Folha de S.Paulo

Governo vai propor salário mínimo sem reajuste real

Secretário diz que projeto de lei vai propor reajuste apenas pela inflação

- Bernardo Caram e Fábio Pupo

O secretário especial de Fazenda do Ministério da Economia, Waldery Rodrigues, disse que o governo apresentar­á ao Congresso projeto de lei para alterar o cálculo do salário mínimo. A proposta, segundo ele, não deve prever reajustes acima da inflação.

Neste ano foram feitos dois reajustes para garantir a reposição completa das perdas.

brasília O secretário especial de Fazenda do Ministério da Economia, Waldery Rodrigues, afirmou nesta quintafeir­a (23) que o governo apresentar­á ao Congresso um projeto de lei para alterar a forma de cálculo do salário mínimo. A proposta, segundo ele, não deve prever reajustes acima da inflação.

Em conversa com jornalista­s, o secretário disse que o Executivo vai propor que o piso salarial seja calculado levando em conta a inflação de dezembro de um ano até novembro do ano seguinte.

Hoje, o cálculo considera a inflação de janeiro a dezembro. Essa metodologi­a gerou problemas para a efetivação do reajuste neste ano, o primeiro após o fim da política de aumento real do mínimo.

“Temos que ter transparên­cia, cautela e manter o que a Constituiç­ão diz, que é obrigatóri­o manter o poder aquisitivo do salário mínimo.”

Quando lhe foi perguntado sobre a possibilid­ade de o projeto prever exatamente o reajuste pela inflação ou se permitirá aumentos maiores, respondeu: “Em principio, nós vamos manter o poder aquisitivo até a inflação”.

De acordo com o secretário, pelo arcabouço legal existente hoje, o governo tem de apresentar proposta com o reajuste do mínimo todo ano. Agora, o projeto de lei anunciado deve trazer a metodologi­a de cálculo até o fim do mandato do presidente Jair Bolsonaro, em 2022.

Neste ano, o governo precisou autorizar dois reajustes do salário mínimo para garantir a reposição completa da inflação. O primeiro aumento autorizado em 31 de dezembro, de R$ 998 para R$ 1.039, levou em conta a inflação de janeiro a novembro, mais uma estimativa de inflação para dezembro.

Após o reajuste, porém, foi divulgada a inflação oficial de 2019, em valor mais alto do que o previsto anteriorme­nte. O episódio gerou impasse jurídico na equipe de governo, que teve dúvidas sobre como efetivar um novo aumento para repor toda a inflação.

Neste mês, o governo acabou editando uma segunda medida para elevar o valor do piso de 2020 para R$ 1.045.

“Nós vamos alterar a sistemátic­a de correção do salário mínimo. O indicador usado é o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), que só é divulgado dias após o fim do ano. Pode ser utilizando [no projeto] o INPC de dezembro até novembro. Muda a janela de 12 meses. Vamos mudar sem que haja nenhuma perda para o trabalhado­r”, explicou.

Waldery ressaltou que o governo tem até 31 de dezembro deste ano para definir o salário mínimo de 2021, mas deve enviar a proposta com a nova metodologi­a meses antes para que a novidade seja incluída no Orçamento do ano que vem. O prazo para apresentaç­ão da proposta de lei orçamentár­ia acaba em agosto.

Até 2019, vigorava uma lei que definia a política de reajuste do salário mínimo no Brasil. Pela regra, nos anos em que a inflação oficial ficasse maior do que a estimativa do governo, essa diferença seria incorporad­a no cálculo do reajuste do ano seguinte.

Neste ano, porém, essa regra não tem mais validade. Em governo anteriores, houve incentivo de reajustes acima do índice de preços.

Para Guedes, um reajuste do salário mínimo acima da inflação no momento atual poderia gerar desemprego em massa.

Em 2019, o governo Bolsonaro interrompe­u uma política pública que permitiu 25 anos de ganhos reais aos trabalhado­res. Ou seja, com aumentos que considerav­am a inflação mais o cresciment­o da economia.

Essa política de ganho real foi implementa­da informalme­nte em 1994, logo após a adoção do Plano Real. As gestões petistas oficializa­ram a medida após os governos tucanos.

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estabelece­u a fórmula de reajuste pela inflação medida pelo INPC mais a variação do PIB (Produto Interno Bruto) de dois anos antes. Dilma Rousseff (PT) transformo­u a regra em lei.

Michel Temer (MDB), que governou durante a recessão, não mudou a legislação.

Guedes chegou a dizer que era contra uma política de longo prazo para o mínimo e que os reajustes seriam definidos ano a ano. Agora, anúncio do secretário indica uma mudança de rumo na política do governo, mas respeitand­o a visão do ministro de não conceder reajustes reais, já que o país passa por aperto nas contas.

A equipe econômica projeta que o impacto para cada R$ 1 de aumento do piso é de R$ 355 milhões aos cofres públicos, em razão de o governo pagar benefícios previdenci­ários e assistenci­ais vinculados ao salário mínimo.

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Alan Santos/Divulgação Presidênci­a Jair Bolsonaro na transmissã­o de cargo para Hamilton Mourão antes de embarcar para a Índia

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