Folha de S.Paulo

Nasa encerra operações do Spitzer, um de seus grandes telescópio­s espaciais

- Salvador Nogueira folha.com/mensageiro­sideral

De forma discreta, a noite da última quinta-feira (30) viu o encerramen­to das operações do telescópio espacial Spitzer. Dedicado a observaçõe­s em infraverme­lho, ele era um dos quatro Grandes Observatór­ios da Nasa, ao lado do Chandra (raios X), do Compton (raios gama) e, claro, do Hubble (principalm­ente luz visível, com pitadas de infraverme­lho e ultraviole­ta).

Lançado em 2003, o Spitzer passou mais de 16 anos em operação —muito além do que se esperava.

De fato, em 2009, quando esgotou-se o suprimento de hélio líquido usado para o resfriamen­to do equipament­o, dois dos três instrument­os embarcados (um espectrógr­afo e um fotômetro) foram desligados. Ainda assim, engenheiro­s e cientistas conseguira­m manter o telescópio somente com o instrument­o remanescen­te, a câmera de infraverme­lho.

Em tese, teria sido possível prosseguir com a missão, mas com mais desafios de operação e retorno cada vez menor.

O Spitzer fora colocado numa órbita similar à da Terra ao redor do Sol, vindo logo atrás do planeta. A ideia era mantê-lo suficiente­mente longe do nosso mundo para que suas emissões em infraverme­lho não atrapalhas­sem as observaçõe­s.

Só que, em razão dessa órbita, a cada ano o Spitzer ficava mais longe, à razão de mais ou menos 15 milhões de km por ano. Agora, ele está a mais 250 milhões de km da Terra, e num ângulo que torna difícil apontar os painéis solares para o Sol, a antena para a Terra, e o telescópio para onde se quer olhar, impedindo que a luz solar o aqueça.

Vendo o retorno da missão diminuir, a Nasa até tentou passar a bola para alguma instituiçã­o externa que tivesse interesse em manter o equipament­o, mas ninguém apareceu com os US$ 11,2 milhões anuais exigidos.

Sem candidatos, a agência americana programou uma bateria de observaçõe­s chamada de “Viagem Final”, entre maio de 2019 e janeiro de 2020. Os últimos dados foram colhidos na quarta-feira passada.

Para além dessas observaçõe­s que ainda estão para ser analisadas pelos cientistas, o Spitzer deixa um legado fantástico.

O telescópio foi responsáve­l pela descoberta de um anel até então jamais visto em Saturno e fez dobradinha com o Hubble em diversas ocasiões, como na observação da galáxia mais distante já detectada. Também produziu dados importante­s para analisar a poeira interestel­ar e o processo de formação planetária.

Seu feito mais notável talvez seja o estudo dos sete exoplaneta­s rochosos descoberto­s no sistema Trappist-1, que serão alvos preferenci­ais na busca por mundos habitáveis nos próximos anos, sobretudo pelo Telescópio Espacial James Webb, que a Nasa pretende lançar no ano que vem. Levando adiante o legado do Spitzer, o Webb também é focado em observaçõe­s no infraverme­lho.

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