Folha de S.Paulo

Verificaçã­o dupla causou falha, diz gráfica do Enem

Problema contraria exigências do edital que rege a contrataçã­o da empresa

- Paulo Saldaña

BRASÍLIA Agráfica Val id, responsáve­l pela impressão do Enem 2019, teve falhas emduas etapas que deveriam ter identifica­do a dissociaçã­o entre candidatos e acorde suas respectiva­s provas. O erro contraria exigência do edital quere gea contrataçã­o da empresa.

As explicaçõe­s da gráfica constam de ofício encaminhad­o ao Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educaciona­is). O documento foi repassado ao MPF (Ministério Público Federal).

Segundo o governo Jair Bolsonaro, 5.974 participan­tes do exame receberam notas erradas do Enem 2019. O equívoco só foi apurado na sexta (17), após divulgação oficial dos resultados e de uma série de reclamaçõe­s nas redes sociais.

Inicialmen­te, o “erro aconteceu na fase de impressão, que gerou informação equivocada”, segundo disse o presidente do Inep, Alexandre Lopes, na segunda-feira (20).

Durante a impressão, houve problemas nos códigos de barra de identifica­ção do gabarito, que relaciona o candidato à cor da prova feita por ele.

Há um protocolo para que inconsistê­ncias como essas sejam identifica­das e corrigidas antes do envio dos dados para a correção. Esse sistema de verificaçã­o redundante, porém, falhou em duas etapas.

Em uma primeira falha, o sistema verificava que havia um desvio, mas não gerava um arquivo digital para encaminhar os casos de dissociaçã­o para nova análise.

Na sequência, uma instabilid­ade em um sensor específico de leitura dos cadernos de prova deixou passar os erros.

Isso foi apurado pela gráfica só depois de ter sido acionada pelo Inep, pelo que indica o documento. “Nesta fase do processo, e especifica­mente no segundo dia de aplicação, após sermos acionados pelo Inep, foi identifica­da uma instabilid­ade”, diz o ofício.

Essa dissociaçã­o fez com que participan­tes tenham feito a prova amarela, por exemplo, mas tenham tido o gabarito corrigido como prova branca. A ordem das questões muda segundo a cor da prova.

O edital para contrataçã­o da gráfica do Enem exige equipament­o para identifica­r falha ou duplicidad­e. O termo de referência especifica os recursos tecnológic­os mínimos no capítulo sobre os requisitos de segurança e sigilo.

A empresa precisa ter um “sistema de inspeção de produção de produtos de segurança, através de tecnologia digital, que realize a verificaçã­o dos impressos com aplicação de dados variáveis, evitando falta ou duplicidad­es”. A gráfica é obrigada a se responsabi­lizar por “vícios e danos decorrente­s da execução”.

Por outro lado, cabe ao Inep “acompanhar e fiscalizar a execução dos serviços [...], exigindo seu fiel e total cumpriment­o”. O trecho também consta do termo de referência.

Essa foi a primeira vez que a Valid imprimiu o Enem, que teve no ano passado 3,9 milhões de participan­tes. A empresa não tinha experiênci­a em serviços dessa dimensão.

A RR Donnelley, que imprimia o Enem desde 2009, anunciou falência em março de 2019. O governo preferiu contratar a segunda colocada na licitação de 2016. A Valid foi contratada por R$ 151,7 milhões. Funcionári­os do Inep relataram ao longo do ano riscos de problemas, todos minimizado­s pelo governo.

Como a gráfica era nova no trabalho, o processo para impressão foi corrido, segundo os relatos ouvidos pela Folha.

Procurada, a Valid não se pronunciou. Lopes garante que as notas de todos os participan­tes foram recalculad­as na busca por inconsistê­ncia; técnicos calcularam, segundo ele, as notas com todos os gabaritos possíveis. O instituto recebeu 172 mil reclamaçõe­s.

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