Pessoas que deslocam o ar quando passam
Dueto Angela Melim não tem nada de anjo. Verdes olhos ferozes, unhas vermelhas. Dentes frontais separados prontos para morder. Escreve partindo desta imagem bela, feroz. Este vai ser seu estilo vida afora: fogaréu.
Ana Cristina Cesar pode passar por anjo. Olhos atrás dos óculos escuros ocultam o frenesi. Sem eles as poucas pestanas albinas aparecem. Escreve partindo desta imagem bela, lunar. Este vai ser seu estilo vida afora: fogo-fátuo.
Das duas, uma. Por que não, ambas?
Uma rosna outra ronrona em fúria. Nasceram no mesmo ano, poetas claras. Escrevem uma olhando por cima do ombro da outra. Este é o estilo das duas vida afora: misto, colado.
Rompante Vestida de boa senhora, ela injeta a sombra onde o sol durava. Edimilson de Almeida Pereira
A passos largos, batom vermelho, cabelos violentos. Ela era dessas pessoas que deslocavam o ar
quando passava: lispectoriana escrita e escarrada e sua saia levantava o vento. Não sei se a vi assim, faz tantos anos! Ou se me contaram e a imagino nesse cenário: cataplasma, placa implacável de metal o sol branco do meio-dia endurece mais o cimento da calçada, as sombras dela e das árvores formam lagos ilusórios, trêmulos as paredes de calor são ultrapassadas sem pensar. Maura Lopes Cançado na avenida da sua vida, caminhando até o fim.
Maura Lopes Cançado foi ao crime para se livrar da dor das descargas elétricas que lhe atravessavam a cabeça e saiu do hospital para o hospício aprisionada na cela dolorosa
Contra Bishop
A arte de perder não é nenhum mistério. Será o quê? Contém em si o acidente e tantas coisas: perder só pode ser muito sério. Pois aceito as lágrimas, a chave perdida da minha vida, a hora austera gasta à toa.
A arte de perder é movida a sofrimento porque de morte é feita vagarosamente. Começa pelo dia que já vai indo, deixando para trás as coisas em si: momentos, nomes o relógio do meu pai me controlando.
A arte de perder como escreveu Ana C. é uma lenha, vai se queimando minuto a minuto e o seu mistério existe sim, sério e doloroso no fogo crepitante cada vez mais perto.
A arte de perder você na lembrança esquecendo, paulatino, a cor do seu vestido só não é muito séria para quem é fria e desmerece a dor desta paráfrase deturpada.
Virginia
Ouse. Ande, ainda dá pé apesar do corpo empedrado infiel consigo mesmo como todos são. Caminhe para o fundo e enfrente o arrependimento pois já é insuportável continuar assim pisando no chão firme e frio. Ouse e alguns dias depois terá chegado na vazante na foz sem vozes livre da corrente – partida.