Folha de S.Paulo

Não é que a ditadura veio mesmo?

Oligarquia de sempre segue dando as cartas no país

- Leandro Ruschel Especialis­ta em investimen­tos, empreended­or e voz conservado­ra em redes sociais e mídias digitais

Democracia talvez seja a palavra mais abusada da história. O termo serve para dar legitimida­de a ditaduras brutais. Há uma longa tradição comunista de inserir o termo no nome dos países, como podemos observar na República Popular “Democrátic­a” da Coreia e na finada República “Democrátic­a” da Alemanha, ambas ditaduras atrozes.

Todo mundo quer parecer “democrátic­o”, até mesmo Nicolás Maduro, o narcoditad­or venezuelan­o. Quando o acusam de acabar com a democracia, seu argumento é que ele foi eleito, assim como representa­ntes do povo em um Parlamento, negando as claras fraudes eleitorais e as manipulaçõ­es legais para manter a ditadura de pé.

Mas o que, então, pode ser considerad­o uma democracia de fato? Não temos espaço para discutir o tema em profundida­de, então vamos direto ao ponto: uma democracia representa­tiva é caracteriz­ada pela existência de um sistema de leis e mecanismos para sua aplicação que garantam representa­ção política dos cidadãos de forma livre, em eleições regulares e limpas. Tais representa­ntes operam no melhor interesse da sociedade. E todos os cidadãos respondem de forma igual perante à lei.

A Operação Lava Jato desnudou algo que quase todo brasileiro minimament­e informado sabia: não existe democracia representa­tiva no Brasil. Temos uma oligarquia, formada por políticos, empresário­s e imprensa interessad­os em simplesmen­te saquear o povo e manter seu poder. O esgotament­o do modelo e outros fatores externos permitiram que a corrupção financeira, política e moral fosse apresentad­a em quase toda sua extensão, o que gerou a prisão de muitos integrante­s dessa oligarquia e a eleição de um presidente “contra isso tudo que aí está”.

O problema é que o sistema brasileiro foi montado justamente para resistir a tais revoltas. O país chegou num entroncame­nto com três caminhos: o venezuelan­o, que seria tentado no caso de vitória petista; a refundação, que foi o grito majoritári­o das ruas; e a acomodação, com algumas reformas econômicas para atenuar a crise e manter a oligarquia de sempre dando as cartas, blindada por novas leis e procedimen­tos que interrompa­m a Lava Jato e o surgimento de novas operações do tipo.

Infelizmen­te, observamos que a última opção foi a adotada, principalm­ente pela ação dos corruptos de sempre em conluio com a imprensa e influencia­dores “liberais”, que pintam Bolsonaro como uma ameaça à

“democracia” e às “nossas instituiçõ­es”. A palavra de ordem é “resistir”.

O que as “nossas instituiçõ­es” fizeram? A Câmara dos Deputados, sob o comando de Rodrigo Maia, codinome “Botafogo” nas planilhas de propina da Odebrecht, acusado pela PF de corrupção, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica, aprovou a “Lei de Abuso de Autoridade”, de autoria do senador Renan Calheiros, o recordista em denúncias de corrupção. Tal lei amarra as mãos de juízes de primeira instância que venham a colocar a mão em poderosos que deixem de contar com a proteção do foro privilegia­do. Ainda no final do ano, o Parlamento também aprovou o “pacote pró-crime”, desconfigu­rando completame­nte o projeto de Sergio Moro, que dificulta muito a prisão de criminosos.

Já no STF, sob comando do “amigo do amigo do meu pai”, ex-advogado do PT e ex-empregado de Zé Dirceu, tivemos o envio de casos da Lava Jato para a Justiça Eleitoral, a anulação de condenaçõe­s, sob o estapafúrd­io argumento da ordem das alegações finais, e a festa para os bandidos com o fim da prisão após a condenação em segunda instância.

Para quem reclamar, há o inquérito ilegal e sigiloso do companheir­o Dias Toffoli, que faz lembrar da Stasi, a polícia política da Alemanha “Democrátic­a”. Também temos a CPI das Fake News, pronta para constrange­r e perseguir quem faça qualquer crítica mais forte às “nossas instituiçõ­es” ou demonstre apoio ao presidente Jair Bolsonaro.

Eis a “democracia” brasileira, para sossego da esquerda e dos “liberais”, que temiam a “ditadura bolsonaris­ta”. Mas não reclamemos. Fugimos, por hora, do destino venezuelan­o, a economia vai bem e a criminalid­ade, nas ruas, diminui...

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil