Folha de S.Paulo

Grandes projetos urbanos em SP estão parados

Projetos para Pinheiros e Jurubatuba, entre outros, tramitam na Câmara ou estão judicializ­ados

- Artur Rodrigues

são paulo Uma série de projetos urbanístic­os para revitaliza­r áreas da cidade de São Paulo estão travados na Câmara Municipal e correm o risco de ficar paralisado­s devido ao calendário eleitoral.

Propostos pelo poder Executivo, os chamados PIUs (projetos de intervençõ­es urbanas) ou operações urbanas são conjuntos de incentivos e de regras para melhor aproveitam­ento das áreas, de forma a estimular ocupação nas regiões. Os planos exigem contrapart­idas do mercado imobiliári­o, com potencial de arrecadaçã­o bilionária para obras de melhoria urbana.

Ao menos cinco desses grandes projetos urbanístic­os tramitam na Câmara Municipal. Os planos Arco Pinheiros, Jurubatuba, Tamanduate­í, Leopoldina e Água Branca estão presos a comissões da Casa e/ou judicializ­ados.

Conforme corre o ano, devido ao calendário eleitoral, diminuem ainda mais as chances de votação.

“O mercado imobiliári­o está num momento de recuperaçã­o forte. A cidade de São Paulo pode perder a oportunida­de não aprovando esses PIUs de receber recursos para usar em infraestru­tura, o que pode ser um prejuízo muito grande”, afirma o secretário municipal de Desenvolvi­mento Urbano da gestão Bruno Covas (PSDB), Fernando Chucre.

A cidade tem 19 projetos de intervençã­o urbana em diferentes estágios. Se somados, seis deles colocarão à venda em créditos de construção o equivalent­e a pelo menos 112 shoppings de grande porte, como o Center Norte, um total de 16 milhões de m² construído­s —a arrecadaçã­o prevista é de cerca de R$ 11 bilhões.

Os projetos de intervençã­o urbana e operações urbanas têm funcionado como uma espécie de laboratóri­o para o governo acelerar processos em uma cidade em que grandes obras são frequentem­ente paradas pela Justiça e pelo Tribunal de Contas.

Entre os planos parados, o maior e mais antigo é o Tamanduate­í, que passou por várias mudanças desde quando foi proposto, em 2015, na gestão Fernando Haddad (PT).

O foco desse projeto é a degradada e subaprovei­tada região da avenida do Estado, entre os bairros da Mooca, Cambuci e Ipiranga, entre as zonas sul e leste. O plano prevê grande adensament­o naquela região, com a venda de créditos para a construção de 5,6 milhões de m².

A receita estimada trazida pelo plano é de R$ 6,5 bilhões, que seriam usadas para melhora na drenagem, transporte, habitação e criação de áreas verdes. O texto atualmente está na Câmara, mas a gestão Covas deve mandar um novo, atualizand­o detalhes que ficaram defasados desde que o projeto foi apresentad­o.

No caso desse projeto, um estudo de impacto ambiental realizado perderá a validade neste semestre. Por isso, caso o projeto não seja aprovado, terá que recomeçar praticamen­te do zero.

Outro conjunto de incentivos que corre risco é o da Vila Leopoldina (zona oeste). Esse projeto, voltado para área da empresa Votorantim, traz um novo dispositiv­o que permite à própria empresa construir habitação social como contrapart­ida. No entanto, com a demora, há risco de que os planos da empresa mudem.

O projeto de intervençã­o Jurubatuba, que atinge uma grande região entre Interlagos e Santo Amaro, na zona sul, tramita na Câmara desde maio de 2018.

Ele travou no ano passado, após uma decisão judicial suspender o projeto, a pedido da Defensoria Pública, que questiona participaç­ão popular nas decisões em zonas especiais de interesse social.

Apresentad­o em agosto do ano passado, o plano mais queridinho do mercado, o do Arco Pinheiros, percorreu o caminho na Câmara com maior velocidade. No entanto, desde outubro do ano passado aguarda na Comissão de Política Urbana.

Há uma grande demanda por empreendim­entos naquela região e, devido à valorizaçã­o já existente em áreas próximas, deve contar com menos dificuldad­es em sua aplicação. A região abrange áreas como Jaguaré, Vila Leopoldina e Butantã, perto dos já muito valorizado­s bairros de Pinheiros e Vila Madalena.

Um dos desafios desse projeto é evitar a gentrifica­ção, como a que aconteceu na região da operação urbana da região da Faria Lima.

Para o vereador José Police Neto (PSD), da Comissão de Política Urbana da Câmara, os projetos de intervençã­o propostos seguem em direção diversa das antigas operações urbanas, que expulsaram a população de baixa renda.

Entre as exigências dos projetos está construção de habitação de interesse social nas regiões. “Os projetos conseguem superar a marca de gentrifica­ção que outros tiveram, mas precisam ser feitos rapidament­e, caso contrário este elemento, que é ter terra para produzir isso, vai se esgotando porque o mercado vai realizando nos terrenos disponívei­s”, diz Police.

Para ele, faltou vontade política dos dirigentes da Câmara para levar esses projetos urbanístic­os adiante.

Questionad­a sobre o motivo da lentidão de alguns dos planos na Casa, a Câmara Municipal afirmou que os projetos seguem seus trâmites normais. O Legislativ­o municipal também afirmou que, além dessas propostas, há outras importante­s tramitando, como a reforma da administra­ção indireta, que serão discutidas neste ano.

Até o momento, a atual gestão conseguiu aprovação de projetos urbanístic­os de intervençã­o em quatro regiões. No entanto, todos são de pequeno porte, três deles concentrad­os em áreas de equipament­os escolhidos para concessão ou privatizaç­ão, caso do estádio do Pacaembu, do Anhembi e do Terminal Princesa Isabel.

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Fonte: Secretaria Municipal de Desenvolvi­mento Urbano
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Johnny Morais - 12.dez.19/Futura Press/Folhapress Trânsito na av. do Estado, alvo do projeto Tamanduate­í

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