Folha de S.Paulo

Após ausência de rappers, Grammy aposta em nome revelação do trap

Com o hit ‘Suge’, DaBaby disputa em duas categorias na maior premiação da música, que ocorre neste domingo

- Lucas Brêda

SÃO PAULO “Sou puro tipo a cocaína nos anos 1980, estou arrasando todo de branco como se fosse o Gotti!”, rima DaBaby em “Goin Baby”, música que o rapper lançou no ano passado.

Emendando versos com agilidade, o MC da Carolina do Norte celebra uma recém-conquistad­a vida de rico. Ele cita o rapper Yo Gotti, que em 2011 fez uma música sobre ter tudo branco —casa, carro, roupa—, uma maneira de dizer que estava nadando em dinheiro.

DaBaby parecia fazer uma previsão e, desde março do ano passado, quando lançou “Goin Baby”, ele só multiplico­u os zeros em sua conta. Isso porque, só em 2019, ele teve dois discos bem-sucedidos, um single (“Suge”) que vendeu mais de 1 milhão de cópias, participaç­ões em 18 músicas bem posicionad­as na parada americana, além de dezenas de manchetes polêmicas e vídeos virais.

“Suge”, seu principal hit, rendeu a ele duas indicações no próximo Grammy, neste domingo (24) —melhor música de rap e melhor performanc­e de rap. É a coroação de uma ascensão meteórica, de alguém que estava abrindo o próprio selo em 2017, para depois lançar mixtapes de sucesso mediano e, hoje, dividir os microfones com gente como Migos, Chance the Rapper, Nicki Minaj e Gucci Mane.

É DaBaby quem chega como o principal nome do hiphop ao Grammy deste ano —o que não é pouca coisa. Nos últimos anos, gente mais estabeleci­da como Cardi B, Kendrick Lamar, Drake e Jay-Z colecionar­am prêmios e performanc­es de destaque na cerimônia.

Em 2020, curiosamen­te, o hip-hop ficou relegado às categorias específica­s do gênero. É uma possível retaliação ao pouco caso que os principais rappers do momento fizeram do Grammy em 2019. Drake disse que não ia e apareceu de última hora. Childish Gambino faturou quatro gramofones, mas não estava lá para recebê-los.

Nos quatro prêmios principais, o único representa­nte do rap é Lil Nas X, do hit “Old Town Road”, que está mais para artista pop criativo e carismátic­o do que para um rimador.

DaBaby até compartilh­a do carisma com Nas X, mas representa outra vertente do hiphop contemporâ­neo. Principalm­ente em seu segundo álbum de 2019, “Kirk”, o rapper de 28 anos faz um som direto, com as batidas de trap secas no estilo Playboi Carti e o completo domínio da arte do deboche —“eu devia me candidatar a presidente”, diz em “Vibez”.

Impression­a a quantidade de palavras que ele consegue encaixar em uma mesma frase. Além dos clipes engraçados e cheios de referência­s, que só aumentaram sua popularida­de no YouTube.

Em entrevista­s, DaBaby não diz o que fazia antes de ser MC. Ao Guardian, disse que “trabalhava nas ruas”, e há referência­s ao tráfico de drogas nas letras —ainda que este seja um tema comum, mesmo para quem nunca vendeu droga, no trap.

Mas DaBaby esteve envolvido em outras polêmicas. A maior delas em 2018, quando fez parte de um tiroteio em um supermerca­do que acabou com uma jovem de 19 anos morta. Nas redes sociais, afirmou agir em defesa pessoal —uma pessoa havia apontado a arma para ele e sua família—, e este foi o entendimen­to da Justiça.

DaBaby pode até sair demãos vazias do próximo Grammy, mas seu sucesso já tem relevância suficiente para a música pop. Afinal, depois que o Auto-Tune e os refrões melódicos tomaram o hip-hop, é a consagraçã­o de um MC que parece nunca ter ouvido uma música do Drake — ou do Post Malone— na vida.

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Robyn Beck/AFP A cantora Billie Eilish, que concorre em seis categorias do Grammy

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