Planalto e por ditar as regras para as contas dos demais órgãos federais. Em 2019, gastou R$ 197 milhões em campanhas.
O secretário possui 95% das cotas da FW, que tem contratos com pelo menos cinco empresas que recebem do governo —entre elas a Band e a Record, cujas participações na verba publicitária da Secom vêm crescendo.
A legislação vigente proíbe integrantes da cúpula do governo de manter negócios com pessoas físicas ou jurídicas que possam ser afetadas por suas decisões.
Em entrevista à Folha, Fabio Liberman, nomeado em abril para administrar a FW, disse que a firma teve negócios com SBT e Rede TV!, mas os contratos se encerraram.
Nomes ligados às emissoras e afiliadas de TV Record, SBT, Band e Rede TV! constam em 62 compromissos listados em sua agenda oficial e em suas viagens para fora de Brasília, custeadas com dinheiro público.
Os outros cinco foram com integrantes da Artplan, agência contratada pelo governo e que, ao mesmo tempo, paga pelos serviços da FW.
A TV Globo, alvo de críticas do secretário e do presidente, aparece em apenas três encontros, os últimos realizados em julho passado, ocasião em que há registro de uma visita institucional de Wajngarten à sede da TV, no Jardim Botânico (RJ), para almoço com o vice-presidente do Conselho de Administração do Grupo Globo, João Roberto Marinho.
O secretário também teve uma agenda com representantes do Grupo RBS, que tem 12 emissoras locais afiliadas à Globo.
A agenda pública do chefe da Secom registra a realização de mais de 450 compromissos desde que ele assumiu o cargo, em abril do ano passado.
Na lista de clientes ou exclientes estão as TVs Record e SBT, com 21 e 19 encontros, respectivamente. Seus donos, Edir Macedo (Record) e Silvio Santos (SBT), têm manifestado apoio ao presidente Jair Bolsonaro.
Os dois subiram no palanque do desfile de Sete de Setembro, no ano passado, em Brasília, e se sentaram na primeira fila com o presidente.
Apresentadores dessas emissoras têm estabelecido uma relação cordial com Bolsonaro, caso de Ratinho (SBT).
Entre os executivos de emissoras recebidos pelo chefe da Secom estão Guilherme Stoliar, presidente do Grupo Silvio Santos, e Luiz Claudio Costa, presidente da Record TV.
Representantes de Band e Rede TV! tiveram 11 encontros cada um com o chefe da Secom desde abril, entre eles Johnny Saad, presidente do Grupo Bandeirantes, e Marcelo de Carvalho, vice-presidente e cofundador da RedeTV!.
Record e Band têm contrato em vigor com a FW. Ele se encontrou com dirigentes ou representantes de emissoras e empresas em agendas oficiais no Planalto e durante viagens pagas pelo governo.
O governo gastou R$ 147 mil em 44 viagens do chefe da Secom entre 8 de abril de 2019 e 15 de janeiro de 2020. Em 20 delas, ele se encontrou com executivos e outros funcionários de emissoras que tiveram ou têm contrato com a FW Comunicação.
Wajngarten também se encontrou com jornalistas da Folha em três oportunidades durante viagens pagas pelo Executivo. A última foi em junho, de acordo com o Portal da Transparência do governo federal.
A Folha procurou a Secom, as emissoras de TV e a Artplan, na noite de quarta-feira (15).
Em nota, a Band afirmou que a empresa FW Comunicação presta serviços ao mercado de comunicação há anos.
“A Bandeirantes tem contrato desde 17 de dezembro de 2004. Os recursos de publicidade do governo federal destinados à Band em 2019 foram menores do que os recursos destinados em 2018”, diz a emissora.
A RedeTV!, também em nota, afirmou que não mantém relações comerciais com empresas particulares do secretário. Diz ainda que os contratos com a FW foram finalizados “anos antes” de Wajngarten ocupar cargo público.
Sobre as agendas com o chefe da Secom, a emissora afirmou que “todos os encontros versaram sobre temas importantes para a comunicação do governo federal, no escopo das atividades do secretário”.
O SBT informou que teve contrato com a FW até o primeiro semestre de 2019. O vínculo, segundo a assessoria da emissora, foi encerrado “por motivo de contenção de despesas”. A emissora não se manifestou sobre os encontros entre Wajngarten e seus executivos e funcionários.
O diretor de Comunicação na Rede Record, Celso Teixeira, afirmou que os encontros entre representantes da empresa e o chefe da Secom foram institucionais e não trataram de assuntos privados ligados à FW.
Wajngarten e a Artplan não responderam até a publicação desta reportagem.
Anteriormente, o chefe da Secom afirmou não haver “nenhum conflito” de interesses em manter negócios com empresas que a secretaria e outros órgãos do governo Bolsonaro contratam.
“Todos os contratos existem há muitos anos e muito antes de sua ligação com o poder público”, afirmou, por meio de nota da Secom.
Nesta quinta-feira, o PSOL protocolou pedido de concessão de liminar que autorize a anulação da nomeação de Wajngarten para o cargo de chefe da Secom.
Leia mais na pág. 6