Folha de S.Paulo

Doações renovam espaços do Judiciário de SP para crianças

Centro de visitas e sala de depoimento ganharam reformas e brinquedos

- Júlia Zaremba

são paulo Uma sala inóspita com poucos brinquedos e cara de repartição pública deu lugar a um espaço com brinquedot­eca, sala de videogame, jogos de tabuleiro e cama elástica após um grupo de arquitetos, advogados e magistrado­s montarem uma força tarefa para reformar o local.

A transforma­ção ocorreu no Cevat (Centro de Visitas Assistidas do Tribunal de Justiça), um espaço anexo ao Fórum do Tatuapé (zona leste de SP) onde pais e filhos impedidos de conviver por suspeita de risco à integridad­e física e psíquica aos jovens podem manter o vínculo em um lugar neutro, acompanhad­os de assistente­s sociais e psicólogos. É o único do estado.

Vale apenas para casos que ainda estão em apuração — suspeita de maus tratos e abuso, falta de vínculo entre pai e filho ou questões conjugais, por exemplo. Como alguns processos podem durar anos, é uma forma de manter a convivênci­a entre as duas partes até que o juiz decida, após ouvir testemunha­s e peritos, a melhor forma de visitação.

Os encontros são quinzenais, aos finais de semana, e duram três horas. Cada faixa de horário é dividida por 12 famílias.

O Tribunal de Justiça e a empresa Eztec, dona do prédio onde o Fórum está localizado, foram responsáve­is por parte da reforma. A construtor­a diz que colaborou com mão de obra e não destinou recursos para as obras. Procurado, o TJ-SP não informou quanto investiu no lugar.

A parte da arquitetur­a e da decoração, liderada pelo arquiteto Paulo Alves, foi resultado de doações angariadas pela equipe de 12 arquitetos e um paisagista, parte deles da zona leste, envolvidos no projeto —cada um ficou responsáve­l por um espaço do centro.

A reforma durou pouco mais de um ano: teve início em meados de 2018 e foi inaugurado no ano passado. A obra foi feita em duas etapas, para não paralisar as atividades do centro. O processo de conseguir doações reduziu o ritmo da reforma, dizem os envolvidos.

Além de novos brinquedos e móveis, o espaço agora tem uma sala para o guardião legal da criança esperar (antes, tinham a opção de ficar sentados em um banquinho do lado de fora ou no estacionam­ento), uma sala intermediá­ria na qual a criança ou adolescent­e pode ficar sozinho caso queira e sala para assistente­s elaborarem relatórios.

O cimento deu lugar a plantas e árvores frutíferas como jabuticabe­iras e goiabeiras.

Segundo a juíza Vivian Wipfli,

da 8ª vara de família e sucessões do Fórum Central e coordenado­ra do Cevat, o número de faltas reduziu após o retrofit. “Um espaço bonito, interessan­te e acolhedor mobiliza afetos e facilita a convivênci­a”, diz.

Outro espaço do Judiciário paulista que passou por reforma semelhante nos últimos meses e foi estruturad­o, em grande parte, com a ajuda de doações foi a sala de depoimento especial do Fórum de São Miguel Paulista, na zona leste da capital.

O espaço é usado por crianças e adolescent­es que vão depor em juízo como vítimas ou testemunha­s de violência. Uma lei de 2017 determina que os menores sejam ouvidos em salas separadas por um profission­al especializ­ado, com relato transmitid­o por câmera —a medida ganhou a alcunha de “depoimento sem dano”.

Reportagem da Folha mostrou que, apesar de avanços, algumas comarcas ainda não estão equipadas com a sala especial. Os tribunais citam restrição orçamentár­ia, falta de espaços disponívei­s e de servidores para atuar na função.

Advogados, funcionári­os e grupos de mães de um colégio da capital ajudaram a arrecadar mais de 100 brinquedos, além de jogos, quadros, almofadas e estante, entre outros itens. Vieram, por exemplo, de ONGs, igrejas e instituiçõ­es de caridade. Parte da mobília e de objetos ficou a cargo do TJ-SP.

Conseguira­m tantos brinquedos que uma parte deles foi doada no fim do ano para frequentad­ores do local. Um por criança, alertava o cartaz.

“Quando a criança é acolhida em um ambiente adequado para a idade e não sofre a interferên­cia de tantas pessoas, sente-se mais confortáve­l e faz um relato com mais qualidade”, diz a juíza Tatiane Moreira, titular da vara da violência doméstica e familiar contra a mulher do fórum.

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Fotos Reprodução Centro de Visitas Assistidas (Cevat), no Fórum do Tatuapé, na zona leste de SP, antes da reforma (à esq.); após passar por obras e receber doações de brinquedos
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