Folha de S.Paulo

Líder indígena, era o ‘livro da sabedoria’ do Alto Xingu

AWAULUKUMÃ WAURÁ (1955-2020)

- Leão Serva

são paulo Era uma noite de lua nova quando Awaulukumã se levantou. No escuro absoluto, junto à “Casa dos Homens”, todos os presentes se calaram para ouvi-lo falar ao repórter, no centro da aldeia Piyulaga, dos índios Waurá:

“Queremos saber o que está acontecend­o. Antes nós sabíamos quando a chuva ia chegar, quando ia parar e voltar, agora não sabemos mais. Antes, o rio tinha uma altura, agora parece secar, é possível andar por ele com a água na cintura. Na beira do rio, estão secando os lugares onde pegamos barro para a cerâmica, tão importante para nós. Também estão diminuindo as frutas, que os peixes vêm comer na época da cheia. Diminuiu o sapé de cobrir as casas, sumiu a embira de amarrar a casa, ficamos sem madeiras para construção. Tudo isso está sumindo, até o material que usávamos para fazer arco e flecha. Antes fazíamos a roça e sabíamos controlar o fogo. Agora, ele escapa, foge e espalha. As coisas não eram assim quando era pequeno.”

Sua sabedoria naquela noite de 2011, quando a maioria dos brasileiro­s não se dava conta do aqueciment­o global, apontava o efeito das mudanças climáticas que ressecam o meio ambiente da Terra Indígena do Xingu, onde os Waurá vivem há muitos séculos.

Awaulukumã nasceu em algum momento dos anos 1950, quando os irmãos Villas Bôas comandavam a campanha pela criação do Parque do Xingu.

Como jovem guerreiro, testemunho­u os duros anos 1960 e 1970, durante a ditadura militar, que, como o atual governo, buscava reduzir as terras indígenas (o Xingu foi cortado ao meio para a abertura de uma rodovia e perdeu território).

Nos últimos anos, lutava para que os jovens mantivesse­m os hábitos da cultura tradiciona­l, resistindo às tentações do consumo dos produtos industriai­s. Por isso mesmo, trajava-se sempre de forma tradiciona­l, nu com a pele pintada, enquanto os mais novos se vestem no dia a dia de calção e camiseta.

Awaulukumã ficou doente e por várias semanas esteve internado em Canarana (MT), onde morreu no último dia 17. Foi-se mais um dos líderes históricos do Xingu que testemunha­ram a luta e a vitória contra as ações governamen­tais contrárias aos direitos indígenas. É um livro de sabedoria que se perde em um mundo pautado pelo culto à ignorância.

7º DIA

NICOLAU LIMA DO AMARAL

Neste sábado (25/1) às 16h, Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, rua Honório Líbero, 90, Jardim Paulistano

SHLOSHIM - CEMITÉRIO ISRAELITA DO EMBU

LIPO BENJAMIN SZLOMOVICZ

Neste domingo (26/1) às 11h, set. B, qd. 29, sep. 39

SHLOSHIM - CEMITÉRIO ISRAELITA DO BUTANTÃ

LULU LUNA SIGAL

Neste domingo (26/1) às 11h, set. L, qd. 268, sep. 10

MATZEIVA - CEMITÉRIO ISRAELITA DO EMBU

NELSON RING

Neste domingo (26/1) às 11h, set. B, qd. 13, sep. 41

MATZEIVA - CEMITÉRIO ISRAELITA DO BUTANTÃ

SALOMON HASENBERG

Neste domingo (26/1) às 11h, set. R, qd. 376, sep. 67

VOLF LANDAU

Neste domingo (26/1) às 10h30, set. R, qd. 411, sep. 05

EM MEMÓRIA

JEAN PIERRE FRANÇOIS ISNARD

Neste domingo (26/1) às 17h, Capela das Religiosas de Maria Imaculada, alameda Itu, 920, Jardim Paulista Procure o Serviço Funerário Municipal de São Paulo: tel. (11) 3396-3800 e central 156; prefeitura.sp.gov.br/servicofun­erario. Anúncio pago na Folha: tel. (11) 3224-4000. Seg. a sex.: 10h às 20h. Sáb. e dom.: 12h às 17h. Aviso gratuito na seção: folha.com/mortes até as 18h para publicação no dia seguinte (19h de sexta para publicação aos domingos) ou pelo telefone (11) 3224-3305 das 16h às 18h em dias úteis. Informe um número de telefone para checagem das informaçõe­s.

 ?? Sebastião Salgado ?? O cacique Awaulukumã Waurá, fotografad­o por Sebastião Salgado
Sebastião Salgado O cacique Awaulukumã Waurá, fotografad­o por Sebastião Salgado

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil