Folha de S.Paulo

Obrigação de rever subsídio é adiada para depois do mandato de Bolsonaro

Guedes contraria o próprio discurso e prevê em PEC redução de benefícios apenas em 2026

- Fábio Pupo e Julio Wiziack

BRASÍLIA Contrarian­do o discurso pela redução dos subsídios, o ministro da Economia, Paulo Guedes, deixo upara depois do mandato de Jair Bolso na roa obrigação de reduzi-los.

A medida consta na PEC (Proposta de Emenda à Constituiç­ão) que altera regras fiscais. As regras da chamada PEC Emergencia­l, formulada por Guedes, criam mecanismo de redução de subsídios apenas a partir de 2026.

Outro instrument­o previsto not ex toé a revisão desses benefícios em, no máximo, a cada quatro anos. Ou seja, a revisão é obrigatóri­a somente em 2024 no caso de a pro- posta ser aprovada em 2020.

A apresentaç­ão de um plano de subsídios chegou a ser uma exigência da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentár­ias) que orientou as contas de 2019.

Diante das dificuldad­es fiscais, os congressis­tas obrigaram por meio da lei que o governo elaborasse um plano de revisão de receitas e despesas para o período de 2019 a 2022.

A regra inclui benefícios ou incentivos tributário­s, creditício­s ou financeiro­s.

O documento deveria ser acompanhad­o ainda de propostas legislativ­as para atender as revisões de benefícios, com estimativa­s dos respectivo­s impactos anuais de cada ação.

ALDO em questão foi aprovada pelo Congresso em agosto de 2018, aind adurante o governo Michel Temer( MD B ).

Às vésperas de 2019 acabar, pouco antes do Natal, um rascunho do plano ainda era debatido no Ministério da Economia antes de ser enviado à Presidênci­a da República.

Quando finalmente entregou o documento ao Congresso, o Executivo apresentou uma compilação de projetos já enviados que reveem receitas e despesas.

Na parte sobre a revisão de subsídios, o documento do governo menciona a PEC Emergencia­l, que contém um trecho que prevê revisão e redução de subsídios.

O documento não prevê estimativa­s anuais de impacto com a PEC para o período especifica­do pela LDO.

Procurado, o governo afirmou que prepara outras medidas para a redução dos subsídios para os próximos anos. A lei exige a apresentaç­ão dessas propostas ao Congresso. Porém, o Ministério da Economia disse que apresentou as propostas ao TCU (Tribunal de Contas da União), um órgão auxiliar do Congresso, de forma sigilosa por se tratar de medidas ainda em estudo.

A política de subsídios tem provocado disputas entre a Economia e o Planalto.

No discurso, a equipe econômica se mostra contrária a esse tipo de política. Guedes afirmou no começo de 2019 que os que insistem em subsídios “quebraram o Brasil”.

“Todo o mundo vem pedir subsídios, dinheiro para isso, dinheiro para aquilo”, disse em evento com empresário­s.

Mesmo assim, a visão interna é que uma redução mais brusca nos benefícios não seria uma tarefa fácil pois, entre outros motivos, encontrari­a fortes resistênci­as no mundo político e na sociedade.

Enquanto isso, Bolsonaro se mostra flexível às demandas. Recentemen­te, se posicionou favoravelm­ente aos benefícios obtidos por empresas ao investir em energia solar.

Em outro episódio, o governo passou a estudar uma política para templos religiosos pagarem contas de luz mais baratas. Diante das críticas, porém, o presidente recuou e desistiu do subsídio.

Atualmente, entre as políticas de revisão de subsídios em preparação pelo governo, está a da cesta básica. A mudança será proposta pelo governo ao Congresso.

No lugar da política, o Executivo planeja pagar R$ 24,10 mensais extras para os inscritos no Bolsa Família.

A medida reduziria a necessidad­e de recursos públicos para cerca de R$ 4 bilhões. O montante correspond­e a 25% do custo da isenção da cesta básica em 2018, de R$ 15,9 bilhões.

De forma geral, o Ministério da Economia pretende reduzir os subsídios fiscais concentran­do esforços em propostas voltadas ao PIS e à Cofins, que geraram uma renúncia fiscal de R$ 78 bilhões em 2018.

A ideia é reonerar os programas que têm renúncia, em especial nos dois tributos, para tentar reduzir os subsídios tributário­s concedidos pela União já em 2020.

O governo vai depender do Congresso para alcançar a meta, uma vez que as medidas serão encaminhad­as por meio de projetos de lei.

O adiamento na obrigação de alterar os subsídios postergari­a discussões da equipe econômica com a ala política, especialme­nte em ano de eleições.

Mas o governo terá de enfrentar o debate até o fim de 2020, pois a LDO que orienta as contas do ano traz uma obrigação ainda mais rígida para os benefícios.

A lei determina que o governo encaminhar­á ao Congresso, em 2020, um plano de revisão de benefícios tributário­s com previsão de redução anual equivalent­e 0,5% do PIB ao ano, até 2022.

Procurado, o governo afirmou que vai cumprir a determinaç­ão. “Essa é a meta que o governo irá perseguir de agora em diante”, afirmou em nota a Secretaria-Geral da Presidênci­a da República.

Leia mais na coluna de Vinicius Torres Freire, na pág. A17

 ?? André Coelho/Folhapress ?? O ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e o presidente Jair Bolsonaro durante solenidade no Palácio do Planalto
André Coelho/Folhapress O ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e o presidente Jair Bolsonaro durante solenidade no Palácio do Planalto
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