Inhotim estreita laços com a cidade e consegue mais visitantes em 2019
BRUMADINHO (MG) A nova obra do Instituto Inhotim, uma escultura de concreto de seis metros de altura e 14 m de diâmetro, assinada pelo americano Robert Irwin, 91, parece estar se abrindo.
É o mesmo movimento do museu nesse um ano que passou desde o rompimento da Barragem B1, da Vale, em Brumadinho (MG), que matou 270 pessoas. Os moradores da cidade que abriga o instituto passaram a ter gratuidade no ingresso e se viram representados em shows com artistas locais.
“É uma instituição que está aprofundando seus laços com o território, com as pessoas do lugar, pra poder ser efetivamente cada vez mais um elemento transformador e regenerador”, diz a diretora-executiva do Instituto Inhotim, Renata Bittencourt.
O museu sofreu um baque após a tragédia. Embora a lama de rejeitos não tenha chegado perto dos 140 hectares de jardins e galerias de arte, a visitação caiu 40% entre janeiro e abril em comparação com a média do período.
Inhotim precisou mostrar que estava vivo: inaugurou obras, exposições, um jardim e promoveu festivais de música, além de restaurar e reabrir obras de artistas de renome, como Tunga, Matthew Barney e Yayoi Kusama.
Ao final do ano, com 268 mil visitantes, o museu superou a visitação de 2018, de 258 mil. Ainda está abaixo, porém, da média de 350 mil pessoas por ano. Em 2018, a causa da queda foi o surto de febre amarela na região.
“Conversando com as pessoas, elas nos disseram que estavam aqui em solidariedade a Brumadinho”, diz Bittencourt. Ela afirma ser visível que a comunidade também passou a visitar mais o local.
A simbiose entre Inhotim, Brumadinho e a mineração vem desde sua fundação. O empresário Bernardo Mello Paz, fundador do instituto, foi proprietário do conglomerado de mineração Itaminas. Hoje, ele recorre em liberdade de condenação por lavagem de dinheiro.
“Precisamos reconhecer como foi Brumadinho que construiu esse lugar. Hoje falamos mais sobre essa responsabilidade orgânica que Inhotim tem com a cidade. O instituto precisa ter uma pele permeável ao que está ao redor e ao que está dentro, porque a comunidade que trabalha aqui é a mesma comunidade”, diz Bittencourt.
Há várias ações para aproximar a cidade e seu oásis: visitas do Inhotim a quilombos, apresentação do coral em asilo, palestras sobre botânica e projetos de violino e pedagógicos, que já formaram 200 mil jovens.
Para uma instituição em que 80% dos funcionários (400 próprios e 200 terceirizados) são moradores da cidade, a tragédia foi arrasadora. O museu fechou por cerca de 15 dias após 25 de janeiro de 2019 e, no sábado (25), também não foi aberto. Para funcionários, sobretudo os afetados por mortes na família, o instituto ampliou a acesso a psicólogos, fez palestras sobre resiliência e ofereceu prática de ioga.
Ao mesmo tempo em que tenta superar o rompimento da barragem, Inhotim busca reverter a queda de receitas vista desde 2016. Auditoria externa da Ernst & Young sobre 2018 chegou a apontar risco de fechar as portas.
Para Bittencourt, o problema está sendo superado. Em 2019, o museu aumentou a arrecadação com patrocínios e doações. “Temos tentado sensibilizar empresas para a necessidade de uma dedicação crescente e contínua à cultura”, diz ela. Uma das principais patrocinadoras de Inhotim, mesmo antes da tragédia, é a própria Vale.
Apesar das dificuldades, as perspectivas são “de um presente dinâmico e de um futuro de renovação e expansão”, diz Bittencourt.
Um dos símbolos dessas conquistas, a obra de Irwin, está no ponto mais alto do museu e funciona como mirante. Pelas aberturas, espécie de janelas, Inhotim consegue olhar Brumadinho — em todos os sentidos.