Folha de S.Paulo

E quase não teve jogo!

Com tempo bom em Itaquera, o Santos, desfalcado, não foi páreo para o Corinthian­s

- Juca Kfouri Jornalista e autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP

O futebol, como sabem a rara leitora e o raro leitor, é um jogo de 90 minutos. Com os acréscimos, em regra, de 96, 97, às vezes cem.

Para sorte de quem estava na Arena Corinthian­s, principalm­ente dos jogadores, o sol não deu o ar de sua graça e a temperatur­a permitiu jogo intenso desde o começo.

A tal ponto que o Corinthian­s quase abriu o placar em 20 segundos e fez 1 a 0 aos 90, graças a Victor Cantillo numa virada de jogo brilhante da esquerda para Fagner, pela direita, e o cruzamento aproveitad­o por Everaldo.

Então, foram mais 45 minutos e trinta segundos apenas alvinegros, não considerad­o o fato de o Santos também estar de preto. Só deu Corinthian­s, que parecia continuar o animador segundo tempo que havia jogado em Campinas, com a entrada de Cantillo.

O Santos até ameaçou voltar mais agressivo para os 45 minutos finais, que foram 50.

Ao começar com tudo o segundo tempo, deu espaço, e Boselli botou Janderson na cara do gol para fazer 2 a 0, aos cem segundos. Entusiasma­do, o garoto comemorou com a Fiel e acabou expulso porque já tinha cartão amarelo.

Não bastasse a torcida única, e foram mais de 40 mil corintiano­s, é proibido comemorar com a massa.

Daí, se na primeira metade só um time jogou, na segunda o jogo acabou de vez, porque, naturalmen­te, o Corinthian­s tratou de administra­r a vantagem, contra um Santos sem saída pelos lados, dadas as ausências de Soteldo e Marinho, e do criativo Carlos Sánchez.

Impotentes, os visitantes não conseguira­m machucar a defesa anfitriã e ainda quase sofreram o terceiro gol, evitado pelo goleiro Éverson. Cássio quase não trabalhou.

Não havia sol, não choveu e o Corinthian­s fez dois gols relâmpagos para incendiar Itaquera.

Se o Corinthian­s repetir a atuação na quarta (5), contra o Guaraní paraguaio, não terá dificuldad­e em dar o primeiro passo para chegar à fase de grupos da Libertador­es.

Condições para tanto estão garantidas com a saudável decisão da Conmebol de marcar o jogo para o estádio do Cerro Porteño, o La Nueva Olla, para 45 mil torcedores, em vez de ser no campinho para 11 mil em que o Guaraní recebeu os bolivianos do San José.

Vale música

Os 4 a 0 impostos pelo Liverpool ao Southampto­n no segundo tempo, depois de ter sofrido muito no primeiro, no sábado (1º), merece que Paul MacCartney componha, enfim, uma canção para os Reds. E acabe com a polêmica sobre seu time de coração que, se um dia foi o Everton, hoje só pode ser o Liverpool, tantos são os recitais dos campeões mundiais.

Bola plana

Bate uma certa tristeza quando, por exemplo, chorar a morte de Kobe Bryant é criticado porque em Belo Horizonte morreram mais pessoas.

Ou quando se comover com as homenagens feitas nos EUA a um dos maiores ídolos do esporte mundial rende comentário­s sobre as mortes que o governo norte-americano promove mundo afora.

Será que cabe mesmo comparar?

Do mesmo modo, embora sem a mesma insensibil­idade, apenas com a mesma ignorância, é triste ver que, quando se diz ser desumano fazer atletas jogar futebol sob o sol do meio-dia, alguém diz que desumano é morar embaixo do viaduto ou que jogos de tênis sob sol levam quatro horas.

Outra vez, compara-se laranja com avestruz.

Por que há pessoas que fazem questão de se revelar tão cruas? Não poderiam, ao menos, guardar para si?

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