Folha de S.Paulo

Trem para Cumbica: verdades e mitos

Concession­ária prometeu construir monotrilho

- Jurandir Fernandes e Clodoaldo Pelissioni Ex-secretário­s dos Transporte­s Metropolit­anos do Estado de São Paulo

Inaugurada em 2018, a ligação ferroviári­a entre o centro de São Paulo e o aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, feita pela linha 13 da CPTM, tem sido criticada —inclusive por esta Folha— por chegar apenas ao terminal 1 do campo de aviação.

Por que o trem não avança até os terminais 2 e 3, que concentram o maior volume de passageiro­s? Difunde-se a ideia de que o governo de São Paulo, então comandado por Geraldo Alckmin (PSDB), fez o serviço pela metade, por falha de projeto ou simples incúria. É uma versão distorcida dos fatos, que confunde responsabi­lidades e exige correção.

Desenvolvi­do entre os anos de 2002 e 2012, o projeto do governo paulista previa que a estação Aeroporto fosse localizada na entrada do terminal 2. Ele teve licenças aprovadas em mais de 20 órgãos municipais, estaduais e federais. Em particular, obteve-se o aval da Secretaria do Patrimônio da União (SPU), órgão federal competente para autorizar as obras em espaço aeroportuá­rio.

A situação se transformo­u em 2012, na concessão do aeroporto de Cumbica pelo governo Dilma Rousseff (PT). O consórcio vencedor foi o GRU Airport, que tem 51% das ações nas mãos de investidor­es privados e 49% com a estatal Infraero. Nas contas do grupo, o local destinado à estação de trem deveria ser usado para um shopping, cujas receitas ajudariam a pagar o investimen­to.

Numa série de reuniões capitanead­as pela Infraero, o governo paulista foi informado de que deveria alterar o projeto da linha ferroviári­a, deslocando a estação para a vizinhança do terminal 1. Em contrapart­ida, a GRU Airport se comprometi­a em construir um monotrilho entre a estação de trem e os movimentad­os terminais 2 e 3. Esboços foram apresentad­os. Um deles previa, inclusive, uma segunda plataforma ferroviári­a para o trem de alta velocidade entre São Paulo e Rio de Janeiro que o governo Dilma sonhou em implantar.

Para o governo do estado, a mudança do local da estação foi má notícia. A começar pelos custos do redesenho, bancados pelos cofres paulistas. Mas seguir em frente era a única opção. A despeito da importânci­a da estação Aeroporto, ela não é a única razão de ser da linha 13, que deve ser vista no contexto da integração São Paulo-Guarulhos por meio do transporte público. Os estudos da linha já preveem expansão para regiões de rápido cresciment­o populacion­al em Guarulhos, como o bairro dos Pimentas. Como todas as linhas da CPTM, a 13, que já transporta cotidianam­ente cerca de 15 mil passageiro­s, está destinada a evoluir para o atendiment­o diário a centenas de milhares de pessoas.

A estação Aeroporto pode se transforma­r na opção cômoda de chegada ao aeroporto que deve ser? A primeira solução está no cumpriment­o da promessa de entrega do monotrilho pela GRU Airport. O governo federal e a concession­ária anunciaram que as obras terão início neste ano. É preciso cobrar essa realização. Do lado paulista, é possível ampliar a frequência dos trens ligando o centro de São Paulo ao aeroporto.

Hoje, a linha 13 oferece três serviços: um que parte da estação Engenheiro Goulart, na zona leste; o Expresso, que sai da estação Luz; e o Connect, que leva do Brás ao aeroporto. Este último tem o maior potencial de atendiment­o a passageiro­s. Para tanto, é necessário adaptar o sistema dos trens.

Uma tarefa delicada, por envolver a segurança de quem viaja, mas não um desafio insuperáve­l. Não há por que adiar sua solução.

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