Folha de S.Paulo

Governo estuda flexibiliz­ar lei do aprendiz

Empresas como de segurança dizem que não conseguem atender exigência para contrataçã­o de jovens de 16 a 24 anos

- Fábio Pupo

O governo estuda uma revisão nas normas da aprendizag­em para reduzir a exigência de contrataçõ­es em determinad­os setores. A análise está sendo feita pelo Ministério da Economia, que vem recebendo demandas da iniciativa privada por mudanças.

A revisão acontece com base nas normas infralegai­s da aprendizag­em (como decretos e portarias), mas os técnicos também participam de discussões no Congresso para mudar a lei em si. O objetivo é enxugar e flexibiliz­ar as regras sobre o tema.

A lei da aprendizag­em (10.097/2000) determina que empresas de médio e grande porte devem contratar jovens entre 14 e 24 anos como aprendizes, que devem frequentar uma instituiçã­o capacitado­ra (como entidades do Sistema S). O número de participan­tes do programa deve ser de 5% a 15% do total de empregados de cada empresa.

Entre as empresas interessad­as em mudanças estão as de segurança e transporte de valores, que levaram seus pleitos às equipes dos ministros Paulo Guedes (Economia) e Onyx Lorenzoni (Casa Civil).

As companhias reclamam que o número mínimo de aprendizes a serem contratado­s é calculado com base em um percentual sobre o total de empregados, o que eleva a necessidad­e de contrataçõ­es de tal maneira que muitas empresas não conseguiri­am cumprir a lei e receberiam multas por isso.

Como argumento, afirmam ainda que os aprendizes não poderiam atuar em campo por não recebem treinament­o adequado e ainda ficarem expostos a perigo.

As companhias pedem que o percentual mínimo de aprendizes seja calculado apenas consideran­do a área administra­tiva. Na prática, a mudança levaria a uma menor exigência de contrataçõ­es. O Ministério da Economia incorporou a demanda em análises técnicas e debates sobre o tema.

Jeferson Furlan Nazário, presidente da Fenavist (federação que representa as empresas do setor), afirma que o governo já concordou com o pleito. “Eles nos falaram que estão estudando mudanças [nas normas] para o começo do ano e que contemplar­iam essa reivindica­ção do nosso setor e de outros”, diz.

O governo também conversa sobre a flexibiliz­ação nas normas com parlamenta­res, como o deputado Marco Bertaiolli (PSD-SP) —que vem promovendo seminários e debates sobre a criação de um estatuto da aprendizag­em.

Ele afirma que, enquanto o Executivo trabalha no enxugament­o de normas infralegai­s, o Congresso prepara mudanças na lei sobre o tema.

O deputado diz que está em contato com técnicos do governo, que defendem o enxugament­o das normas. “Essa quantidade enorme de normas infralegai­s deturpou a lei. Ela acaba perdendo sua eficiência”, diz Bertaiolli.

Entre as mudanças em discussão pelo Congresso estão a redução da carga horária exigida para capacitaçã­o e implementa­çãodo ensino a distância para os aprendizes. Para ele, as mudanças devem aumentara contrataçã­o de jovens.

Os trabalhos com base na lei de aprendizag­em representa­m mais uma iniciativa do governo para enxugar e flexibiliz­ar normas ligadas ao universo trabalhist­a.

Em novembro, o Ministério da Economia editou a medida provisória que instituiu o contrato de trabalho verde e amarelo e, ao mesmo tempo, afrouxou regras trabalhist­as. Foi liberado o trabalho aos domingos e feriados e a abertura de agências bancárias aos sábados, assim como ampliada a proibição de multas na primeira inspeção de fiscais.

O governo também tentou fazer as mudanças por meio do envio da MP da liberdade econômica, enviada em maio de 2019. Mas boa parte delas caiu durante a tramitação no Congresso.

Agora, o governo também prepara uma mudança nas normas sobre a adesão a sindicatos. A justificat­iva é dar ao trabalhado­r mais liberdade para escolher a entidade à qual deseja se associar.

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