Folha de S.Paulo

PAÇO DAS ARTES GANHA SEDE PRÓPRIA EM HIGIENÓPOL­IS

Depois de cinco endereços em 50 anos, Paço das Artes enfim ganha sede própria em garagem de palacete em Higienópol­is

- Clara Balbi

Após ter tido outros cinco endereços em 50 anos, a instituiçã­o passa a ocupar neste sábado (25) a garagem do Casarão Nhonhô Magalhães, na região central da cidade; celeiro de jovens talentos reabre com mostra da veterana Regina Silveira

são paulo Um celeiro de jovens artistas ao longo das últimas décadas, o Paço das Artes finalmente ganhou uma sede própria. A inauguraçã­o do espaço, que passa a ocupara garagem doantig oc asarão deNho nhô Magalhães, no bairro paulistano de Higienópol­is, acontece neste fim de semana, com uma mostra da veterana Regina Silveira.

A mudança ocorre depois de um período de incertezas da instituiçã­o, despejada do prédio que ocupou por 22 anos na Cidade Universitá­ria, em 2016.

Desde então, a instituiçã­o migrou para uma pequena sala no Museu da Imagem e do Som, o MI S— ambos são administra­dos pela mesma organizaçã­o social. A área disponível ali equivalia amenos de um décimo do que o Paço tinha no campus da USP, de cerca de mil metros quadrados.

A entrega das chaves do novo lar aconteceu em dezembro de 2018. O prédio, construído na década de 1930 pelo barão do café Carlos Leôncio Magalhães, foi comprado do estado paulista pelo shopping Pátio Higienópol­is em 2005.

Uma cláusula do contrato previa, porém, que parte do imóvel deveria ser cedida ao estado, para uso cultural, por 20 anos, renováveis por mais 20.

A diretora artística do Paço, Priscila Arantes, diz que as obras de renovação tiveram como objetivo adequar o lugar às normas museológic­as, tornando os banheiros acessíveis e implementa­ndo rampas, por exemplo.

Ela estima que a reforma, assinadape­lo arquiteto ÁlvaroRazu­k, tenha custado R $1 milhão.

A saída da Cidade Universitá­ria ocorreu após pedido do Instituto Butantan, dono do edifício. Na época, circularam abaixo-assinados contra o despejo. Hoje, uma sede administra­tiva com cerca de 400 funcionári­os do centro de pesquisa funciona ali.

Questionad­a sobre o período no MIS, Arantes o descreve como “traumático”. “Ficamos no limbo. Não só pela confusão de uma instituiçã­o dentro de outra, mas caímos um degrau na invisibili­dade.”

Ainda assim, o Paço conseguiu manter seu calendário, estabelece­ndo parcerias com espaços como o Museu de Arte Contemporâ­nea da USP, o festival Videobrasi­l e a Oficina Cultural Oswald de Andrade.

Outro ponto importante foi o museu não ter interrompi­do a “Temporada de Projetos”, programa de exposições famoso por revelar nomes promissore­s ao circuito. Já passaram por lá, por exemplo, Marcius Galan, Sara Ramo e André Komatsu, hoje valorizado­s no mercado e escalados para bienais mundo afora.

Arantes comemora a mudança para o casarão. Mas um período de adaptação é certo.

Primeiro, porque apesar da ampliação do espaço em relação ao MIS, a antiga garagem que correspond­e ao espaço expositivo deste novo Paço mede cerca de 300 metros quadrados, ou menos de um terço da área que o centro cultural tinha na Cidade Universitá­ria. Também tem um pé-direito baixo, em geral considerad­o problemáti­co para a montagem de exposições de arte contemporâ­nea.

Segundo, porque a convivênci­a com o campus da USP era estreita. Agora, além da mudança no perfil do bairro onde funciona, ele terá uma entrada pelo shopping ao lado e deve dividir o restante do espaço do casarão, que tem área total de 800 metros quadrados, com eventos.

A diretora artística diz não temer essas transforma­ções. “Fizemos um levantamen­to junto ao setor educativo e estamos estudando a possibilid­ade de parcerias. O Paço é historicam­ente nômade”, afirma, lembrando que o espaço passou por cinco endereços desde a sua fundação, há 50 anos.

O orçamento não foi constante ao longo dessa trajetória, porém. Arantes diz que ele vinha minguando mesmo antes da ida para o MIS —passou de R$ 4 milhões para R$ 3,5 milhões de 2014 para 2015.

Ela diz ter enviado um orçamento de R$ 4 milhões para aprovação da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, referente ao funcioname­nto da casa neste ano. O governo não confirmou o valore explicou que faz os repasses a cada cinco anos diretament­e para as organizaçõ­es sociais que gerem os espaços — cabe às organizaçõ­es então distribuir os fundos entre as instituiçõ­es que administra.

A secretaria ainda acrescenta que pretende elevar o valores repassados ao Paço e às demais instituiçõ­es culturais do governo do estado nesta gestão.

Enquanto isso, o MIS, com suas exposições de apelo popular, ganhou inclusive uma nova sede no ano passado, o MIS Experience, na Água Branca, com 2.000 metros quadrados.

Janelas do espaço se multiplica­m em obra de Regina Silveira

Uma mostra da artista Regina Silveira inaugura anova casa do Paço das Artes, apresentan­do duas obras inéditas feitas especialme­nte para o lugar.

Na primeira ,“Cascata ”, as janelas de inspiração francesado espaços e multiplica­m e se alastrampe­las paredes e pelo chão.

A segunda remete à sua série “Anamorfas”, em que distorce objetos domésticos como tesouras, martelos e até um abridor de garrafas. A vítima da vez é um banco de madeira que, com cerca de três metros de compriment­o, ocupará o jardim do casarão.

“Para mim, era importante ter um artista que entendesse a casa, e ela trabalha com obras site-specific. Queria trazer uma memória da instituiçã­o. Ela é uma artista de 81 anos, mas muito jovem, que navega por várias linguagens”, diz Arantes sobre a escolha de Silveira para abrira programaçã­o.

A artista também diz se identifica­r coma pro postado Paço. “Tem uma coisa da sua postura institucio­nal, de abrigar jovens artistas e não se assustar coma arte experiment­al .”

Questionad­a sobre o espírito jovial, Silveira diz ter horror ao passado. Mas logo se corrige —sem ele, não teria chegado até aqui.

O restante dos trabalhos da mostra faz parte dessa história. São duas videoinsta­lações recentes, que ocupam salas anexas, e três vídeos dos anos 1970 e 1980, exibidos em televisore­s na sala principal.

Todos integram um novo projeto do Paço, o Acervo MaPa, uma coleção de arte contemporâ­nea digital —é a primeira do tipo num centro cultural estadual. Com isso, aos 50 anos, a instituiçã­o se transforma em museu de fato.

Silveira se diz animada com a perspectiv­a. “Assim eles podem executar obras minhas no espaço público, como já fizeram na Alemanha”, diz. “Tem que pensar no futuro.”

Regina Silveira Paço das Artes, r. Albuquerqu­e, Lins, 1.331. Ter. a sáb., das 10h às 20h. Dom., das 12h às 19h. Abertura neste sáb. (25), às 14h. Até 10/5. Grátis

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Eduardo Knapp/Folhapress
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Eduardo Knapp/Folhapress O casarão Nhonhô Magalhães, em Higienópol­is, novo Paço das Artes, por dentro e por fora

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