Folha de S.Paulo

Ciúme e guerra

- Camila Mattoso painel@grupofolha.com.br

A história da recriação do ministério da Segurança Pública explicitou a queda de braço não oficial entre Jair Bolsonaro e seu ministro mais popular, Sergio Moro (Justiça), além de revelar a disputa interna pelo comando da Polícia Federal. Em reuniões, Moro já se posicionou contrário à indicação de Anderson Torres para chefiar a PF. Secretário de Segurança do DF, Torres foi o principal articulado­r da recriação da pasta, medida que esvazia os poderes de Moro.

plano b Com o veto de Moro à sua nomeação, Torres passou a articular a recriação do ministério com o apoio do ex-deputado Alberto Fraga (DEM). O ex-parlamenta­r tem dito que está quase tudo certo para virar ministro, se a pasta for recriada, e que Torres será seu diretor-geral.

fome O secretário do DF tem se movimentad­o há quase um ano para virar chefe da Polícia Federal. A colegas, afirma ser o nome perfeito para a “arejada” que Bolsonaro disse à Folha querer dar na PF.

limite A disputa pelo poder da PF vem desde agosto, quando Bolsonaro ameaçou trocar o diretor-geral, Maurício Valeixo. O assunto nunca esfriou e a mudança é tratada como provável quase sempre desde então.

validade Nos bastidores, o secretário do DF tinha colocado como prazo limite para a definição de sucessão na PF a data de 31 de janeiro.

fim da linha A aliados, Moro disse que deixará o governo se o ministério for recriado. Ele afirmou estar chateado. Segundo pessoas próximas, o ministro não falou com o presidente nesta quinta. Na polícia, a história é tratada como um balão de ensaio.

pra quê? “Está funcionand­o bem. Não temos do que reclamar. Não tem necessidad­e de se recriar isso. Um novo ministério só atrapalhar­ia”, disse o secretário Executivo da Polícia Civil de São Paulo, Yousseff Abou Chain, que represento­u o estado na reunião de secretaria­s de Segurança Pública nesta quarta (23). Ele foi um dos nove contrários à ideia, contra 11 a favor.

no papel O vice-presidente Hamilton Mourão e o Ministério da Economia vão fechar até a semana que vem o desenho de onde sairá o recurso que vai bancar a Força Nacional Ambiental. Uma possibilid­ade é o dinheiro sair do Ministério da Justiça, que cuida da força de segurança.

verniz O Banco Central deu menos de seis meses para as instituiçõ­es financeira­s se adequarem às novas regras de combate à lavagem de dinheiro. O prazo foi considerad­o curto pelos bancos, que têm apercepção de que o governo age par amostrar serviçoà missão do Gafi, grupo internacio­nal antilavage­m, que vem ao Brasil no segundo semestre para avaliar os controles.

big brother O BC ampliou a lista de políticos sob vigilância e incluiu, por exemplo, vereadores. Qualquer pessoa que mantenha vínculo com os vigiados é monitorada, como empregados e parentes. A verificaçã­o dos grupos de risco será feita por filtros estatístic­os.

presente Para viajar de Macapá até São Paulo, o time do Trem —eliminado na 2ª fase da Copa São Paulo de Futebol Júnior— diz ter recebido dez passagens áreas de Davi Alcolumbre (DEM-AP). Socorro Marinho, presidente do clube, afirmou que, sem ajuda dos governos municipal e estadual, bateu na porta do presidente do Senado.

cavalo dado “No dia 31 de dezembro, Josiel Alcolumbre (irmão e suplente) nos entregou um embrulho e o time embarcou no dia 2”, diz Marinho, afirmando não saber a origem do dinheiro. “Não sei se foi uma doação [como pessoa física]”.

ajuda A assessoria do presidente do Senado disse que ele atuou como “patrono” e que a equipe foi patrocinad­a por uma agência de turismo local. “Não foram e jamais seriam utilizados recursos oriundos dos cofres públicos”. O gasto foi de R$ 19 mil.

novo round O Planalto vai acrescenta­r entre as prioridade­s para o Legislativ­o neste ano a aprovação do projeto de licenciame­nto ambiental. A proposta é controvers­a. Tem o apoio de ruralistas, base de apoio de Bolsonaro, mas enfrenta resistênci­a entre ambientali­stas. Eles reclamam que as regras são frouxas e podem aumentar o desmatamen­to.

A segurança pública merece atenção e acompanham­ento; não é uma crítica a A ou a B, mas dar voz e visibilida­de ao tema

Do secretário estadual da Bahia, Maurício Barbosa, sobre recriar ministério, o que retiraria atribuiçõe­s de Sergio Moro (Justiça) com Mariana Carneiro e Julia Chaib

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