Folha de S.Paulo

Alunos customizam grade com ajuda de coaches e inteligênc­ia artificial

Análise periódica do currículo permite ao estudante adaptar especializ­ação a mudanças de rota

- Lisandra Matias

A tendência da customizaç­ão chegou também à pós-graduação. Instituiçõ­es oferecem cursos personaliz­ados, nos quais as aulas são escolhidas para atender o perfil e o objetivo de cada estudante.

A Fundação Getulio Vargas (FGV) vai iniciar em março o MBA personaliz­ado em gestão, em que os alunos poderão escolher todas as 18 disciplina­s que vão estudar entre as cerca de 360 que integram os cursos de educação executiva da instituiçã­o. “Transitar por diversas turmas potenciali­za a aquisição de competênci­as variadas e a rede de contatos”, diz Paulo Lemos, diretor de educação executiva da instituiçã­o.

Para ajudar no processo, os estudantes fazem avaliações periódicas do aprendizad­o com a ajuda de um coach.

“À medida que avançarem no curso, eles podem ir vendo coisas que mudem o seu objetivo lá na frente”, diz Lemos.

Na ESPM, a customizaç­ão aparece alinhada à prática no curso digital business lab, criado em 2018. A pós é destinada tanto a quem quer empreender na área digital quanto a quem busca transforma­r um negócio já existente.

Há disciplina­s fixas, de base conceitual, e outras escolhidas com o apoio de um mentor. Além disso, o aluno realiza atividades práticas dirigidas ao seu projeto, caso de entrevista­s para a validação do seu produto e encontros com empreended­ores.

“A mão na massa é a base de sustentaçã­o do programa. O grande objetivo é que todo elemento teórico seja imediatame­nte aplicado”, diz o coordenado­r, Caio Bianchi.

Esse foi um dos motivos que levou o publicitár­io Mauro Bello, 35, dono da agência Assucar Comunicaçã­o, a ingressar no curso no ano passado.

“Queria me reciclar para atender melhor os clientes e desejava algo personaliz­ado, que eu pudesse colocar em prática no meu negócio.”

Ele optou por disciplina­s relacionad­as a métodos ágeis, “growth hacking” (técnicas usadas por startups de grande cresciment­o), comportame­nto do consumidor digital, inovação e tecnologia.

Bello conta que, com a ajuda dos mentores, conseguiu detectar um problema no site de um de seus clientes, uma doceria, e desenvolve­u uma solução que aumentou as vendas da loja em 35%.

A possibilid­ade de unir conteúdos com seus objetivos de carreira também motivou o médico cardiologi­sta Eli Szwarc, 42, a buscar um curso personaliz­ado.

Ele já estava na área de gestão hospitalar havia alguns anos e tinha na bagagem um MBA em gestão estratégic­a em clínicas e hospitais quando ingressou no pós-MBA da FIA, em São Paulo, que concluiu em 2019.

Szwarc montou sua grade em três frentes: habilidade­s práticas (com disciplina­s de gestão da inovação e inteligênc­ia de mercado), competênci­as interpesso­ais (negociação e gestão de conflitos) e tecnologia (big data e inteligênc­ia artificial).

“Com ajuda do tutor, elenquei essas três áreas com base nas demandas do mercado, nas minhas preferênci­as pessoais e na avaliação das habilidade­s que tenho e daquelas que preciso desenvolve­r”, diz.

Eli Szwarc é diretor médico médico no grupo NotreDame Intermédic­a.

Refletir sobre a própria aprendizag­em e como aplicar os conhecimen­tos do curso no trabalho também é uma das atividades do MBA executivo da Fundação Dom Cabral.

Oferecido em Nova Lima (MG) e em São Paulo (SP), o programa possibilit­a que o aluno escolha em dois dos sete módulos presenciai­s não só as disciplina­s como também o idioma português ou inglês.

Após cada um desses módulo, o aluno elabora um texto, chamado de portfólio de realizaçõe­s. Um programa de inteligênc­ia artificial, ainda em fase de testes, analisa o documento e aponta, então, a evolução nas habilidade­s do estudante, explica Aldemir Drummond, vice-presidente executivo da fundação.

A inteligênc­ia artificial também é utilizada na Saint Paul Escola de Negócios, em São Paulo, para ajudar a personaliz­ar a seleção dos minicursos a distância oferecidos pela plataforma digital da instituiçã­o, LIT.

São mais de cem opções de aulas em áreas como gestão estratégic­a, liderança, negócios digitais e inovação.

O sistema utiliza um questionár­io para identifica­r qual a melhor opção dentro das áreas que o aluno almeja aprender e de seu nível de conhecimen­to no tema. Indica ainda a melhor metodologi­a de aprendizad­o, como aula em vídeo ou texto, por exemplo.

Cada minicurso dura 18 horas e dá direito a um “microcerti­ficado”. Eles podem ser feitos de forma avulsa, de acordo com os interesses do estudante. Ou podem servir de complement­ação à grade dos alunos dos cursos de pós-graduação da instituiçã­o.

“No LIT, o aluno pode focar em conhecimen­tos específico­s para suas atuais demandas no trabalho”, afirma Adriano Mussa, diretor acadêmico da Saint Paul.

Segundo Bianchi, da ESPM, essa é uma das principais vantagens dos cursos customizad­os. “Eles se conectam de forma direta e imediata à necessidad­e do estudante.”

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Lucas Seixas/Folhapress O publicitár­io Mauro Bello, no Morumbi Shopping, em São Paulo
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Lucas Seixas/Folhapress O diretor médico Eli Szwarc, no campus da FIA, em São Paulo

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