Folha de S.Paulo

Em ano eleitoral, Salvador tem batalha de inauguraçõ­es

Governador do PT e prefeito do DEM tentam impulsiona­r candidatur­as de aliados

- João Pedro Pitombo

salvador Principais forças políticas em Salvador, o prefeito ACM Neto (DEM) e o governador Rui Costa (PT) travam uma batalha de inauguraçõ­es e assinatura­s de ordens de serviço para cacifar seus respectivo­s grupos políticos para as eleições municipais deste ano.

Em seu último ano à frente da prefeitura da capital baiana, ACM Neto prevê inaugurar uma obra a cada dois dias para impulsiona­r a candidatur­a do vice-prefeito, Bruno Reis (DEM), que vai disputar a sucessão.

Adversário de Neto, o governador Rui Costa tem se ancorado em grandes obras viárias na capital e aposta nelas para alavancar uma candidatur­a do PT, cujo nome ainda não foi definido.

A disputa ganhou novos contornos nesta quinta-feira (23), Neto inaugurou aquele que será o cartão de visitas de seu segundo mandato: o novo Centro de Convenções

de Salvador.

A obra sumariza a disputa: foi construída pela prefeitura para substituir o antigo Centro de Convenções da Bahia, que era gerido pelo governo do estado.

Erguido no fim dos anos 1970, o Centro de Convenções original foi interditad­o em 2015 após um desabament­o parcial. Na época, o governador anunciou que demoliria o antigo equipament­o e construiri­a um novo, em outro ponto da cidade.

Mas a prefeitura saiu na frente: concebeu o projeto de um novo centro de eventos em prazo recorde e o apresentou em outubro de 2017. Para o empreendim­ento, o prefeito escolheu um terreno em frente ao antigo centro desativado. Menos de um quilômetro separa os dois prédios.

“A prefeitura se cansou de ver essa novela que, infelizmen­te, não tinha uma solução apresentad­a, e resolveu chamar para si a responsabi­lidade de algo que não era dela”, afirmou ACM Neto ao anunciar o novo centro.

Com um investimen­to de R$ 130 milhões em recursos próprios da prefeitura, o novo equipament­o terá capacidade para até 14 mil pessoas na área interna, podendo chegar a 20 mil pessoas com realização de eventos em sua área externa.

Mesmo com o novo equipament­o já pronto, o governo do estado mantém os seus planos de erguer um centro de convenções na cidade. “O nosso será maior”, afirmou no início deste mês o vicegovern­ador João Leão (PP).

A batalha por obras se expande por outras áreas. Desde 2015, quando fortes chuvas deixaram 21 pessoas soterradas, prefeitura e governo passaram a construir contenções nas encostas na periferia da cidade.

Na área dos transporte­s, o governador expandiu o metrô, enquanto o prefeito está erguendo um sistema de vias expressas e corredores para ônibus no miolo da cidade.

Em geral, não há um diálogo ou planejamen­to conjunto entre governo e prefeitura. Cada qual projeta, licita e constrói suas próprias obras sem uma interlocuç­ão mais aprofundad­a entre as gestões estadual e municipal.

O resultado são críticas de parte a parte. A via expressa feita por Neto é alvejada por aliados de Costa por ligar duas regiões da cidade que

“A prefeitura se cansou de ver essa novela que não tinha uma solução apresentad­a e resolveu chamar para si a responsabi­lidade de algo que não era dela ACM Neto, prefeito sobre o novo centro de convenções da Bahia

já são atendidas pelo metrô —mesmo que seguindo por outro trajeto.

Já aliados do prefeito veem como descabida a construção de mais um centro de convenções para a cidade e afirmam que o empreendim­ento municipal é capaz de absorver a demanda da cidade.

As inauguraçõ­es costumam acontecer em eventos com forte carga política.

Para a abertura do Centro de Convenções nesta quintafeir­a, Neto, que é presidente nacional do DEM, convidou as principais estrelas do partido: o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (AP).

Para a ocasião, o prefeito planejou uma homenagem ao seu avô, o ex-governador Antonio Carlos Magalhães (1937-2007), que terá um busto no local e batizará o novo Centro de Convenções.

A homenagem chegou a ser contestada pela bancada da oposição na Câmara Municipal junto ao Ministério Público do Estado da Bahia.

Vereadores evocaram a lei municipal que veda que equipament­os públicos sejam batizados com o nome de pessoas que tenham “participad­o ou colaborado em golpes militares, atentados à democracia ou regime ditatoriai­s” —o então governador ACM apoiou o regime militar.

A representa­ção, contudo, foi arquivada.

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Técio Moreira - 17.jan.19/Rádio Metrópole O governador petista Rui Costa (esq.) e o prefeito ACM Neto (DEM) na Lavagem do Bonfim

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