Empresárias entram de vez no setor de reparos domésticos
Público feminino impulsiona o crescimento dos serviços de manutenção feitos por mulheres
são paulo Empresas de manutenção residencial com mão de obra feminina viram sua demanda crescer nos últimos anos. Com um cardápio amplo serviços, que vão desde pintura a instalações elétricas, esses negócios têm como principal público as próprias mulheres.
“Quem mora sozinha às vezes não se sente à vontade em receber um profissional homem em casa”, diz Renata Malheiros, especialista em empreendedorismo feminino do Sebrae. Com isso, abrem-se oportunidades para que mulheres entrem nesse mercado mais masculino, afirma ela.
Sem a intenção de atender especialmente o público feminino, a técnica em edificações Priscila Vaiciunas, 34, criou a Manas à Obra em 2015. Desempregada à época, ela foi motivada pela sogra, que tinha assistido a uma reportagem sobre o crescimento do setor de reparos domésticos.
Com o negócio já aberto, Priscila percebeu que a maior demanda pelo serviço vinha de mulheres. Hoje, ela também treina uma equipe feminina com o intuito de expandir a empresa.
O investimento para começar esse tipo de negócio, em geral, é baixo. A técnica em mecânica Isis Pioneli, 29, atendeu suas primeiras clientes usando ferramentas emprestadas por parentes. Depois que o número de serviços aumentou, ela comprou seus próprios equipamentos.
Isis fazia de dois a três consertos por semana quando fundou a Ela Repara, em 2016, no Rio de Janeiro. Hoje, realiza, em média, quatro por dia.
O setor de manutenção residencial é um dos ramos que devem crescer em 2020, de acordo com uma pesquisa realizada pelo Sebrae.
A consultora Renata Malheiros ressalta que a possibilidade de expansão de negócios comandados por mulheres é ainda maior, porque as empreendedoras têm uma preocupação extra em relação à profissionalização.
Uma outra pesquisa do Sebrae aponta que as mulheres são 16% mais escolarizadas que os homens na área de empreendedorismo.
Além disso, a especialista afirma que as profissionais, em geral, se preocupam mais em não serem invasivas nos atendimentos e buscam agir de maneira mais transparente ao explicar sobre a necessidade de cada reparo.
“As pessoas muitas vezes pagam mais caro por serviços que entregam isso, e as mulheres podem sair na frente.”
A forma com que a manutenção é cobrada varia entre as empresas. A Manas à Obra, por exemplo, trabalha com pacotes de serviço. Um deles oferece até quatro instalações simples por R$ 150.
Já a Mana Manutenção cobra por tipo de reparo. Aberto em 2015, em São Paulo, o negócio começou com duas sócias e hoje tem uma equipe com sete funcionárias.
Como a velocidade de execução do trabalho muda de profissional para profissional, as sócias padronizaram os valores dos consertos. Para arrumar um chuveiro, cobram de R$ 90 a R$ 120, dependendo do modelo.
Hoje, também oferecem cursos a iniciantes. A demanda pelos workshops surgiu durante os atendimentos, diz a arquiteta Katherine Pavloski, 31, uma das donas.
Isso porque, segundo ela, uma das premissas da empresa é explicar o processo de reparo para as clientes — que, então, passaram a perceber que poderiam realizar alguns deles por conta própria.
Outra empresa que percebeu a necessidade de explicar o passo a passo dos consertos é a Infopreta, uma assistência técnica de aparelhos eletrônicos localizada em São Paulo.
O empreendedor Akin Abaz, 25, começou a prestar esses serviços em 2013 quando percebeu que muitas mulheres se queixavam da falta de transparência ao levarem seus equipamentos para reparos.
No início, o trabalho era feito no quarto de seus pais. Hoje, a companhia tem sede em Pinheiros, na zona oeste da capita paulista.
Além dele, que é um homem transexual, também estão à frente do negócio Mônica Sousa, 28, e Danielle Esli, 22.
“Aqui, a gente explica o processo de reparo e fideliza pela qualidade”, afirma Akin.
Ele diz que uma de suas clientes gastou R$ 500 em um primeiro reparo em um computador. Ao procurar a Infopreta, descobriu que o prestador de serviço anterior só havia colocado um plástico bolha no aparelho, sem resolver o problema.
Em 2017, o trio realizava até trinta manutenções por mês, hoje são cerca de 120. A empresa também faz consultoria tecnológica e projetos sociais, com capacitação para pessoas que querem atuar na área.
Akin afirma que o número de homens entre o público aumentou nos últimos anos, mas que as mulheres ainda são cerca de 95% dos clientes.
Cecília Bona, 40, que toca a empresa Dona Conserta com Denise Caixeta, 26, em Brasília, afirma que há uma grande procura do público LGBT por seus serviços. O fenômeno também acontece na Infopreta, conta o diretor.
Na Dona Conserta, há também alguns homens entre os clientes, que chegam até elas normalmente por indicação de mulheres que conhecem seus serviços.
“Da mesma forma que elas não são estimuladas a fazer esse tipo de trabalho, os homens também não tem a obrigação de fazê-lo. Tirar essa imagem de que é algo masculino é importante”, afirma Cecília.
As sócias se juntaram no fim do ano passado e atendem em período integral. Formada em desenho industrial, Cecília deixou seus outros trabalhos e vive só da renda da empresa —assim como Denise.
A Dona Conserta conta com mais duas funcionárias. Segundo Cecília, a demanda por trabalho vem aumentando nos últimos meses. Um dos problemas enfrentados na expansão é a dificuldade para encontrar mão de obra feminina. A solução que as empresas têm adotado é investir em treinamentos.
“As pessoas muitas vezes pagam mais caro por consertos feitos com transparência, e as mulheres podem sair na frente nisso Renata Malheiros consultora do Sebrae