‘Sou capitão do Exército, ele é pacifista’, diz Bolsonaro em memorial de Gandhi
Presidente ressaltou diferenças ao ser questionado sobre o que achava da figura de herói indiano
déli Como a maioria dos chefes de Estado em visita à Índia, o presidente Jair Bolsonaro visitou o memorial de Mahatma Gandhi e depositou flores em homenagem àquele que é considerado um herói pela maioria dos indianos.
Bolsonaro, no entanto, afirmou ser diferente do líder pacifista, um dos fundadores da
Índia moderna. “Eu sou um capitão do Exército, ele é um pacifista”, disse o presidente, questionado sobre o que pensa da figura de Gandhi.
“Mas a gente reconhece o seu passado, sempre pregando a paz, a harmonia e a liberdade.” gente,opaístemsuastradições, tem Brasil, emocionado de cerimônia Bolsonaro to de depósito sua Gandhi é história um que país de ganhou com e disse toca flores. e, emergente.” a assim cerimônia a ter um alma “É ficado como uma bus da
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anos Godse ao RSS, pertenceu grupo fundamen- durante 14 talista hindu, embora não es tivesse mais filiado ao movi mento quando cometeu o cri me. O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, é inte grante do RSS desde os 8 anos.
Depois da homenagem a Gandhi, Bolsonaro, questio nado sobre o aumento do nú dos EUA, defendeu o direito de líderes como o americano Donald Trump de deportar brasileiros que estejam vivendo ilegalmente em outros países.
“Em qualquer país do mundo onde as pessoas estão de forma clandestina, é um direito do chefe de Estado devolver esses nacionais”, disse. “As leis têm de ser respeitadas, [deportar] é um direito do chefe de Estado, que está usando da lei.”
Na sexta-feira (24), ao menos 70 brasileiros foram mandados de volta ao Brasil no segundo voo alugado pelo governo dos Estados Unidos com essa finalidade desde outubro.
O governo Trump solicitou a Brasília a autorização para fretar mais voos para deportar brasileiros por imigração irregular. O número de brasileiros apreendidos ao tentar atravessar a fronteira dos EUA sem documentação bateu o recorde de 18 mil em 2019.
Índia pressiona, mas Brasil não anunciará isenção de vistos
A isenção de visto para cidadãos da Índia entrarem no Brasil não será apresentada durante a visita de Bolsonaro ao país, apesar da pressão dos indianos, que insistiram até o último minuto para que o anúncio fosse feito neste sábado (25). A declaração final dos dois países se restringirá a mencionar a implementação de mecanismo para facilitar a isenção de vistos para turistas e empresários. De acordo com fontes do governo brasileiro, os indianos pediram muito para que o anúncio fosse feito, mas ainda restam algumas etapas antes da concretização do pacto. A expectativa do governo indiano se baseia em promessas do próprio Bolsonaro. Durante visita oficial a Pequim, no fim de outubro, o presidente havia dito que cidadãos de Índia e China não precisariam mais de vistos para entrar no Brasil. O governo indiano e a imprensa do país comemoraram ram e noticiaram a declaração com destaque. Os diplomatas brasileiros, porém, foram pegos de surpresa. Havia apenas estudos para facilitar a concessão de vistos para indianos. O nível de recusa de vistos brasileiros para indianos é alto, porque se trata de uma nacionalidade com forte propensão a emigrar. A diáspora indiana no mundo é de 31 milhões de pessoas —ainda que apenas 5.000 indianos vivam no Brasil. Além disso, para a Polícia Federal do Brasil, as tensões na região, com alto índice de terrorismo no Paquistão e Sri Lanka, são vistas como outro entrave para a isenção.
déli Chamando repetidamente o presidente Jair Bolsonaro de“meuamigo”,oprimeiro-ministroindiano,NarendraModi, ressaltou que Índia e Brasil têm “ideologia e valores comuns”, e anunciou neste sábado (25) a assinatura de 15 acordos bilaterais —segundo o líder brasileiro, um recorde.
“Numa viagem internacional, não tínhamos notícia de tantosacordos,ebonsacordos, serem assinados”, discursou Bolsonaro após encontro bilateral com Modi, no segundo dia de sua visita oficial à Índia.
Ele agradeceu pelo “carinho” darecepção:“Aindafaltamdois dias para eu ir embora da índia e já estou sentindo saudades”.
Bolsonaro e Modi são alinhados ideologicamente —nacionalistas de direita— e criticados na mídia internacional.
“A parceria estratégica entre Índia e Brasil se baseia em nossa ideologia e valores comuns, apesardadistânciageográfica”, disse Modi. “Sendo duas grandes democracias e países em desenvolvimento, há uma profunda semelhança entre as visões de Índia e Brasil sobre importantes questões globais e multilaterais, entre elas o grave problema do terrorismo e a questão do meio ambiente. Nossa perspectiva sobre os atuais desafios que o mundo enfrenta é muito semelhante.”
Embora Bolsonaro tenha anunciado em uma rede social que o comércio com a Índia poderá passar a US$ 50 bilhões até 2022, creditando o número a Modi, a declaração oficial da visita fala apenas em “meta realista de US$ 15 bilhões”.
Em 2019, o fluxo de comércio entre os dois países foi de US$ 7 bilhões, ou seja, teria de aumentar sete vezes para chegar à estimativa de Bolsonaro.
Segundo uma fonte, o valor de US$ 50 bilhões foi mencionado nas conversas entre autoridades, mas referia-se a vários anos, e não a 2022.
O principal acordo assinado é o de cooperação e facilitação de investimentos (ACFI), cujo objetivo é dar mais segurança jurídica e incentivar investimentos. O investidor estrangeiro passará a ter um “ombudsman” na Camex (Câmara doComércioExterior),aquem pode recorrer para prevenir conflitos ou mediar disputas.
O investidor brasileiro também terá um mecanismo semelhante na Índia. O tratado segue um novo modelo que exclui a cláusula investidor-Estado, que previa que os Estados poderiam ser acionados em arbitragem internacional pelas empresas investidoras.
O Brasil já assinou acordos nessemodelocomAngola,Chile, Colômbia, Emirados Árabes Unidos, México, entre outros.
Hoje, há US$ 6 bilhões (R$ 25 bilhões) em investimentos indianos no Brasil, e apenas US$ 1 bilhão (R$ 4,2 bilhões) de aportes brasileiros na Índia, segundo o governo indiano.
Também foram anunciados dois acordos que são demandas antigas do setor privado brasileiro. Um é o de Previdência, que permite aos executivos que o tempo em que trabalham expatriados seja contado para sua aposentadoria, que elimina a dupla contribuição previdenciária.
O outro é uma revisão do acordo de eliminação de bitributação Brasil-Índia, válido desde 1992, que deve ter suas alíquotas atualizadas.
Também foi celebrado memorando de entendimento sobre cooperação de bioenergia, que tem como objetivo aumentar a produção e uso do etanol no mercado indiano, o que pode aliviar as distorções causadas pelos subsídios do governo da Índia ao açúcar.
A ideia é que mais países passem a produzir etanol, para que o produto se torne uma commodity, ampliando o mercado, ao mesmo tempo em que reduz a grande produção indiana de açúcar, que distorce preços internacionais.
Brasil, Austrália e Guatemala pediram abertura de painel (investigação) na OMC (Organização Mundial do Comércio) questionando os subsídios do governo indiano aos produtores de açúcar.
Modi teria pedido a Bolsonaro que revisse o contencioso. O brasileiro disse que pediu ao chanceler Ernesto Araújo que verifique a possibilidade —o que é difícil de ocorrer, segundo a Folha apurou.
Modi também abordou a possibilidade de produção de carros flex na Índia, o que abriria um grande mercado para tecnologia brasileira. O governo indiano passará a exigir uma mistura de 10% de etanol nos combustíveis a partir de 2022 e 20% a partir de 2030.
Também foram assinados acordos para cooperação em investigações criminais, intercâmbiocultural,exploraçãode óleo e gás e recursos minerais, segurança cibernética, intercâmbio de material genético degadoleiteiro,medicinaayurvédica e homeopatia, além de parceria entre Apex (agência de promoção) e Invest-India.
Anunciaram ainda abertura daÍndiaparaogergelimdoBrasiledomercadobrasileiropara sementes de milho indianas.
A Índia pressionou para que Bolsonaro anunciasse a isenção de vistos para cidadãos do país entrarem no Brasil, mas, como antecipou a Folha ,o anúncio acabou não saindo, apesar das promessas feitas na China e na cúpula dos Brics. Leia mais na pág. A17