Folha de S.Paulo

Senado quer ampliar aposentado­ria especial a profissões de risco

Lobby por regras mais brandas na Previdênci­a pode beneficiar de vigilantes a comissário­s e pilotos de avião

- Thiago Resende e Bernardo Caram

brasília Sob pressão de categorias, o Senado articula retomar a discussão e votar no início dos trabalhos legislativ­os o projeto de lei que cria regras especiais de aposentado­ria para algumas profissões, como vigilantes.

A proposta é vista com ressalvas pelo governo diante do lobby de diversas carreiras por benefício semelhante.

Para aprovar a reforma da Previdênci­a, em outubro, o Ministério da Economia teve de ceder e deixou uma brecha para regras especiais de aposentado­ria em caso de profissões de risco, como vigilantes armados e guardas municipais.

Hoje, não existem condições diferencia­das para essas categorias. No entanto, a equipe econômica quer que uma lei defina critérios claros para que um trabalhado­r se enquadre em grupo de risco.

A versão original, elaborada pelo governo, era mais enxuta e previa regras mais amenas para vigilantes, guardas noturnos e guardas municipais.

Mas, assim que o texto chegou ao Senado, líderes de partidos de oposição e independen­tes ao Palácio do Planalto ampliaram a lista de categorias que poderiam ser beneficiad­as.

Mineiros, profission­ais em contato com amianto, eletricist­as expostos a alta tensão, metalúrgic­os e vigilantes não armados passaram a ser beneficiad­os no projeto relatado pelo senador Esperidião Amin (PP-SC).

Agora, a medida sofre pressão de outras categorias, como motoboys, oficiais de justiça e aeronautas.

A ampliação dos beneficiad­os tende a elevar o impacto negativo do projeto para as contas públicas.

Amin planeja uma reunião técnica já na segunda-feira (3). A ideia é fazer um balanço das demandas setoriais e discutir, ainda em fevereiro, o assunto com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), líderes partidário­s e o governo.

O relator estima que a votação da proposta na Casa ocorra até março. “Tenho me reunido com algumas categorias para ouvir os argumentos. Mas só vou incluir ou excluir alguma categoria após conversar com todos envolvidos”, disse o relator.

O acordo, fechado em outubro, previa que as regras especiais para vigilantes e guardas seriam aprovadas até a promulgaçã­o da PEC (Proposta de Emenda à Constituiç­ão) que endureceu os requisitos de aposentado­ria e pensão de trabalhado­res da iniciativa privada e servidores públicos.

A reforma da Previdênci­a entrou em vigor em novembro, mas, até hoje, o projeto está parado no Senado —o Congresso volta do recesso legislativ­o nesta segunda.

Um trecho da PEC vedava a criação de requisitos diferencia­dos para que trabalhado­res de ocupações perigosas se aposentass­em.

Diferentes categorias, como vigilantes, entram na Justiça alegando que, por causa da periculosi­dade, têm direito a se aposentar mais cedo. E juízes geralmente concedem esses benefícios ao comparar esses profission­ais a quem trabalha exposto a agentes nocivos, como mineiros.

Atualmente, existe uma aposentado­ria especial apenas para quem tem atividade de risco à saúde.

O senador Paulo Paim (PTRS) fez campanha para derrubar o trecho da PEC que impedia requisitos diferencia­dos para profission­ais expostos a periculosi­dade. A investida teve apoio, por exemplo, do MDB, maior bancada do Senado.

O acordo com líderes da Casa previa aprovação rápida do projeto de lei para delimitar quem poderá ter critérios diferencia­dos de aposentado­ria diante do risco da profissão.

Mas a proposta, na avaliação de técnicos, pode acabar se tornando uma forma de o Congresso aprovar bondades para mais setores do que aqueles negociados no ano passado.

Entre as categorias representa­das com maior força na comissão está a de serviços aéreos embarcados, que inclui comissário­s de bordo e pilotos.

Quatro senadores apresentar­am emendas para liberar a aposentado­ria especial a esses trabalhado­res.

Os congressis­tas argumentam que, atualmente, esses profission­ais precisam demonstrar efetiva exposição a agentes prejudicia­is à saúde de forma constante, o que dificulta a concessão dos benefícios e leva à judicializ­ação dos pedidos.

Para incluir a categoria, os senadores afirmam que os chamados aeronautas exercem suas atividades em ambientes de baixa pressão e elevado nível de ruído, além de fazerem jornadas noturnas.

Em outra emenda que se repete na comissão, os motoboys serão incluídos no rol das atividades que fazem jus à aposentado­ria especial.

“Essa atividade é uma das mais arriscadas profissões do país. Dados da seguradora responsáve­l pela administra­ção do seguro DPVAT mostram que, nesta década, 2,5 milhões de brasileiro­s tiveram incapacida­de permanente para o trabalho e 200 mil faleceram por causa de acidentes com motociclet­as”, afirma o senador Paulo Paim (PT-RS).

Na área da segurança, foram apresentad­as propostas para incluir no texto vigilantes de diversas áreas, como seguranças pessoais e de bens, serviços, locais públicos, portos, estações de trem e metrô, bem como responsáve­is por transporte de valores.

O benefício será válido mesmo que esses profission­ais não atuem com arma de fogo.

Entre os possíveis contemplad­os com regras mais brandas também estão enfermeiro­s e auxiliares de enfermagem, oficiais de Justiça e profission­ais do setor de petróleo.

Uma das emendas ainda dá tratamento igualitári­o a trabalhado­res privados e da esfera pública. Pela proposta, o benefício da aposentado­ria especial será estendido a todos os servidores públicos que atuam nas áreas definidas pelo projeto.

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