Folha de S.Paulo

EUA agem para inibir ‘turismo de nascimento’

Governo adota restrições para a emissão de vistos a mulheres grávidas; bebês nascidos no país obtêm cidadania

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washington | reuters O governo de Donald Trump anunciou nesta quinta (23) uma nova regra que visa limitar o “turismo de nascimento” —mulheres que entram nos EUA com vistos de turista para terem o bebê em solo americano.

Crianças nascidas nos EUA são automatica­mente cidadãos do país, um direito garantido pela 14ª Emenda da Constituiç­ão. Segundo um regulament­o do Departamen­to de Estado, que entra em vigor nesta sexta (24), grávidas que solicitam permissões de turismo terão de provar um motivo específico para viajar além do parto —por exemplo, uma necessidad­e médica.

A nova regra diz que oficiais consulares devem examinar as mulheres para determinar se elas estão grávidas, mas não explica como o procedimen­to será realizado pelas autoridade­s.

Hoje, em entrevista­s para obter o visto, funcionári­os não podem perguntar a requerente­s se elas estão grávidas ou se pretendem engravidar.

O Departamen­to de Estado, por sua vez, informou que os oficiais não perguntarã­o a todas as mulheres que solicitam visto se estão grávidas ou se querem engravidar, mas só levantarão a questão se tiverem “uma razão articuláve­l específica” para acreditar que o único objetivo da visita é dar à luz nos EUA.

Nenhuma lei americana proíbe estrangeir­as de viajarem para terem seus filhos no país, embora oficiais consulares possam exigir que os visitantes provem que têm meios financeiro­s para pagar por um procedimen­to médico de nascimento, caso esse seja o motivo da viagem.

Em alguns casos, supostos operadores e clientes de empresas que promovem “turismo

de nascimento” foram acusados de fornecer informaçõe­s falsas às autoridade­s de imigração, a fim de ocultar planos de dar à luz nos EUA.

Um funcionári­o do Departamen­to de Estado disse em comunicado que a nova regra visa lidar com os riscos de segurança nacional, incluindo atividades criminosas associadas a viagens do tipo.

Críticos temem que a nova regra possa levar à discrimina­ção. “É um absurdo que o governo Trump esteja transforma­ndo funcionári­os da embaixada em policiais reprodutiv­os”, disse Kerri Talbot,

diretor da organizaçã­o de defesa Immigratio­n Hub. “As mulheres terão que esconder a gravidez apenas para obter um visto de turista.”

As estatístic­as dos Centros para Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA mostram que, em 2017, aproximada­mente 9.300 crianças nasceram no país de mães que vivem no exterior, e outras 900 foram paridas em território­s dos EUA. No entanto, o CDC não examinou os nascimento­s de turistas especifica­mente.

Para o Departamen­to de Estado, estimar com precisão o número de pessoas que dão à luz nos EUA após entrar no país com visto de turista “é desafiador”, uma vez que a agência não publica dados sobre as razões das viagens.

O órgão, porém, afirma que consulados e embaixadas no exterior têm relatado um número crescente de “turismo de nascimento”.

Trump busca a reeleição em novembro e reforçou a restrição da imigração legal e ilegal um foco de sua campanha. Na presidênci­a, criticou o direito à cidadania de qualquer estrangeir­o nascido nos EUA — mas a eliminação desse direito exigiria mudar a Constituiç­ão.

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