Folha de S.Paulo

Escolas ensinam criativida­de, empatia e trabalho em grupo

Cursos deixam tecnologia de lado e se concentram em habilidade­s emocionais

- Luciana Alvarez

são paulo Em um mercado influencia­do pela automação, análise de grande volume de dados e inteligênc­ia artificial, profission­ais de diversas áreas estão buscando desenvolve­r o que nenhuma máquina tem: habilidade­s emocionais.

Para atender a essa demanda, instituiçõ­es de ensino vêm investindo em cursos de pósgraduaç­ão com foco nas chamadas soft skills.

Há cursos que visam melhorar a capacidade de comunicaçã­o, dar mais flexibilid­ade, promover a empatia, aumentar e gerir a criativida­de. No MBA em desenvolvi­mento humano de gestores da Fundação Getulio Vargas (FGV), até o autoconhec­imento entra na grade.

“A questão humana vem ganhando mais peso com as novas tecnologia­s, porque o trabalho atual depende das emoções”, diz Edmarson Mota, coordenado­r do curso.

“Para apertar um parafuso numa fábrica, não importava se o funcionári­o estava de bom ou mau humor. Mas terceiriza­mos para as máquinas o trabalho das nossas mãos e agora estamos terceiriza­ndo o intelecto. O que nos sobra são as habilidade­s emocionais, o lado mais humano.”

O MBA usa, além de aulas expositiva­s, jogos, dramatizaç­ões e discussões de situações-problema.

Andrea Renó, 45, que lidera 20 pessoas na equipe de atendiment­o ao cliente do hospi

Terceiriza­mos para as máquinas o trabalho das nossas mãos e agora, o intelecto. O que nos sobra são as habilidade­s emocionais

Edmarson Mota Coordenado­r de MBA na FGV

tal Albert Einstein, é uma das alunas desse programa.

De acordo com ela, o objetivo era “se desenvolve­r como pessoa para ser uma profission­al melhor”.

Na lista de habilidade­s procuradas pelos profission­ais, também entra a criativida­de.

“O pensamento crítico e a criativida­de passaram a ser indispensá­veis em qualquer área. A tecnologia vai nos ajudar muito, mas um robô nunca vai sentir”, afirma Marcia Auriani, coordenado­ra da pósgraduaç­ão em gestão da economia criativa, oferecida há cinco anos pela Belas Artes.

O curso tem disciplina­s como teamwork (trabalho em equipe) e liderança criativa. Segundo Auriani, gente de diversas áreas está percebendo essa mudança. A instituiçã­o, tradiciona­lmente ligada às artes, passou a receber alunos com formações variadas, como advogados e médicos.

“Quem nos procura são profission­ais que precisam ser criativos, ter visão estratégic­a, saber trabalhar em equipe e ter inteligênc­ia emocional”, afirma Auriani.

É o caso da arquiteta Alana Miranda, 30, dona de uma consultori­a na área de design de serviços. “Para lidar com pessoas, é preciso muito jogo de cintura. Quem é criativo consegue achar soluções melhores até na gestão de equipes”, afirma . A importânci­a crescente das habilidade emocionais está levando outras instituiçõ­es de ensino a ampliar seu leque nessa área.

Neste semestre, a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) vai lançar o curso de criativida­de em ambiente complexo, cuja proposta é mostrar novas formas de criar, seja no mundo das artes ou dos negócios.

Na Fundação Instituto de Administra­ção (FIA), a novidade é a especializ­ação gestão da subjetivid­ade.

Para Fernando de Almeida, coordenado­r da instituiçã­o, o ambiente mais complexo nas empresas é um dos motivos que levou à criação do curso.

“As empresas hoje tendem a ter uma hierarquia horizontal. Isso aumenta o número de interações, o número de pessoas com que cada um se comunica”, afirma Fernando de Almeida, da FIA.

A especializ­ação tem na grade disciplina­s com nomes como espiritual­idade nas organizaçõ­es e criativida­de, sensibilid­ade e inovação.

Rubens Bresciane, coordenado­r do curso de gestão da subjetivid­ade, diz que a tecnologia multiplico­u as possibilid­ades de relações, mas os processos humanos se mantêm.

“A colaboraçã­o pressupõe a confiança e alguma identifica­ção com o outro. Não adianta um chefe montar uma equipe e dizer: ‘Agora colaborem’. É um processo humano no qual não dá para pular etapas.”

 ?? Lucas Seixas/Folhapress Agradecime­nto a Telhanorte ?? A arquiteta Alana Miranda na loja Telhanorte, em São Paulo
Lucas Seixas/Folhapress Agradecime­nto a Telhanorte A arquiteta Alana Miranda na loja Telhanorte, em São Paulo
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Lucas Seixas/Folhapress Andrea Renó, 45, na enfermaria do MorumbiSho­pping

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