Folha de S.Paulo

Novo bar palestino abre na Vila Madalena

Capital ganha mais um bar dedicado à cultura dessa região do Oriente Médio

- Flávia Mantovani

Três grandes bandeiras decoram a parede principal do restaurant­e Al Mazen. Elas representa­m a trajetória de vida de seu proprietár­io, Mazen Zwawe, 28: a da Palestina, terra de seu avô e de onde herdou sua nacionalid­ade; a da Síria, onde ele nasceu e viveu a maior parte de sua vida; e a do Brasil, para onde veio quando deixou a guerra para trás.

Aberta há três meses, a casa na Vila Madalena é a realização do sonho que tinha quando chegou a São Paulo, em 2013, sem conhecer ninguém e com US$ 100 no bolso.

Desde então, ele se virou vendendo água na rua e comida em food parks. Também foi responsáve­l pela cozinha de um popular bar palestino no Bexiga, o Al Janiah, de onde saiu para montar seu próprio negócio.

Diferentem­ente de muitos refugiados que só começaram a trabalhar com comida ao chegar ao Brasil, Mazen já atuava na área antes de migrar. Formado em gastronomi­a, tinha um restaurant­e na capital síria, Damasco, que foi bombardead­o. “Felizmente estava vazio na hora e ninguém morreu”, conta.

O Al Mazen serve bufê no almoço e pratos e petiscos à la carte até as 2h. Entre as opções, charuto de folha de uva, arroz marroquino, kebab, falafel, churrasco árabe e pastas como a pouco conhecida muhamara (de pimentão vermelho e nozes). De vez em quando, aparecem pratos tipicament­e palestinos, como o maqluba (à base de arroz, carne, berinjela e tomate). Alguns ingredient­es vêm da Síria, como a água de rosas e o molho de romã. Para beber, há desde caipirinha­s até o destilado árabe arak.

O chef, que também é barman, pretende criar drinques do Oriente Médio em breve. Também deve alugar narguilés para quem quiser fumar na área externa.

“Foquei primeiro em deixar a cozinha em ordem”, diz Mazen, que veio para o Brasil sem planejar. Aguentou viver dois anos na Síria em guerra. Quando estava prestes a ser convocado para o Exército, preferiu sair.

Seu destino seria a Tailândia, onde cozinharia no restaurant­e de um tio. Mesmo com visto, foi barrado. “Disseram: ‘Seu visto está em ordem, mas você não vai entrar porque veio da Síria’. Pior ainda tendo nacionalid­ade palestina. Nenhum país nos aceita”, diz.

Voltou ao Líbano, de onde tinha saído seu voo, e acabou conseguind­o um visto brasileiro ao acompanhar um primo ao consulado. Hoje, quer ficar no país definitiva­mente.

“Metade da minha família está na Europa, mas prefiro o Brasil. Aqui as pessoas tentam até falar árabe para ajudar”, diz. *

Al Mazen - R. Mourato Coelho, 1.327, Vila Madalena, tel. 3819-7770. Seg. a dom.: 11h às 2h.

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Narguilés decoram o restaurant­e Al Mazen, aberto em outubro

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