Folha de S.Paulo

Lula e o complô da América

- Bruno Boghossian

brasília Em 2008, ladrões abriram um contêiner da Petrobras e furtaram quatro notebooks e dois HDs com dados sigilosos sobre a exploração da bacia de Santos. A Polícia Federal tratou o caso como espionagem industrial. O ex-presidente Lula acredita que aquele foi o episódio inicial de um conluio estrangeir­o para prejudicar o Brasil e o PT.

A teoria de um complô patrocinad­o pelo governo dos EUA contra a esquerda não é novidade entre os integrante­s da legenda. O próprio líder petista, no entanto, passou a desenhar uma teia conspirató­ria cada vez mais larga para mascarar alguns dos grandes dissabores do partido.

Lula atribui aos americanos influência nos protestos de junho de 2013, na Lava Jato, na derrocada da Petrobras e na quebra de empreiteir­as brasileira­s envolvidas em corrupção. Mistura fatos com boatos das redes e junta casos isolados, ainda que não haja ligação comprovada entre eles. Tudo para perturbar a discussão política sobre esses episódios.

Em entrevista ao portal Diário do Centro do Mundo, o ex-presidente disse achar “absolutame­nte verdadeiro o fato de que os Estados Unidos têm forte influência em toda a política da Lava Jato”. Mencionou conexões entre agentes americanos e a força-tarefa da operação, além do assalto ao contêiner há 12 anos.

O petista reproduz uma teoria, difundida por sites de esquerda, que atribui o furto dos documentos a empresas do EUA e alega que Sergio Moro recebeu “treinament­o” de agentes quando deu uma palestra no país em 2009. Não há provas para sustentar o suposto complô.

O ex-presidente também disse enxergar orientaçõe­s estrangeir­as nas manifestaç­ões de 2013, que derreteram a popularida­de de Dilma Rousseff. “Acho que teve dedo de fora.”

Para Pablo Ortellado, professor da USP e colunista da Folha, “essa leitura conspirató­ria é irmã da miopia que o impede de reconhecer seus erros”, escreveu. “Lula prefere olhar para o lado e buscar os motivos dos protestos em delirantes indícios conspirató­rios.”

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