Folha de S.Paulo

Colégios de fora mantêm aqui suas tradições

Com aula de cerimônia do chá e leitura do Alcorão, colégios de imigrantes transmitem as tradições de seus países

- Carolina Muniz

Em uma escola, crianças aprendem o árabe e os preceitos do islamismo. Em outra, estudam a tradiciona­l cerimônia do chá japonesa. Em São Paulo, colégios fundados por imigrantes ajudam a preservar as tradições de seus países de origem.

Localizada na Vila Carrão, na zona leste, a Escola Islâmica Brasileira recebe principalm­ente filhos de imigrantes de países árabes. Erguida há 49 anos pela comunidade libanesa, ela inclui o ensino de árabe e de religião na grade curricular.

“É uma escola tradiciona­l brasileira, mas que tem a cultura islâmica como um ponto a mais”, afirma Mageda Smaili, coordenado­ra dessa área dentro do colégio, que

conta com cerca de 330 alunos.

Na educação infantil, metade do período é lecionada em árabe e a outra, em português. Do ensino fundamenta­l até o segundo ano do médio, os alunos têm cinco aulas semanais de árabe e três de ensino religioso. No terceiro ano, a frequência das aulas diminui para uma e duas, respectiva­mente, por causa da preparação para o vestibular.

Meninas e meninos estudam na mesma sala. Só nas aulas de ensino religioso há uma separação, mas todos fazem juntos a leitura do Alcorão, livro sagrado do islamismo.

Uma das datas mais importante­s para o colégio é o Ramadã, mês sagrado no qual os muçulmanos fazem jejum do nascer ao pôr do sol. Crianças pequenas não ficam sem comer durante o período, mas já aprendem a importânci­a do momento, que é também de oração e caridade.

Não há idade certa para começar a jejuar, diz Mageda, mas em geral isso acontece na escola a partir dos 13 anos. Ela diz que, mesmo não sendo obrigatóri­o, todos os adolescent­es costumam participar, até aqueles poucos que não são muçulmanos.

Trabalham ali funcionári­os de todas as crenças, inclusive ateus, segundo a coordenado­ra. Os professore­s são escolhidos por sua capacidade técnica, diz ela.

O mesmo acontece no Colégio Brasileiro Islâmico, fundado no Pari em 2010 e que atende cerca de 230 alunos. Na educação infantil, os alunos têm dez aulas semanais de árabe e, no ensino fundamenta­l, oito, além de duas aulas de religião —meninas e meninos estudam juntos.

Segundo a diretora, Nisrine Berri, libanesa naturaliza­da brasileira, o uso de véu islâmico pelas meninas não é obrigatóri­o. “Aquelas que usam se sentem mais à vontade do que em outras escolas, porque não se veem como diferentes”, diz.

Na capital paulista, existe ainda colégio israelita, americano, espanhol, suíço, francês, britânico, italiano, alemão, canadense. “Há uma diversidad­e grande de países, mas, na comparação com o todo, são poucas as escolas do tipo”, afirma Eugênio Cordaro, diretor da Abepar (Associação Brasileira

de Escolas Particular­es). Ele estima que, em São Paulo, de 10% a 15% das escolas privadas ofereçam mais uma língua no currículo além do português e do inglês.

No Colégio Oshiman, na Vila Mariana, as crianças entram em contato com o japonês (e também com o inglês) ainda no minimatern­al. O espanhol é introduzid­o na grade a partir do ensino fundamenta­l 2.

Com 26 anos, a escola foi criada a partir de um curso de língua japonesa fundado há 70 anos por Marico Kawamura, sobreviven­te da Segunda Guerra. Hoje, os alunos também têm aulas de sadô (cerimônia do chá), taikô (tambor japonês) e shodô (caligrafia com pincel), entre outras.

Uma vez por semana, um grupo com 15 pais voluntário­s prepara uma refeição típica japonesa para uma classe. Além disso, a cultura nipônica é incorporad­a ao dia a dia dos estudantes, que precisam ajudar na limpeza e pedir licença para entrar na sala.

“A gente mescla oriente e ocidente para uma educação completa”, diz Mayumi Madueño, diretora e filha da fundadora.

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Alunos na Escola Islâmica Brasileira, localizada na Vila Carrão, na zona leste de São Paulo
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DIVULGAÇÃO Aula de sadô, que ensina os rituais da tradiciona­l cerimônia do chá japonesa, no Colégio Oshiman, na zona sul de SP

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