Governo prega digitalização, mas trava em serviço básico
Falhas causam fila no INSS, afetam inscrições no Sisu e prejudicam multas do Ibama
Marcada pelo discurso de aumento da eficiência, a gestão Jair Bolsonaro enfrenta questões técnicas na prestação de serviços básicos.
Recentemente, além do represamento da liberação de benefícios previdenciários, houve atraso em pagamentos de seguro-desemprego.
Sistemas da Receita Federal foram bloqueados. Jovens que tentavam se inscrever para a seleção de vagas em universidades públicas também enfrentaram instabilidade no serviço.
No Ibama, a dificuldade está no programa de armazenamento de multas.
Em balanço sobre a atual gestão, o Ministério da Economia apresentou dados positivos sobre o que chamou de “transformação digital”.
Segundo o governo, 534 serviços foram transformados em 28 órgãos, o que deve gerar uma economia anual de R$ 1,75 bilhão.
A digitalização é vista pela equipe econômica como parte da reforma administrativa, já que funções de servidores públicos serão gradualmente substituídas por serviços informatizados.
Procurados, os órgãos afirmam atuar para solucionar as falhas.
brasília “Tive que perder a vergonha de pedir comida para a família.” O lamento, feito em uma fila do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) em Brasília, é do trabalhador rural Paulo Novais de Jesus, 53, que diz aguardar há três meses a liberação de um auxílio-doença.
Jesus está entre os cerca de 1,3 milhão de brasileiros que lidam hoje com atrasos na liberação de benefícios previdenciários. A fila foi motivada por falta de pessoal e problemas nos sistemas do órgão.
EmsuaterceiravisitaaoINSS para tentar resolver a pendência, ele conta que caiu do telhado de uma casa enquanto trabalhava no ano passado.
Com duas vértebras quebradas, teve de interromper as atividades na criação de frangos e na plantação de maxixe e banana. A renda acabou, e agora ele recebe ajuda do pai, que colabora com uma parte da própria aposentadoria.
“Estou dependendo da família, de alguém que leve arroz e feijão”, diz o morador de Ceilândia, região administrativa no Distrito Federal.
As dificuldades, entretanto, não estão apenas no INSS.
Marcada pelo discurso de aumento da eficiência do governo por meio da digitalização, a gestão Jair Bolsonaro enfrenta uma série de problemas técnicos na prestação de serviços básicos à população.
Recentemente, além do represamento da liberação de benefícios previdenciários, foram observados atrasos em pagamentos de seguro-desemprego e bloqueio nos sistemas da Receita Federal.
Jovens que tentam se inscrever para a seleção de vagas em universidades públicas também enfrentaram instabilidade no sistema. No Ibama, a dificuldade está no programa de armazenamento de multas.
Em balanço sobre o início da gestão, o Ministério da Economia apresentou dados positivos sobre o que chamou de “transformação digital”.
Segundo o governo, foram 534 serviços transformados em 28 órgãos, o que deve gerar uma economia anual de R$ 1,75 bilhão. Desse valor, o ministério afirma que seriam poupados R$ 346 milhões para os cofres públicos e R$ 1,4 bilhão para a sociedade.
A digitalização é vista pela equipe econômica como parte da reforma administrativa, já que funções desempenhadas por servidores públicos serão gradualmente substituídas por serviços informatizados.
A pasta, entretanto, reconhece as dificuldades em áreas específicas.
No INSS, o secretário especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital do Ministério da Economia, Paulo Uebel, afirmou neste mês que a digitalização parcial de serviços fez a fila aumentar.
Segundo a o ministério, com a facilidade de acesso, o INSS passou a receber uma média de 264 mil requerimentos a mais por mês. Além disso, houve demora e falhas técnicas na adaptação dos sistemas às novas regras de aposentadoria.
Diabético, José Neto de Oliveira, 62, não consegue mais trabalhar e aguarda a liberação de sua aposentadoria há cinco meses.
O prazo máximo de resposta estabelecido em lei é de 45 dias. Morador de Remanso (BA), ele passa por tratamento de saúde em Brasília, onde mora parte da família.
“Estou vivendo à custa dos meus filhos. Nunca peguei benefício do governo, é a primeira vez que peço e não sei se vou conseguir. É meu direito e eu preciso dele”, afirma.
Em outro problema técnico, o direito ao seguro-desemprego foi adiado para 67.523 pessoas. A liberação do benefício acabou bloqueada para todos os demitidos sem justa causa que tiveram o direito ao saque imediato do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) —de R$ 500, ou até R$ 998, em alguns casos.